Uma cadeira de rodas made in Portugal que se move com um piscar de olhos

O Inesc-Tec desenvolveu um protótipo que está pronto para ser lançado no mercado, mas ainda procura parceiros para a sua produção. Sector da saúde é a mais recente aposta do laboratório com sede no Porto.

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O protótipo da cadeira de rodas inteligente Bárbara Raquel Moreira

Esta cadeira de rodas destina-se a pessoas com paralisia cerebral, ou que tenham sofrido as consequências de um acidente vascular cerebral (AVC), por exemplo. Na prática, adapta-se a utilizadores com diferentes tipos de problemas de saúde. “Cada pessoa poderá ter a sua forma de comunicar com a cadeira”, explica o investigador do Inesc Luís Paulo Reis, que coordenou a investigação que esteve na base deste protótipo.

Os movimentos do dispositivo podem ser regulados por um joystick, como nas cada vez mais comuns cadeiras de rodas elétricas, mas também através de um interface multimodal, que se adapta a cada um. É por isso que o sistema é capaz de responder a comandos de voz, movimentos de cabeça ou expressões faciais simples, como um piscar de olhos, que depois se combinam numa linguagem adequada ao seu utilizador.

O dispositivo está pronto e foi apresentado no final de Janeiro, fruto de seis anos de trabalho no Inesc e de uma parceria alargada, que envolveu também as universidades do Porto, de Aveiro e do Minho e a Escola Superior de Tecnologia de Saúde do Instituto Politécnico do Porto, bem como a Associação do Porto de Paralisia Cerebral, que foi o parceiro de testes da cadeira de rodas.

Para trás, tinham ficado os primeiros trabalhos de vários destes investigadores numa área aparentemente recreativa: alguns dos investigadores do Inesc que estão na base desta inovação foram responsáveis por uma equipa de futebol robótico, que durante vários anos conquistou várias competições a nível internacional. “Ganhámos quatro campeonatos do mundo e dez da europa”, diz sorridente Luís Paulo Reis, acrescentando de seguida: “Depois, pudemos colocar este tipo de experiência ao serviço dos cidadãos num projecto socialmente mais útil.”

A cadeira de rodas inteligente, como é apresentada, é já um protótipo final, completamente testado, que permite construir o dispositivo à escala industrial. O que falta agora são os investidores. “Não existe mercado em Portugal”, avalia Luís Paulo Reis, pelo que não tem havido empresas interessadas em produzir esta inovação. A solução da equipa do Inesc passa por apontar para fora do país, criando um projecto europeu ou luso-brasileiro que permita fazer chegar o produto ao mercado.

Este é um problema comum aos vários protótipos e tecnologias divulgados no primeiro dia aberto dedicado à saúde no Inesc. O instituto, que faz parte da rede de laboratórios associados desde 2002, mostrou publicamente 34 projectos, fruto de investigações feitas nos últimos cinco a seis anos, de modo a “sinalizar” a sua “disponibilidade para mais colaborações”, quer com outros parceiros do mundo científico quer com a sociedade civil e as empresas, afirma o director Vladimiro Miranda.

“Esta é uma feira para comprar parcerias”, sintetiza o mesmo responsável. A dificuldade é o facto de Portugal ter “um mercado exíguo” que não tem dimensão suficiente para viabilizar muitos destes projectos e a ausência de parceiros industriais “com o músculo adequado” para poder produzir alguns destes dispositivos. A solução encontrada é procurar empresas fora do país, até porque muitas vezes é a entrada em mercados internacionais que viabiliza o sucesso posterior no mercado português, conta Vladimiro Miranda.

Estas dificuldades não alteram a estratégia do Inesc, que quer fazer da área da saúde a sua nova aposta, depois da energia ou das ciências da computação. Para isso, o laboratório criou nos últimos meses uma nova unidade de investigação para preparar o seu “ataque” a este mercado. O Ciber – Center for Biomedical Engineering Research (Centro para a Investigação em Engenharia Biomédica) foi criado com o objectivo de concentrar o esforço do laboratório do Porto neste sector. O Ciber acolheu também um grupo de investigadores que até agora trabalhou noutro laboratório ligado à Universidade do Porto, no Instituto de Engenharia Biomédica (Ineb), que vieram acrescentar “conhecimento de mercado” por via do seu trabalho anterior nesta área, acredita Vladimiro Miranda.
 
 

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