Realizadores portugueses acusam Durão Barroso de trair compromisso europeu

Associação Portuguesa de Realizadores reage às declarações do presidente da Comissão Europeia, que apelidou aqueles que lutam pela manutenção da excepção cultural de "reaccionários"

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As declarações de Durão geraram protestos em vários sectores Carla Carvalho Tomás

Em comunicado enviado à agência Lusa, a associação manifestou-se perplexa com as declarações de Durão Barroso, que na terça-feira acusou França - e os signatários da petição “A excepção cultural não é negociável” - de ser “reaccionária”, por exigir a exclusão do sector audiovisual e cultural europeu das negociações para um acordo de comércio livre com os Estados Unidos.

Em entrevista na segunda-feira ao International Herald Tribune, o presidente da Comissão Europeia assegurou que acredita na protecção da diversidade cultural, mas rejeita isolar a Europa.“Alguns dizem que são de esquerda, mas na verdade são culturalmente extremamente reaccionários”, disse.

No entender dos realizadores portugueses, Durão Barroso “estava mandatado pelos Estados-membros para defender as posições negociais da Europa”. “Ao desvalorizar uma posição assumida como parti pris nesta negociação, não foi apenas insensato ao fragilizar a posição europeua nessa negociação, como também traiu o compromisso que tinha com os Estados-membros, designadamente com a França”.

“Sabemos que começar por renegar as especificidades de um modelo político e cultural europeu, bem consagrado no Programa Media da União Europeia, parece-nos um retrocesso civilizacional que o dinheiro não pode nem deve comprar”, reafirmou a APR. A posição da APR é também apoiada por produtores como Luís Urbano, António da Cunha Telles, Paulo Branco, Pedro Borges e Fernando Vendrell, João Figueiras, Leonel Vieira, José Carlos Oliveira.

As declarações de Durão Barroso causaram mal estar não só em França - com o Presidente François Holland a manifestar-se “incrédulo” -, mas também em Bruxelas, com o comissário europeu para o Mercado Interno e Serviços, o francês Michel Barnier, a demarcar-se da posição do político português.

Em causa está um pedido de protecção do cinema e audiovisual europeu, para que fique de fora das negociações do acordo de livre comércio entre União Europeia e EUA e não seja considerado como qualquer outro produto face à posição dos norte-americanos este sector. A primeira ronda de negociações do acordo de livre comércio entre União Europeia e EUA terá lugar em Julho em Washington, foi anunciado na segunda-feira.