Astronauta conta a última viagem do homem à Lua
Já passaram 29 anos desde que o astronauta norte-americano Eugene Cernan pisou o solo lunar, pela última vez na história da humanidade: "Pensei que dormia e que estava a sonhar, porque olhei para o céu e não vi a Lua, vi a Terra", contou Cernan às dezenas de crianças que o foram ver e ouvir na quinta-feira no Pavilhão do Conhecimento, no Parque das Nações, em Lisboa.Dezenas de crianças, sentadas em cubos coloridos, não conseguiam disfarçar a ansiedade. As perguntas que traziam escritas em pequenas folhas foram lançadas uma atrás da outra: "Quanto tempo demora a viagem da Terra à Lua e que velocidade pode atingir a nave espacial?", perguntou o mais curioso. "Demorámos três dias e a viagem foi feita a 30 mil quilómetros por hora." As bocas e os gestos ficaram mudos, até que se fez ouvir, em inglês, uma pergunta do astronauta da NASA: "Há ar na Lua?" A resposta veio em uníssono: "Nãããooo!" Todas as crianças estavam levantadas. "Certo. Era por isso que tinha de estar com o meu fato espacial, para poder levar o meu próprio ar", explicou."Como é a vida a bordo da nave: a alimentação, os cheiros, a higiene?" O astronauta susteve por momentos a respiração: "Bem, o sítio da nave onde íamos não era espaçoso. A comida era seca e estava guardada dentro de um saco de plástico. Depois só tínhamos de lhe pôr água e misturar."Aquelas crianças ficaram a saber que os astronautas podiam lavar os dentes mas não podiam tomar banho: "Felizmente, quando chegámos à Lua pudemos sair da nave." Cernan e os colegas Ronald Evans e Jack Schmitt, este último geólogo, tinham como missão recolher amostras do solo lunar. Ao todo, trouxeram 115 quilos."Há mais alguém no espaço além de nós?", perguntou o astronauta. "Não sabemos", disse uma voz pequenina. "Correcto. Aquela menina ali ao fundo tem razão. Não sabemos, por isso é que temos de tentar chegar a Marte e a outros planetas.""Como é o espaço?", perguntou outra criança, com os olhos fitados naquele homem alto, de cabelos brancos: "O espaço pode ser muito quente, mas ao mesmo tempo muito frio. O céu é negro, não há árvores, nem casas, nem nuvens. Só a luz do Sol. Temos de estar protegidos com fatos espaciais como aquele que está ali em exposição", disse apontando para o fato que Neil Armstrong usou em 1969 no espaço."Na Lua sentem dor? Que remédios podem levar para lá?" A pergunta deixou o astronauta pensativo: "Os únicos medicamentos que levámos foi aspirinas, comprimidos para dormir e pensos rápidos." Fez-se ouvir um ah!"Há gravidade na Lua?", interpelou novamente o astronauta. Dezenas de olhares sérios esconderam-se então atrás das folhas das perguntas. "Por que é que eu não caí da Lua e me afastei? É que na Lua há um pouquinho de gravidade, por isso é que podemos imitar o salto dos cangurus." Maria, João e Manuel ficaram a saber que a gravidade na Lua é seis vezes menor do que na Terra."Qual foi o melhor momento que se lembra de ter vivido nas suas missões?", indagou uma das crianças. "Quando fui à Lua a minha filha tinha a vossa idade, por isso levei dois relógios comigo. Um deles estava regulado com a hora do Texas, onde vive a minha família. Às 7 da manhã, quando estava a andar naquele vale rodeado de montanhas, olhei para a Terra e vi que o Sol estava a nascer no Texas. Mais tarde, olhei novamente e vi que o Sol se estava a pôr na minha terra e que em breve a minha filha ia para a cama dormir. O meu relógio era o meu ursinho de dormir. Foi esse o momento mais bonito."Estas crianças e os professores participam num projecto educativo no âmbito de uma colaboração entre o Programa Ciência Viva e a NASA - o projecto PULSAR, cujas experiências por elas idealizadas irão a bordo do vaivém espacial que irá partir em 29 de Novembro. Eugene Cernan tem também um projecto: levar um jovem à Lua: "Sei que muitos dos vossos pais gostariam de vos mandar para o espaço, mas vão ter de trabalhar para irem e depois voltarem."