Há uma vespa de Joana Vasconcelos no quarto da rainha D. Maria Pia
Joana Vasconcelos — Palácio Nacional da Ajuda , com produção privada, terá novas peças e os grandes êxitos da artista plástica.
Os sapatos de Marilyn na Sala do Trono, os tampões d’A Noiva em vez do lustre da Sala D. João IV, um Coração Independente Vermelho na Sala D. João VI, mas também uma inédita Vespa bordaliana revestida a croché dos Açores no Quarto da Rainha D. Maria Pia, ou o nunca mostrado em Portugal Lilicoptère (feito para Versalhes).
A Noiva é um gigantesco lustre que foi exposto pela primeira vez na Bienal de Veneza de 2005, mas a peça foi excluída da mostra de Joana Vasconcelos em Versalhes pelo facto de a organização da exposição considerar que não se adequava ao espaço.
Até 25 de Agosto, o Palácio da Ajuda é o capítulo seguinte para Joana Vasconcelos, depois da exposição no Palácio de Versalhes, uma das mais vistas de sempre do monumento francês, e antes de o seu cacilheiro viajar até à Bienal de Veneza para representar Portugal. “É uma honra estar num palácio português, porque este é meu” e “ainda consigo fazer melhor do que em Versalhes”, disse esta quarta-feira a artista plástica.
Esta exposição foi pensada para o Palácio de Queluz na esteira de Versalhes pelo então secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas, mas “não havia escala” para algumas obras, explicou a artista. E o projecto passou para a Ajuda e começou no fim de Outubro, já com Barreto Xavier no cargo. Será a última exposição da directora do Palácio Nacional da Ajuda, Isabel Godinho, que está prestes a reformar-se.
Com bilhetes a dez euros, a exposição leva a “ironia” e a “subversão” da artista ao Palácio, diz Anabela Carvalho, subdirectora da Direcção-Geral do Património Cultural, que também espera que Joana Vasconcelos “propicie novas visitas” à Ajuda. Nas salas dos dois pisos do palácio que vão acolher Joana Vasconcelos (o museu fecha até dia 22 para a montagem da exposição), o curador da antiga residência real chama a atenção para a humidade em algumas paredes, para a necessidade de o público redescobrir o palácio.
Já na conferência de imprensa, a tónica está também no turismo. “As grandes cidades só ganham notoriedade com grandes eventos”, disse Álvaro Covões, da Everything is New, que vai publicitar a exposição no estrangeiro e que não revelou o custo da mostra. Segundo Anabela Carvalho, “o produtor cobre todo o investimento nesta exposição e assegura a receita equivalente que o palácio teve no mesmo período do ano passado. Quando atingir o breakeven, os lucros serão partilhados tendo em conta a média da receita do Palácio, mais 10%”.
Joana Vasconcelos “inspira-se na exposição de Versalhes, mas vai mais longe”, disse Miguel Amado — curador da primeira antológica de Vasconcelos, Sem Rede (2010), no Museu Colecção Berardo —, tendo 26 peças que não foram mostradas nem em França nem no Museu Berardo. Amado e Vasconcelos querem sair do white cube, do espaço expositivo convencional da arte contemporânea, porque, disse a artista, “na Ajuda sentimos a vivência” que foi feita do Palácio no século XIX — por oposição a Versalhes.
Há peças esmagadoras, como a tapeçaria Vitrail, feita para a escadaria da rainha em Versalhes e que agora está no Quarto do Rei na Ajuda. “As qualidades deste palácio e seus objectos permitem a um artista contemporâneo integrar-se facilmente”, diz Joana Vasconcelos. Destinos Cruzados, uma peça inspirada na guitarra portuguesa, ou Tropicalia, inspirada nos móveis de cabelereiro, são peças inéditas – e de menor dimensão do que as grandes esculturas que o público associa a Joana Vasconcelos. E, por vezes, quase obrigam o olhar do visitante a procurá-las no meio de fotos de família, frescos e pequenos tesouros do Palácio da Ajuda.