Fruitvale e Blood Brother: a América humanista venceu em Sundance
Fruitvale, um olhar emocionado sobre um homem morto a tiro pela polícia, e Blood Brother, documentário sobre um activista da luta contra a sida, levaram os EUA ao pódio indie.
Fruitvale é produzido por Forest Whitaker e conta a história do norte-americano Oscar Grant, morto a tiro pelas costas pela polícia na estação de metro de Fruitvale, nos subúrbios de Oakland (na área metropolitana de São Francisco) no último dia de 2008. As últimas 24 horas da sua vida são passadas em revista num filme que se torna assim o primeiro a ser distinguido simultaneamente pelo júri e pelo público em Sundance desde Precious, em 2009, que fez carreira nas salas de todo o mundo e venceu dois Óscares.
O filme, cujos direitos de exibição tinham já sido adquiridos pelos poderosos irmãos Weinstein, é protagonizado por Michael B. Jordan e Octavia Spencer e o prémio foi recebido por um Coogler visivelmente emocionado. “Quando comecei este projecto, era sobre humanidade e como tratamos as pessoas que mais amamos e as pessoas que não conhecemos”, disse, citado pela imprensa norte-americana, considerando que o prémio significa que “este filme teve um impacto poderoso”.
Um dos membros do júri que premiou Fruitvale, Tom Rothman (que foi presidente dos estúdios Fox), preparou o jovem de 26 anos para mais subidas a palcos para receber prémios, referindo-se ao impacto que o vencedor do ano passado, Bestas do Sul Selvagem (que se estreia em Portugal a 14 de Fevereiro), teve na temporada de prémios em curso – nomeadamente nas quatro nomeações para os Óscares que o filme de Benh Zeitlin recebeu. Fruitvale foi premiado pela sua “realização hábil, impacto emocional devastador e urgência moral e social”.
O prémio para o documentário Blood Brother torna esta edição do festival na primeira desde 2006 a ter como vencedores nas categorias principais duas produções norte-americanas. Blood Brother é um documentário que acompanha uma viagem à Índia de um homem que começa como turista norte-americano desencantado e que decide ficar a viver no país depois de conhecer um grupo de crianças seropositivas num orfanato, tornando-se activista. Foi recebido pelo seu protagonista, Rocky Braat, melhor amigo do realizador Steve Hoover. Também emocionado, Braat recordou as vidas cheias de desafios das crianças com quem ficou a trabalhar – “ninguém se lembra dos nomes delas”, disse.
Noutras categorias, o prémio de melhor realizador foi para Jill Soloway por Afternoon Delight, comédia negra sobre uma dona de casa de Los Angeles que emprega uma stripper como ama.Os actores Miles Teller e Shailene Woodley receberam o prémio especial do júri pelos seus papéis em The Spectacular Now, uma história de coming-of-age realizada por James Ponsoldt, que se foca em dois adolescentes contrastantes – o espontâneo e despreocupado finalista do liceu Sutter e a introvertida Aimee.
O último de dez dias de festival serviu ainda para dar a conhecer o prémio de melhor argumento para a actriz Lake Bell, que se estreou como realizadora e argumentista com In a World…, a história de uma professora de canto sem grande sucesso que acaba por se transformar na rainha da voz-off, pelo qual recebeu o prémio Waldo Salt. As produções estrangeiras premiadas pelo júri em Sundance foram, por seu turno, a ficção Jiseul, de Muel O, e o documentário A River Changes Course, de Kalyanee Mam. A lista completa de prémios pode ser consultada aqui.