A Web em Portugal
A Internet é um meio de comunicação verdadeiramente planetário. O primeiro passo da Internet aconteceu há 30 anos, quando um grupo de investigadores norte-americanos pôs um computador a comunicar com uma máquina. Uma conferência na Califórnia assinala hoje essa data.
A rede portuguesa começou a mexer em 1983, no Instituto de Engenharia de Sistemas de Computadores (Inesc), quando os investigadores daquele instituto ligaram os seus computadores com sistema operativo Unix ao nó central da rede europeia, na Holanda. Esse nó central localizava-se no Centro de Matemática e Ciências Computacionais, em Amesterdão, numa máquina Vax, da Digital, pelo que ficou conhecido por MCVax (do inglês Mathematical Centre Vax).O nó europeu ligava a Holanda à Suíça, Dinamarca, França, Grã-Bretanha, Alemanha, Finlândia e Suécia. "Nessa altura, todos os países europeus estavam ligados à Holanda", lembra Pedro Veiga, um dos pioneiros da Internet em Portugal e actual presidente da Fundação para a Computação Científica Nacional. "Antes disso, apenas a multinacional IBM tinha uma linha internacional para Portugal".Pedro Veiga estava no Inesc a fazer o doutoramento quando a rede portuguesa arrancou. "Interessei-me por essa possibilidade porque me permitia aceder mais rapidamente à informação que precisava para a tese", conta o especialista em engenharia de sistemas. "Inicialmente, foi uma actividade lateral, mas tornou-se a minha principal ocupação depois de concluído o doutoramento. Na verdade, fui uma das pessoas que arrancou com a rede no Inesc." Um ou dois anos depois do arranque, as faculdades e instituições de investigação portuguesas começaram a ligar-se à European Academic Research Network (EARN), "que era uma extensão europeia da rede de investigação norte-americana Bitnet, financiada pela IBM", lembra Pedro Veiga. "Na segunda metade da década de 80, essas instituições ligaram-se entre si, e à Cosine, uma rede privada europeia que funcionava a 64 kilobits por segundo".O PUUG (do inglês "Portuguese Unix Users Group", ou seja, grupo português de utilizadores de Unix), criado no final dos anos 80, permitiu a troca de mensagens de correio electrónico entre os possuidores de máquinas com aquele sistema operativo. "Em 1990, começou a utilizar-se o protocolo TCP/IP [Transmission Control Protocol/Internet Protocol], que é o que se usa actualmente na Internet", continua Pedro Veiga. "A partir daí, a rede começou a evoluir, mas o ambiente mais comercial só apareceu em 1995."Fernando Cozinheiro, engenheiro do centro de informática da Universidade de Aveiro há 11 anos, lembra o aparecimento das primeiras BBS (Bulletin Board System), nos anos 90. Uma BBS era, essencialmente, um computador dotado de um "modem" que permitia aos utilizadores de outros PC acederem à informação nele contida. Existiam BBS comerciais e outras gratuitos, feitas por estudantes de informática, especialistas ou pessoas interessadas em temas específicos ou jogos. Os utilizadores dessas BBS podiam trocar mensagens entre si, participar em grupos de discussão ou jogar "on-line". "Eram as primeiras tentativas para disponibilizar arquivos de informação". "O 'pontapé de saída' da Internet, tal como a conhecemos, foi um 'workshop' realizado em 1994, ao qual já compareceram a Esotérica, a Eunet, a Telepac... E várias pessoas do meio", recorda Fernando Cozinheiro. Entre eles estavam José Legatheaux Martins, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa; Vasco Freitas, da Universidade do Minho; Pedro Rey, engenheiro da Covex; e Fernando Boavida e Edmundo Monteiro, da Universidade de Coimbra."Em 1994, apareceram os primeiros servidores a oferecerem Internet ao público em geral e, um ano depois, já havia vários, mas nenhum cadastro dos mesmos", explica o engenheiro. "Foi então que pensámos em criar o Serviço de Apontadores Portugueses (Sapo). Inicialmente, era para ter uma base estática, porque eram poucos. Mas começaram a ser mais e, em Agosto de 1995, pensámos em construir o servidor". Dotaram-no, por isso, de uma parte gráfica mais atraente e um motor de pesquisa.O Turista Virtual Português (TVP), também da Universidade de Aveiro, nasceu um ano depois, para reunir os apontadores com informações turísticas e locais. "Nessa altura muitas pessoas criavam as suas próprias páginas - que tinham uma série de apontadores para outras páginas que recomendavam -, e páginas sobre as suas terras", explica Fernando Cozinheiro.