Candidatura de Olga Roriz aos apoios da DGartes foi excluída

O projecto da associação dirigida pela coreógrafa foi excluído, mas a decisão é ainda provisória. Roriz está "preocupada" e vai apresentar recurso.

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Este ano Olga Roriz regressa ao formato do solo Pedro Cunha

É o que vai fazer a Companhia Olga Roriz, uma das oito estruturas que ficaram de fora na lista da dança (21 foram admitidas).

Informada da proposta de decisão da DGartes no final da semana passada, Roriz ficou “profundamente surpreendida” e “preocupada” com a perspectiva de poder vir a ficar sem subsídio estatal. A coreógrafa está a preparar com juristas um documento em que irá demonstrar que a associação que hoje dá à sua companhia enquadramento legal (formalmente chama-se Olga Roriz Companhia de Dança – 1995 Associação) só foi constituída em 2008, mas está em funcionamento há 17 anos.

Roriz explica: “A nossa candidatura foi excluída simplesmente porque, segundo os regulamentos, só podem candidatar-se aos apoios a quatro anos as estruturas que tenham pelo menos seis. Ora, a nova associação que criámos só tem cinco anos, mas é herdeira de uma que nasceu em 1995.”

Para que pudesse incluir na nova estrutura os colaboradores com quem hoje trabalha – “tornava-se difícil reunir, por exemplo, com bailarinos que faziam parte da anterior associação [Olga Roriz Companhia de Dança] há 17 anos e que agora estão espalhados pela Europa”, explicou ao PÚBLICO – a coreógrafa e directora artística da companhia optou por refundá-la. “É a mesma estrutura, mas tem outro nome.”

Roriz sabe que a decisão da direcção-geral respeita formalmente os regulamentos, mas argumenta que “passa por cima” de 17 anos de história. “A DGartes sabe que esta associação vem na continuidade da outra, o que está, aliás, escrito em acta”, acrescenta, lembrando que o seu trabalho vem recebendo apoios da Cultura desde 1995, praticamente sem interrupção (a única excepção terá sido 1999, ano em que Roriz não apresentou qualquer candidatura). Além disso, sublinha, foi apoiada no concurso anterior para apoios quadrienais, a que se candidatou já com a nova associação.

“Não estava à espera disto”, admite a coreógrafa. “Sobretudo agora, que apresentei uma candidatura como sempre quis: com um espaço próprio para a companhia trabalhar [Palácio Pancas Palha], onde vamos poder dar formação e receber outros artistas.”

Para este ano, a companhia tem já agendadas 15 apresentações, com duas das peças que tem em digressão (A Cidade e Present in Progress) e duas estreias: Terra e A Sagração da Primavera, obra em que Olga Roriz regressa ao formato do solo, depois de Electra (2011).

A este programa, que inclui uma ida de A Cidade ao Brasil, juntam-se 20 residências, acrescenta Fernando Pêra, o director de produção da companhia. Gonçalo Lobato Faria na área da dança, Miguel Mendes na música, Sara Carinhas no teatro e Carla Cabanas com a fotografia são alguns dos profissionais que vão passar pelo Palácio Pancas Palha, em Lisboa, cedido pela autarquia.

Roriz reúne com a vereadora da Cultura Catarina Vaz Pinto já na próxima segunda-feira para saber quando pode começar a trabalhar na nova casa, um edifício que foi construído no século XVI, mas que teve várias intervenções arquitectónicas e decorativas (actualmente deve mais ao traço e ao gosto do século XVIII).

“Tenho esperança de que esta situação não passe de uma questão administrativa”, diz Roriz. “Já assumimos mais de 40 compromissos este ano e, sem subsídio, a vida da companhia será muito difícil se não mesmo impossível.”

O director de produção está optimista. Confia no secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, e no novo director-geral das artes, Samuel Rego, “que se esforçou para que houvesse um maior equilíbrio entre as artes no que toca a apoios”, admitindo mais companhias de dança. Mas Fernando Pêra garante que falta, recursos de trabalho às estruturas: “A informação no site da DGartes é escassa e é seguro dizer que a classe precisa de mais ferramentas para preparar estas candidaturas.”

Samuel Rego diz que não há qualquer razão para alarme e que a lista que as entidades acabam de receber não é uma proposta de decisão relativa aos apoios: “Esta lista é apenas das estruturas admitidas a concurso. Resulta do trabalho dos serviços administrativos e é feita para que as entidades possam informar melhor a DGartes em relação aos seus projectos, se for caso disso”, explicou ao PÚBLICO. É feita, acrescentou o director-geral, para tornar o processo de atribuição de subsídios mais transparente.

Só quando tiver decorrido o período de consulta pública – dentro do qual companhias como a de Olga Roriz poderão apresentar recurso – é que os dossiers de candidatura serão avaliados pelo júri artístico, a quem caberá as escolhas. A decisão final deverá ser conhecida no início de Março.

Na dança, entre as oito estruturas cuja candidatura ficou excluída do concurso, contam-se, por exemplo, a Bomba Suicida, a Associação Vo’Arte e o Núcleo de Experimentação Coreográfica.

 

 

 

 
 
 
 
 
 

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