O Louvre pode continuar a ser líder, diz o presidente do museu, já de malas feitas
Henri Loyrette deixa a presidência do museu de Paris, o mais visitado do mundo, depois de 12 anos de trabalho intenso. Diz-se "feliz" porque o museu está de "boa saúde", tem "equipas notáveis" e um público rejuvenescido.
Loyrette está a 20 dias de cessar funções como presidente do Museu do Louvre, cargo que ocupou nos últimos 12 anos, e é por isso que se tem desdobrado em entrevistas breves aos jornalistas franceses. Na sexta, dia em que se encontrou com o Presidente François Hollande, falara já com o diário Le Monde. Será o chefe de Estado francês e a sua ministra da Cultura, Aurélie Filippetti, a escolher o sucessor de Loyrette.
O museu, diz à AFP, precisa agora de “encontrar soluções inovadoras para fazer face às restrições orçamentais”, sem deixar de “permanecer aberto ao mundo”.
O Louvre continua a ser o museu mais visitado do mundo – quase 10 milhões de pessoas no ano passado – e é por isso que o seu presidente usa o verbo “irradiar”, como se de um farol se tratasse, quando diz que espera que se mantenha líder. No topo dos desafios que deixa ao seu sucessor, o historiador de 60 anos coloca o de garantir que o Louvre não se deixe “engolir” pela crise e por políticas desajustadas, para se transformar naquilo que conheceu na sua infância, um espaço fechado sobre si mesmo. O Museu do Louvre,
“É importante que o Estado, a partir do momento que beneficia de um museu com tal projecção internacional, não se desfaça do que tem em mãos. […] O Louvre deve ir sempre à frente”, continua Loyrette, defendendo, depois do encontro com Hollande, que o Presidente parece disposto a sustentar esta ambição de liderança permanente. “É um homem que compreende o papel dos museus, da cultura, como instrumento de promoção do país.”
Na corrida ao lugar de Loyrette, que desde logo se mostrou indisponível para mais uma comissão de serviço à frente do museu, restam, segundo a imprensa francesa, três candidatos: Sylvie Ramond, directora do Museu de Belas-Artes de Lyon; Laurent Le Bon, director do Centro Pompidou-Metz, a extensão do museu de arte moderna de Paris em Metz; e Jean-Luc Martinez, director do departamento de antiguidades gregas e romanas do Louvre. Ao que tudo indica, é o homem da casa o favorito, mas caberá a Hollande e a Filippetti a palavra final.
Durante a passagem de Henri Loyrette pela presidência da instituição, o museu viu crescer o seu público e o espaço expositivo, com a inauguração da nova ala islâmica e de uma extensão em Lens.
“Doze anos é muito tempo”, disse o ainda presidente aos jornalistas do Monde que lhe perguntaram por que razão não quis permanecer no cargo. “Sempre defendi a renovação dos dirigentes, o que não acontece em França”, reconhecendo que foram os projectos de arte islâmica e do Louvre-Lens que mais gozo lhe deram durante este período.
Na mesma entrevista ao diário francês, Loyrette respondeu a críticas de “comercialização” da colecção – em causa o empréstimo de 185 obras ao High Museum de Atlanta em 2007 e 2008, que rendeu ao Louvre cinco milhões de euros – e reconheceu que o seu maior orgulho em 12 anos de trabalho foi ter conseguido rejuvenescer o público. O que ficou por fazer? Loyrette lamenta apenas não ter chegado a inaugurar o pólo do Louvre em Abu Dhabi, cuja abertura está prevista para o início de 2016, e não ter conseguido construir um grande espaço para as reservas do museu, eternamente ameaçadas pelas cheias do Sena, que esteve previsto para Cergy-Pontoise, uma pequena cidade a noroeste de Paris.
Já de malas feitas, Loyrette deixa ao seu sucessor uma prioridade: fazer obras nas galerias de antiguidades gregas, etruscas e romanas, e nas salas dedicadas a Bizâncio e aos cristãos do Oriente.