Colecção Miró vai a leilão sem ser exposta em Portugal
Christie’s quer as obras até ao final de Abril, mas leilão ainda não tem dia marcado.
Desde que a intenção da venda das obras foi anunciada em 2012 pela então secretária de Estado do Tesouro e agora Ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque que nunca fez parte dos planos do Governo expor as obras antes de as levar a leilão. Esta decisão não mudou nem depois da controvérsia levantada, que levou ao cancelamento do leilão marcado para Fevereiro em Londres.
O secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, sempre disse que esta não era uma possibilidade que estivesse a ser estudada, enquanto o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho defendeu que as 85 obras de Miró, na posse do Estado desde a nacionalização do BPN, o quanto antes.
Também Francisco Nogueira Leite, presidente da Parvalorem e da Parups (sociedades criadas no âmbito do Ministério das Finanças para recuperar créditos do BPN), repetiu em diferentes ocasiões que por uma questão de tempo expor as obras não era uma possibilidade.
À Lusa, Nogueira Leite, disse que a resposta da Christie's "não se trata de recusa alguma, mas que, desde o início, a exposição tinha ficado condicionada ao timing que a leiloeira precisaria para promover as obras internacionalmente".
"Segundo a leiloeira, esta precisa das obras no final de abril para as transportar e promove-las em várias cidades do mundo antes do leilão. Era um risco conhecido", indicou.
Mesmo assim, Nogueira Leite mostrou-se há duas semanas disponível para questionar a Christie’s se não seria possível organizar uma exposição em Portugal antes da venda, depois de se ter reunido com Carlos Cabral Nunes, que lançou online a petição Manutenção em Portugal das obras de Miró (do património BPN). Ao PÚBLICO, o galerista disse na altura que o presidente tinha mostrado vontade e interesse, deixando claro no entanto que poderia ser difícil mostrar as obras, uma vez que a data do leilão se aproxima.
Agora, ao Diário Económico, os advogados da Christie’s em Portugal dissiparam as dúvidas e uma exposição em Portugal não vai mesmo acontecer. “As obras devem ser levantadas até ao final de Abril”, informaram, sem adiantar a data exacta do leilão. Sabe-se apenas que acontece em Junho.
Soube-se na semana passada que a Parvalorem fez chegar à Direcção-Geral do Património Cultural o pedido de autorização de saída do país destas obras, para que se possam desta vez cumprir todas as formalidades para a venda. Uma vez que, de acordo com a Lei de Bases do Património Cultural, é preciso que este pedido seja feito, pelo menos, com 30 dias de antecedência.
Para Carlos Cabral Nunes a decisão é incompreensível. “Já tínhamos um acordo com um museu para acolher uma exposição da colecção que, segundo as nossas estimativas, traria cerca de meio milhão de euros para Portugal", disse o galerista à Lusa, considerando que se perde “uma extraordinária oportunidade para mostrar a colecção”. “Esta recusa representa mesmo um ultraje à República portuguesa.”
"Havia tempo suficiente para realizar a exposição em Portugal até porque sabemos que o leilão só está previsto para 24 e 25 de Junho", salientou.
Desde que estão em Portugal estas obras nunca foram expostas. Têm estado desde sempre nos cofres da Caixa Geral de Depósitos, em Lisboa. Só mesmo em Janeiro é que foram expostas em Londres, dias antes do leilão que estava marcado para os dias 4 e 5 de Fevereiro.