“O conselho de administração condena muito fortemente os seus comentários e declara Lars Von Trier persona non grata no Festival de Cannes, com efeito imediato”, disse em comunicado a direcção do festival, citada pela AFP.
A história começou ontem, durante a apresentação da nova película do dinamarquês, Melancholia, um filme-catástrofe protagonizado por Charlotte Gainsbourg e Kirsten Dunst, que está em competição no festival.
"Eu compreendo Hitler. Sei que fez coisas más, sem dúvida, mas posso imaginá-lo sentado no seu 'bunker', na parte final", disse na conferência de imprensa. Apesar do moderador da sessão ter tentado desviar a conversa, Lars Von Trier continuou. “É claro que não defendo a II Guerra Mundial, nem sou contra os judeus. Defendo-os, mas não em demasia, porque Israel é verdadeiramente irritante."
O realizador acabou por pedir desculpas mais tarde. "Se ofendi alguém com as minhas declarações desta manhã, peço sinceras desculpas. Não sou nem anti-semita, nem racista, nem nazi." Mas a tentativa de reconciliação já veio tarde.
Hoje, o ministro da Cultura francês criticou duramente o dinamarquês. “É uma vergonha, é inaceitável”, disse Frédéric Mitterrand numa conferência de imprensa, à margem de uma reunião em Bruxelas, com os seus homólogos da União Europeia.
O filme de Von Trier mantém-se em competição. Um participante da reunião do conselho de administração disse à AFP que foi pedido ao realizador para ser discreto. “Se ele ganhar o prémio no domingo, ordenou-se que não venha recebê-lo”, disse a fonte.
Gilles Jacob, presidente do festival, convocou esta quinta-feira de manhã a reunião extraordinária do conselho de administração para se decidir quais as sanções a aplicar ao realizador.
“O Festival de Cannes oferece aos artistas de todo o mundo uma tribuna excepcional para apresentarem as suas obras e defenderem a liberdade de expressão e criação” e “e arrepende-se profundamente que esta tribuna tenha sido utilizada por Lars Von Trier para se exprimir com declarações inaceitáveis, intoleráveis, contrárias aos ideais de humanidade e de generosidade que regem a própria existência do festival”, defenderam os responsáveis no comunicado.