O passado, presente e futuro de Lisboa na Bienal de Veneza
A Lisbon Ground quer ser uma embaixada da arquitectura portuguesa. Além dos projectos, os olhares da cineasta Catarina Mourão, do fotógrafo Duarte Belo e do escritor Antonio Tabucchi
"Falar sobre Lisboa": é o que a arquitecta e comissária Inês Lobo propõe para representação portuguesa na 13.ª Mostra Internacional de Arquitectura da Bienal de Veneza, de 29 de Agosto a 25 de Novembro. Se o tema escolhido pelo comissário geral da bienal, David Chipperfield, foi Common Ground - a arquitectura como território comum a um grupo de pensadores de várias áreas - a exposição de Portugal no Fundaco Marcello, em Veneza, intitula-se Lisbon Ground.
Lisboa vista através da arquitectura, do cinema, da fotografia e da literatura. "Porquê Lisboa? Porque pensar em Lisboa hoje é pôr um conjunto de arquitectos a reflectir sobre uma cidade que nos últimos 24 anos tem sofrido um grande processo de transformação", explicou a comissária na apresentação do programa, ontem, no auditório do novo Museu dos Coches, ainda em construção em Lisboa.
O incêndio no Chiado aconteceu há 24 anos, em Agosto de 1988, quando Álvaro Siza Vieira foi convidado para reconstruir essa zona central de Lisboa. "A proposta na altura foi extremamente polémica, não sei se se lembram... e pôs-nos a pensar Lisboa de uma forma diferente. E é isso que eu proponho a um conjunto de arquitectos: que pensem, na Bienal de Veneza, que reflictam comigo o que é que deve continuar a ser o futuro e a transformação de Lisboa", acrescentou.
Três temas: Lisboa Baixa (dedicado aos projectos da baixa pombalina), Lisboa Rio (projectos da frente ribeirinha) e Lisboa Conexões (outros projectos na cidade). A estes temas associam-se projectos e obras concretos (de final dos anos 1980 a 2012). No primeiro grupo estão: a reconstrução do Chiado (Siza Vieira); Museu e Biblioteca Numismática do Banco de Portugal (Gonçalo Byrne e João Pedro Falcão de Campos); Mude - Museu do design (Ricardo Carvalho e Joana Vilhena) e recuperação do edifício Fanqueiros (José Adrião).
No Lisboa Rio surgem: o projecto do Museu dos Coches (Paulo Mendes da Rocha, Ricardo Bak Gordon e Rui Furtado); a requalificação da Ribeira das Naus (João Nunes e João Gomes da Silva) e o Terminal de Cruzeiros de Lisboa (Carrilho da Graça). Por fim, incluídos no Lisboa Conexões estão o estudo urbano para o Parque Mayer, Jardim Botânico e envolvente (Manuel e Francisco Mateus); plano geral de acessibilidades à colina do Castelo (João Favila, João Simões, Pedro Domingos e Rui Mendes) e por último a operação urbana Príncipe Real de Eduardo Souto de Moura. "A questão fundamental desta representação é a ideia de "embaixada". A ideia de juntar o maior número de pessoas possível à volta de um tema que é como continuar a transformar e a construir uma cidade", afirma a arquitecta.
Como a ideia é que a reflexão sobre a cidade seja feita em simultâneo por pessoas de diversas áreas haverá um vídeo realizado por Catarina Mourão, que regista conversas de três mesas redondas onde arquitectos discutem a cidade a partir dos temas propostos pela comissária e dos trabalhos seleccionados para a bienal. Com os desenhos produzidos pelos oradores far-se-á um mapa de Lisboa. Também o fotógrafo Duarte Belo terá um papel importante na exposição com um conjunto de fotografias que "pretende ser a fixação das obras de arquitectura e do território no tempo presente", um arquivo da paisagem urbana e da arquitectura da cidade de Lisboa que sirva de base à reflexão. A acompanhar tudo isto, um testemunho sobre a cidade através de uma selecção de textos do escritor Antonio Tabucchi ditos pelo actor italiano Marco Baliani.
E já que Lisbon Ground pretende iniciar a reflexão sobre este território e promover uma "perspectiva de futuro", será lançado em Julho, para decorrer durante a bienal, um concurso público internacional de projectos para o Campo das Cebolas/Doca da Marinha, através de uma parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, anunciou, também na conferência de imprensa, o vereador e arquitecto Manuel Salgado, para quem o grande desafio que se coloca agora em Lisboa é intervir no centro da cidade, tornando-a mais amigável e mais acessível à população.
O orçamento global para a participação de Portugal Bienal de Veneza é de 300 mil euros, referiu na conferência de imprensa o director-geral das Artes, Samuel Rego, explicando que 100 mil são para apoio logístico. Sendo 2012 o último ano de aluguer do pavilhão Fundaco Marcello, segundo Samuel Rego, nas futuras participações de Portugal em Veneza - não só a bienal de arquitectura, mas também na de artes plásticas - recorrer-se-à "a espaços da organização apenas durante o período da exposição".