Kathryn Bigelow: O caso dela é contraditório

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Bigelow, em tempos companheira de James Cameron, sempre foi demasiado perversa para o "mainstream" e demasiado próxima da indústria para os independentes Gary Hershorn/Reuters

Isso é decisivo para o "caso Bigelow". Mas resumir a isso (imaginar "uma mulher a fazer filmes de homens", no "plateau" de uma grande produção) irrita solenemente a suave e elegante Kathryn.

As suas origens - vem das artes, da pintura e da "performance"; estudou no São Francisco Art Institute, em 1972 foi bolseira do Whitney Museum, esteve próxima de Robert Rauschenberg e de Richard Serra - não são típicas de uma realizadora de "big budget Hollywood films" (ou pelo menos de um género cinematográfico popular).

Mas é também isso que torna o seu caso mais complexo. Bigelow, em tempos companheira de James Cameron, sempre foi demasiado perversa para o "mainstream" e demasiado próxima da indústria para os independentes.

Esse limbo deu-lhe um estatuto algo obscuro, mesmo em termos de reconhecimento nas "bíblias" cinematográficas. Não tem ajudado os falhanços nas bilheteiras. Realizou o "flop" de 1990 - "Strange Days" - e depois embarcou no "K-19", outro falhanço nos EUA (entre um e outro fez "The Weight of the Water", que não chegou a registar nos ecrãs). E no entanto, falhá-lo é que seria injusto... "K-19" podia ser mais um filme sobre um grupo de homens num espaço fechado (parte de uma história verídica: um incidente a bordo de um submarino nuclear soviético, em 1961, esteve à beira de causar uma catástrofe de proporções só imagináveis), mas é, antes, mais uma demonstração da singularidade de uma cineasta para quem "os filmes de acção têm a capacidade de ser cinema puro". Era isso que se jogava dentro do submarino comandado por Harrison Ford: uma história de afectos e de perda que o cinema americano já não cantava desde o fim do seu classicismo.

O caso Kathryn Bigelow continuará a ser contraditório. Mas é uma contradição importante.

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