Pedro Campos Costa e Trienal de Arquitectura colaboram na representação nacional da Bienal de Veneza
Presença portuguesa na 14.ª edição do evento contará com financiamento público de 100 mil euros, um terço do que foi entregue em 2012.
O anúncio foi feito nesta terça-feira pelo director-geral das Artes, Samuel Rego, que acrescentou que a fatia de financiamento público para esta representação em Veneza é de 100 mil euros, um terço do valor disponibilizado na última edição. O responsável admitiu que trabalhar com estes valores é um desafio, "uma situação inédita no século XXI". "É um valor que assusta pela sua não grandeza", disse Samuel Rego. “Mais fácil seria recusar a realidade”, comentou ainda, justificando assim a escolha de Pedro Campos Costa, mas também da parceria com a Trienal de Arquitectura de Lisboa, representada pelo arquitecto José Mateus, como captadores de parcerias e de contributos do mecenato. Pedro Campos Costa, professor no departamento de Arquitectura da Universidade Autónoma de Lisboa, distinguido com o prémio 40 Under 40 Europe's Emerging Young Architects and Designers em 2012, é autor, entre outras obras, do projecto de extensão do Oceanário de Lisboa.
"O que é fundamental é que a arquitectura portuguesa participe neste evento", concorda José Mateus, "o palco ideal para a projecção internacional da arquitectura" nacional, completa Samuel Rego. José Mateus disse ainda ao PÚBLICO que tanto a Trienal quanto o comissário Campos Costa trabalharão na procura de "parcerias, apoios mecenáticos, de mais recursos, e, progressivamente, há-de consolidar-se numa ideia muito competente". A colaboração da Trienal com a Direcção-Geral das Artes resulta de "um protocolo para o ano de 2014", precisou Samuel Rego ao PÚBLICO quando questionado sobre se esta parceria poderia prolongar-se para além da próxima edição da bienal. O director-geral das Artes diz: "Seria irresponsável assumir compromissos para além de 2014, não pela minha situação [Samuel Rego está de saída do cargo no âmbito dos novos concursos para dirigentes da administração pública] mas porque não sabemos os temas, por exemplo, para 2015/2016", explica.
José Mateus, que viu a Trienal ser reconhecida com o estatuto de utilidade pública no início de Novembro, admite que "há um interesse da Trienal" no estabelecer de uma ligação mais duradoura "porque a organização de eventos deste tipo é o que fazemos". "Parece-me um recurso natural", acrescenta. "Estamos abertos a isso, mesmo quando o enquadramento é de grande complexidade", como na actual edição e seu orçamento.
Tal como no passado, a representação portuguesa não terá um pavilhão. E ainda não há um espaço definido. "Não nos assusta", diz Samuel Rego, "pela experiência que temos", disse, referindo-se ao cacilheiro Trafaria Praia, de Joana Vasconcelos, que representou Portugal na última Bienal de Artes Plásticas de Veneza, que terminou há dias, ou à exposição Lisbon Ground, comissariada por Inês Lobo e que marcou a presença portuguesa na edição de 2012 da Bienal de Arquitectura com espaço na Fondaco Marcello.
Homeland – less Housing more Home é o tema geral desenhado pelo arquitecto Pedro Campos Costa, que trabalhará com a Trienal de Arquitectura (cuja edição Close, Closer termina a 15 de Dezembro) que surge neste projecto como produtora, mas também como consultora. Numa resposta ao tema lançado por Koolhaas, que definiu que esta será "uma bienal sobre arquitectura e não sobre arquitectos", Campos Costa trabalhará o tema da habitação – "elemento fundamental das cidades e da arquitectura" – a dois níveis.
O primeiro deles será um inventário, um mapeamento das dimensões e tipologias que a habitação tem hoje, em 2013, em Portugal, explicou o comissário em conferência de imprensa. Será "um mapeamento transversal, não só das melhores casas", mas "um scan transversal ao país", resume Pedro Campos Costa. O objectivo é partir dos seus resultados para "constituir o fundamento da reflexão sobre a modernidade, as transformações e influências sobre as tipologias habitacionais do presente em Portugal", diz a DGArtes em comunicado. Esse levantamento contará com o contributo de instituições académicas e centros de investigação, como o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), precisou o comissário, e terá também a participação de 12 arquitectos através de um concurso cujos regulamentos devem ser lançados em breve.
Em complemento do título sobre os Fundamentos da arquitectura, Rem Koolhaas sugeriu um tema aos pavilhões dos vários países participantes nesta 14.ª bienal: Absorbing Modernity: 1914-2014, para "gerar uma visão global da evolução da arquitectura rumo a uma única estética moderna", mas ao mesmo tempo dar a conhecer "a sobrevivência de características únicas nacionais e de mentalidades que continuam a existir". Pedro Campos Costa considera que este mapeamento responde em parte a esse desafio do responsável da bienal.
O outro momento da participação portuguesa sobre a habitação, sobre a Homeland (pátria, em inglês, mas também pode significar lar, terra ou país), será uma reflexão crítica sobre seis declinações tipológicas do tema da habitação – "temporária, informal, unifamiliar, colectiva, rural e reabilitação" – por seis arquitectos portugueses ainda a seleccionar. Pedro Campos Costa sublinha que esses profissionais portugueses não serão escolhidos pela "quantidade, nem qualidade" do seu trabalho na produção de habitação, mas sim pela "pertinência do tema" na obra de cada um deles. Frisa a mensagem por trás do título Fundamentals que conduzirá toda a bienal e com que está "totalmente de acordo": "empurrar os pavilhões nacionais mais para a investigação, [para falarem] sobre o que é realmente a arquitectura - e não sobre as personalidades".