Americana comprou quadro de Renoir numa feira da ladra por cinco euros
Há algum tempo atrás, quando regressou à sua garagem e se preparava para reaproveitar o caixilho do quadro – que, na altura da compra, lhe tinha interessado bem mais do que a pintura –, a americana seguiu o palpite da mãe, que a aconselhou a perguntar a quem soubesse quem seria esse tal Renoir. “Finalmente decidi ouvir a minha mãe”, disse a mulher, que quis manter o anonimato e que nas declarações que entretanto fez à imprensa americana pediu que a identificassem apenas como “a rapariga do Renoir”.
A proprietária do quadro recorreu então à leiloeira local, a Potomack Co., na cidade de Alexandria, onde a especialista em artes plásticas da casa acabou por identificar a pintura como sendo “Paysage bords de Seine” (“Paisagem na margem do Sena”), que o famoso pintor impressionista francês fizera em 1879. “O quadro tem as cores do Renoir, tem a sua luz e o seu traço”, disse Anne Norton Craner, a referida especialista, em declarações à agência Reuters. E explicou que para confirmar a autenticidade da obra recorreu a investigadores do Museu Metropolitano de Arte de Washington e consultou também o catálogo “raisonné” de Renoir organizado pela histórica galeria francesa Bernheim-Jeune.
Como os resultados dessas investigações coincidiram, Anne Craner ficou sem qualquer dúvida quanto à autenticidade da pintura de Renoir. “Este não é um quadro que alguém se disponha a falsificar; se alguém quiser falsificar uma pintura, escolhe algo mais fácil”, disse a especialista à Associated Press. Na sua investigação, Anne Craner conseguiu também reconstituir o rasto de “Paisagem na margem do Sena”. O quadro terá sido oferecido pelo seu autor à sua amiga e modelo Alphonsine Fournaise Papillion, mas depois foi parar à galeria Bernheim-Jeune, que em 1926 a vendeu a um advogado e coleccionador americano, Herbert L. May, que a terá mantido como sua propriedade até à sua morte em 1966. O destino que o quadro teve a seguir, e de que modo foi parar a uma feira da ladra embrulhado num saco de bonecos de plástico, é algo que fica agora por descobrir.
Surpreendida com os desenvolvimentos recentes do seu achado, a “rapariga do Renoir” decidiu entretanto leiloar o quadro. “Tenho demasiado medo [de ficar com ele]”, confessou. Pediu então à Potomac que tratasse do seu leilão, acrescentando que “quem quer que o venha a comprar, vai certamente cuidar dele como ele merece”.
O leilão está já marcado para o dia 29 de Setembro. E a Potomac avançou com uma avaliação entre os 75 mil e os cem mil dólares (60 mil a 80 mil euros, aproximadamente). Mas, com a conhecida volatilidade do mercado da arte, é bem possível que a história particular desta obra de Renoir faça disparar a sua cotação.
Qualquer que seja o montante da venda, ele vai certamente permitir à americana pegar na sua mãe e viajar até França, para verem em Paris o Museu do Louvre e depois depositarem um ramo de flores no túmulo do pintor, na localidade de Essoyes, na região de Champanhe-Ardenas, a leste da capital francesa. “Só quero dizer-lhe ‘Obrigado’”, justificou a “rapariga do Renoir”.