Criação dos primeiros átomos de antimatéria foi anunciada há dez anos
Acontecimento foi em Setembro de 1995, mas o Laboratório Europeu de Física de Partículas só a revelou no início de 1996
Na série televisiva Star Trek, a nave Enterprise tinha um motor de matéria-antimatéria: quando ambas entravam em contacto, aniquilavam-se numa explosão, o que permitia ao capitão Kirk viajar para lá da velocidade da luz. Embora muito longe de histórias de ficção como esta, o Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN), na Suíça, há dez anos deu um passo que trouxe certa consistência à série criada nos anos 60. Pela primeira vez, foi anunciada a criação de átomos de antimatéria, pela equipa do alemão Walter Oelert, da Universidade de Nuremberga, que incluía investigadores italianos da Universidade de Génova. Eram nove os átomos de anti-hidrogénio que os cientistas criaram, o que significa que obtiveram uma estrutura organizada de antimatéria. Desde os anos 50 que se criam antipartículas em laboratórios, mas só em 1995 se conseguiu fazer com elas um átomo, com antiprotões que colidiram com átomos de xénon.
Foi graças a novas técnicas de aprisionamento de antiprotões, para ultrapassar a rápida destruição. Mesmo assim, os átomos de anti-hidrogénio só duraram 40 milésimos de milionésimo de segundo.
O anti-hidrogénio é uma espécie de imagem ao espelho, invertida, do hidrogénio, o átomo mais simples. Apenas um electrão orbita o núcleo do hidrogénio, composto por só um protão. O electrão tem carga eléctrica negativa e o protão carga positiva. O anti-hidrogénio também tem duas antipartículas: um positrão, o duplicado do electrão, e um antiprotão. A diferença em relação ao hidrogénio é que o positrão tem carga positiva e anda em redor de um antiprotão com carga negativa.
Mas há grande incompatibilidade entre matéria e antimatéria: quando se encontram, aniquilam-se. Por isso, é muito difícil produzir na Terra antimatéria.
"A primeira criação de átomos de antimatéria no CERN abriu a porta para a exploração sistemática do antimundo", dizia um comunicado do laboratório.
Explorar o antimundo passa por perceber por que existe muito mais matéria do que antimatéria no Universo, quando, em teoria, deveria ter sido criada a mesma quantidade no Big Bang e ter-se-iam depois aniquilado mutuamente. Mas pode haver por aí antiterras, anti-sóis ou anti-extraterrestres. Pelo menos em 1997, uma equipa norte-americana detectou uma nuvem de positrões no centro da nossa galáxia, com o telescópio Compton.
Para deslindar a razão de ser da assimetria entre matéria e antimatéria, o CERN criou uma espécie de fábrica de antimatéria, que em 2000 começou a laborar: um túnel de 188 metros, em forma de circunferência, e que se chama Desacelerador de Antiprotões. Para fabricar átomos de antimatéria, é preciso reduzir a velocidade dos antiprotões e aprisioná-los.
Em 2002, a fábrica produziu muita antimatéria: 50 mil átomos de anti-hidrogénio. O novo acelerador de partículas do CERN, o Large Hadron Collider, que começará a funcionar para o ano, continuará a investigar as diferenças entre matéria e antimatéria.