Cinema em Espanha viveu em 2013 um ano de crise generalizada
Receitas de bilheteira no país vizinho caíram 107 milhões de euros; quota da produção espanhola baixou cinco pontos percentuais.
Os números não são ainda definitivos – faltam ainda os dados oficiais do ICAA - Instituto de Cinematografia e das Artes Audiovisuais –, mas aqueles que foram anunciados no final de Dezembro, pela empresa de auditoria Rentrak, deram origem a títulos catastróficos na imprensa espanhola relativos à actividade e à exibição cinematográfica no país.
Em 2013, os cinemas em Espanha registaram receitas de 508 milhões de euros (ME), menos 107 milhões do que no ano anterior; e as produções do país renderam apenas 71ME, quase menos 50ME do que em 2012 (equivalente a uma queda superior a cinco pontos percentuais).
Estes números correspondem a uma perda de 14 milhões de bilhetes vendidos (80 contra os 94 milhões) relativamente a 2012.
“Estamos perante os números mais baixos da década e muito mais atrás”, notou o jornalista do El Mundo, Luis Martínez, referindo-se à quebra decorrente das contas da Rentrak.
Ao apresentar estes dados, e citado pelos jornais El Mundo e El País, Arturo Guillén, porta-voz e vice-presidente para a Europa e Médio Oriente daquela empresa auditora, tentou amenizar os sinais da crise, lembrando que, apesar de “um ano mau, a quota manteve-se”, se se tiver em conta que os números de 2012 tinham sido inflacionados pelo extraordinário sucesso e pelas receitas do filme O Impossível, de Juan Antonio Bayona, uma história protagonizada por Naomi Watts e Ewan McGregor, passada sob o tsunami da Tailândia – e que rendeu em Espanha mais de 40 ME.
Das produções espanholas de 2013, nenhum título se aproximou destes números: o filme mais rentável foi a coprodução hispano-canadiana de terror Mamá, realizada pelo argentino Andrés Muschietti, com Jessica Chastain e Nikolaj Coster-Waldau (que rendeu mais de 8ME), seguido de Zipi Y Zape y el Club de la Canica, de Oskar Santos (mais de 5ME), Las Brujas de Zugarramurdi, de Alex de la Iglesia (dois filmes que não chegaram ainda ao circuito comercial português); e Os Amantes Passageiros, de Pedro Almodóvar (os dois últimos tendo rendido perto de 4,7ME).
Tanto o El País como o El Mundo assinalam a subida do IVA (para 21%), a pirataria e a incapacidade da administração central de inverter o estado comatoso da indústria do cinema em Espanha como as principais razões da crise.
Em perspectiva está, contudo, a entrada em vigar de um pacote de medidas – baixa do IVA e incentivos fiscais que podem chegar aos 25% –, decorrente da constituição de uma Comissão Mista do Cinema, que reuniu os representantes do sector e responsáveis governamentais.
Outro dado citado relativo à produção de cinema espanhol em 2013 foi a contabilização de um número de rodagens inferior à centena (92), significando um decréscimo de 28% relativamente a 2012.
Para o ano que agora começa, fica a expectativa sobre o que podem valer nas bilheteiras espanholas algumas produções já anunciadas, como o novo capítulo – o 5.º – da saga Torrente, de Santiago Segura (o quarto filme da série rendeu, em 2011, mais de 19ME), mas também El Niño, de Daniel Monzón, [REC] 4: Apocalipsis, de Jaume Balagueró, e Palmeras en la Nieve, de Fernando González Molina.