Europa lança o primeiro satélite do sistema de navegação Galileu
Rede que dará autonomia à Europa face ao GPS dos Estados Unidos entra na fase de teste de várias tecnologias no espaço
O maior projecto espacial da Europa inicia hoje uma etapa crucial, com o lançamento do primeiro satélite experimental do sistema Galileu. Se tudo correu como planeado, o Giove A foi lançado às 5h19 (hora de Lisboa) por um foguetão russo, do cosmódromo de Baikonour, no Cazaquistão, com a missão de testar em condições reais tecnologias do futuro sistema de navegação por satélite da Europa e de assegurar as frequências de rádio atribuídas ao Galileu. Entrou em acção o concorrente civil do famoso Global Positioning System (GPS), o sistema militar dos Estados Unidos. "É uma etapa essencial do Galileu: a passagem da teoria à prática. A experiência mostra que se passa sempre qualquer coisa no espaço", comentou à AFP Dominique Detain, porta-voz da Agência Espacial Europeia (ESA).
O Giove A, uma caixa de 600 quilos, dá início ao processo de validação em órbita do Galileu, durante o qual serão testadas várias tecnologias, como relógios atómicos de grande precisão, e novos sinais de navegação desenvolvidos de propósito.
Outra das tarefas do Giove A é medir os níveis de radiação a cerca de 23 mil quilómetros de altitude, onde a constelação de satélites Galileu vai orbitar a Terra. É a primeira vez que a Europa envia um satélite para uma órbita média, como essa. Aí, os satélites poderão manter uma órbita estável, mas há incógnitas. "Não conhecemos de forma rigorosa o ambiente radioeléctrico nestas órbitas", disse Detain.
A ida para o espaço do Giove A também assegura as frequências de rádio atribuídas ao Galileu pela União Internacional de Telecomunicações, pois a Europa perderia o direito a elas se o primeiro satélite não fosse para o espaço até Dezembro de 2006.
Ainda haverá o Giove B, a ser lançado lá mais para o final de 2006, também do Cazaquistão. A ESA e a Comissão Europeia, das quais partiu a iniciativa do Galileu, não quiseram arriscar, e decidiram que haveria um segundo satélite de demonstração. Tanto o Giove A como o B não farão parte da constelação do Galileu, que terá 30 satélites.
Mais do que um projecto espacial - o maior levado a cabo pela Europa -, o Galileu é uma iniciativa política. Trará à Europa autonomia numa área estratégica, a do posicionamento por satélite, com milhentas aplicações, como a gestão do tráfego aéreo, marítimo e automóvel. Até agora, quem quisesse obter uma posição (latitude, longitude e altitude) no globo por satélite, tinha de usar o GPS, controlado pelo Departamento de Defesa dos EUA.
O outro sistema, o Glonass, da Rússia, é também controlado militarmente e não é rigoroso, porque não tem satélites suficientes (são mais de uma dezena, mas as agências noticiosas dão números desencontrados). No entanto, o Presidente Vladimir Putin, anunciou no Dia de Natal, quando foram lançados três satélites Glonass, que a rede estará completa, com 24 satélites, até 2008.
Foi a rede GPS, cujo primeiro satélite foi lançado em 1978 e agora tem 29, que atingiu expansão mundial. Basta ter um receptor que capte os sinais dos satélites e qualquer um pode saber onde está.
Mas a Europa não quis ficar dependente de um sistema militar e de um só país, que pode ser bloqueado a qualquer momento, se os EUA assim o quiserem, e avançou com o Galileu.
Os EUA consideraram que o Galileu comprometeria as suas operações de defesa e dos seus aliados, porque utilizaria frequências de rádio próximas das que o GPS usa para fins militares.
Os norte-americanos também não queriam perder o monopólio neste domínio. No entanto, os EUA e a União Europeia acabaram por assinar um acordo de cooperação, que assegurará a compatibilidade entre os dois sistemas. A Europa aceitou deslocar ligeiramente as frequências do espectro electromagnético que o Galileu usaria, para não interferir com as do GPS. E, assim, haverá receptores capazes de receber o sinal das duas redes.