Tríptico de Bacon é a pintura mais cara de sempre vendida em leilão
Três estudos de Lucian Freud atingiu os 106 milhões de euros e destronou a quarta versão de O Grito, de Munch. No mesmo leilão, Jeff Koons bateu Gerhard Richter.
A obra de Bacon (1909-1992), no original Three Studies of Lucian Freud, foi vendida depois de apenas seis minutos de “licitações ferozes” – a expressão é da britânica BBC – dentro e fora da sala (ao telefone). Segundo o diário norte-americano The New York Times, foram sete as propostas de aquisição desta pintura de 1969 que nunca tinha sido levada a leilão e a compra foi festejada com aplausos entusiásticos.
Quanto ao comprador, e como é habitual nestes casos, permanece em segredo. Ainda de acordo com o New York Times, sabe-se apenas que terá sido o conhecido intermediário William Acquavella, instalado numa das cabines do andar de cima com vista para a sala, a fazer a compra em seu nome, tendo pago bem acima dos 85 milhões de dólares (63,3 milhões de euros) que a Christie's esperava conseguir pela obra em que se vê Freud (1922-2011) sentado numa cadeira de diferentes perspectivas.
“É uma verdadeira obra-prima e uma das mais excepcionais pinturas leiloadas nesta geração”, disse o responsável pelo departamento de arte do pós-guerra e contemporânea da Christie’s Europa, Francis Outred, citado pela BBC. “Marca a relação de Bacon e Freud, prestando homenagem ao parentesco criativo e emocional dos dois artistas.”
Noite "lendária"
Os dois britânicos conheceram-se em 1945 numa estação de comboios, quando estavam a caminho da casa de campo de um amigo comum e tornaram-se muito próximos de imediato. Nos anos 50, encontravam-se todos os dias para trabalhar ou passear pelo Soho. Tinham em comum a pintura, apesar de métodos e abordagens bem diferentes, e o fascínio pelo jogo – Freud apostava nos cavalos e Bacon privilegiava o casino. Era raro o dia em que não jantavam juntos.
Não é por isso de estranhar que se tivessem, de alguma forma, influenciado, e que desenhassem e pintassem retratos um do outro mais do que uma vez, antes de se distanciarem na década de 1970. Foi também nessa altura que, depois de exposto no Grand Palais (1971-72), o tríptico foi separado, voltando apenas a ser mostrado completo no Connecticut em 1999.
Há já um mês que a casa de leilões dizia esperar uma noite “lendária”, estimando superar o seu recorde de venda de uma obra em 20 milhões de euros. Ao todo, dez mil pessoas terão visitado as galerias antes do leilão. Estavam disponíveis 69 obras, que permitiram que a leiloeira arrecadasse 691,6 milhões de dólares. Apenas seis ficaram por vender. As previsões apontavam para que as vendas alcançassem os 670,4 milhões, bem acima do leilão de Maio em que se atingiu o montante de 495 milhões.
Francis Bacon figurava na lista dos artistas que mais renderam em 2012, mas ocupava um lugar na cauda com 153 milhões de dólares (117 milhões de euros), a par do chinês Fu Baoshi com 152,1 milhões de dólares (116,9 milhões de euros). Um ranking que poderá mudar neste ano de 2013 com o tríptico de Freud, que Bacon pintou no Royal College de Londres, depois de um incêndio ter destruído o seu estúdio.
Koons em primeiro
O mercado da arte contemporânea parece disposto a continuar a bater recordes graças aos coleccionadores da China, da Rússia e do Médio Oriente.
Jeff Koons também subiu ao topo de uma lista, mas desta vez a dos artistas vivos mais caros. Baloon Dog (Orange) – escultura de grandes dimensões que pertence a uma série de cinco feita em aço inoxidável de várias cores – foi comprada por 58,4 milhões de dólares (43,5 milhões de euros). Com este valor, o americano de 58 anos ultrapassa o alemão Gerhard Richter, de 81, cuja pintura Domplatz, Mailand, foi vendida em Maio por 27,6 milhões de euros.
Os recordes de Koons e Bacon estão entre os dez que esta venda da Christie’s atingiu para artistas como Donald Judd, Willem de Kooning ou Ad Reinhardt.
Notícia corrigida: William Acquavella, intermediário do comprador que permanece anónimo, pagou pelo tríptico de Bacon mais 57,4 milhões de dólares (e não 85 milhões como anteriormente tínhamos escrito) do que o valor base divulgado pela leiloeira, segundo o diário The New York Times.