Morreu Ravi Shankar, mestre da sitar

Músico e compositor indiano, de 92 anos, sofria de problemas respiratórios e cardíacos. Há uma semana foi operado nos EUA, onde vivia.

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Shankar influenciou músicos como os Beatles Lawrence K. Ho/Los Angeles Times/MCT

A morte de Shankar foi confirmada pela família e pela fundação baptizada com o nome do músico. Os familiares relataram que o mestre da sitar se submeteu a uma cirurgia para substituir uma válvula cardíaca na quinta-feira da semana passada, mas nem assim o estado de saúde melhorou.

"Infelizmente, apesar dos esforços dos cirurgiões e dos médicos que cuidaram dele, o corpo [de Ravi Shankar] não suportou o esforço da operação. Estivemos ao lado dele quando morreu", descreveram a mulher Sukanya Rajan e a outra filha, Anoushka Shankar Wright, em declarações citadas pela Reuters.

Na Índia, o primeiro-ministro comentou via Twitter a morte desta figura lendária da música. Lamentou "o desaparecimento de um tesouro nacional" e de um embaixador global da cultura indiana e garantiu que toda a nação está unida numa homenagem ao "talento insuperável, à arte e humildade" do músico.

A última vez que subiu ao palco foi a 4 de Novembro, em Long Beach, Califórnia. Na véspera de se submeter à cirurgia foi nomeado para mais um prémio Grammy, atribuídos pela indústria da música nos EUA, pelo álbum mais recente, The Living Room Sessions, Part 1.

Homem de múltiplos talentos, Shankar popularizou as sonoridades indianas em trabalhos que envolveram muitos outros músicos de reconhecimento global, entre os quais o violinista Yehudi Menuhin. Foi ele quem inspirou George Harrison, dos Beatles, a aprender a tocar sitar, levando a banda inglesa a gravar Norwegian Wood (1965) e Within You, Without You (1967).

Subiu ao palco de Woodstock e Monterey, dois míticos festivais, no fim da década de 1960, e escreveu a banda sonora do filme Gandhi, nomeado para os Óscares em 1982. Produziu também teatro, assinou diversos livros e chegou a exercer funções na câmara alta do Parlamento indiano, entre 1986 e 1992.

Tudo começou, porém, na dança. Natural de Varanasi, a cidade santa da Índia, Robindra Shankar, como foi baptizado, viveu na pobreza até aos cinco anos, altura em que se mudou para Paris com o irmão mais velho, que levou a família para França. Durante oito anos dançou na companhia fundada pelo irmão, e que se dedicava ao folclore e danças populares indianas.

Na década de 1930 mudou de rumo dentro das artes. Em 1936 começou a estudar sitar sob a direcção de Ustad Allauddin Khan, e pouco depois começou a fazer digressões pela Europa e Estados Unidos. Em 1966 conheceu George Harrison, de quem foi professor, um encontro que mudou a sua carreira e, pela visibilidade que alcançou, também a relação entre música oriental e ocidental. O crescente interesse do Ocidente pelas "músicas não ocidentais" acabaria por originar a polémica designação "world music".

Em 1967 realizou o seu primeiro dueto com o violinista Yehudi Menuhin, com o qual viria a colaborar posteriormente por diversas vezes. Em 1969 acabou por viajar para os Estados Unidos, com a intenção de aprofundar o conhecimento da música ocidental e, ao mesmo tempo, de popularizar a música hindu. Dois anos mais tarde, a pedido da London Symphony, compôs para um espectáculo que estreou no Royal Festival Hall. 

Também se destacou como compositor, sendo autor de concertos para sitar e orquestra, além de música para dança e bandas sonoras de filmes. Protagonizou um filme centrado na sua vida, Raga, e em 1978 publicou o livro autobiográfico My Life, My Music.

Ao longo da vida foi agraciado pelo Estado britânico, pela França e pela Índia.

Notícia corrigida às 10h13: retirada a referência à cítara e substituída pela sitar