Martin Amis defende "cabines de eutanásia" e origina vaga de críticas

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Amis é acusado de usar o tema para promover o novo livro Daniel Rocha

Martin Amis é um indefectível agente provocador: depois de quezílias sobre o Islão, o autor de "Cão Amarelo" e "Koba O Terrível" defendeu este fim-de-semana que o envelhecimento da população cria condições para uma futura guerra civil e que devia existir “uma cabine em cada esquina” para fins de eutanásia, em que seriam entregues “um martini e uma medalha”.

Defensor da eutanásia, Amis reflectia em entrevista ao "Sunday Times" sobre a morte do seu pai adoptivo e da escritora Iris Murdoch, que sofria de Alzheimer. “Devia haver uma saída para pessoas racionais que tenham decidido que o seu tempo terminou. Devia ser algo acessível e fácil”. Mas usou termos menos ortodoxos ao falar sobre o envelhecimento demográfico e as suas previsões para a sociedade britânica 2020: os mais velhos serão um insustentável “tsunami prateado”, referindo-se ao grisalho dos cabelos; “Vão ser uma população de dementes muito velhos, como uma invasão de imigrantes terríveis, a empestar os restaurantes e os cafés e as lojas. Imagino uma espécie de guerra civil entre os velhos e os jovens dentro de 10 ou 15 anos”, disse.

A ideia de ‘cabines de eutanásia’ lançou polémica no Reino Unido, com as organizações pró e anti-eutanásia, bem como associações dedicadas a doenças demenciais a criticar os termos usados. Martin Amis, concluem, está a prejudicar a causa em que tanto acredita pela forma como a colocou.

O escritor tem um novo livro no prelo, "The Pregnant Widow". E o facto leva a escritora Joan Brady, a primeira mulher a receber o prémio Whitbread, a acusar Amis de “trivializar um assunto de tal magnitude só para acicatar um livro”. “Como é que um homem pode prostituir-se desta maneira?”, perguntou-se a escritora no "Guardian". A norte-americana, cujo marido morreu de uma doença degenerativa, considera que “a frivolidade de Amis deixa os defensores da eutanásia – gente séria e bem pensante – abertos ao ataque de que nada sabem sobre a morte, que a vêem como algum num anúncio de TV”. A organização pró-eutanásia Dignity in Dying frisou que a sua causa é em prol “de uma mudança legal e não sobre a introdução de ‘cabines de eutanásia’ nem uma antecipação de um ‘tsunami prateado’”.

Segunda-feira, numa sessão de perguntas sobre um livro seu, Amis reiterou que estava a falar a sério, mas assumiu que as cabines “são uma utopia” que no entanto “forneceriam um serviço público”.

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