Mercúrio esteve activo durante muito tempo
A informação recolhida através da sonda americana Messenger revela que as crateras de impacto na superfície do planeta mercúrio sofreram modificações, após a sua formação, através de um processo geológico. Um outro estudo, publicado hoje na mesma revista – e apresentado na Lunar and Planetary Science Conference, a decorrer no Texas –, avaliou os campos de gravidade de Mercúrio e mostra que o planeta tem uma estrutura interna invulgar.
“Muitos cientistas acreditavam que Mercúrio era muito semelhante à Lua: que arrefeceu muito cedo na história do sistema solar e ao longo da sua evolução permaneceu um planeta morto”, afirmou Maria Zuber, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), citada pela BBC. “Mas agora estamos a conseguir reunir provas de uma dinâmica invulgar neste planeta, indicando que, aparentemente, Mercúrio esteve activo durante muito tempo”, acrescentou.
Os investigadores recorreram a medições por laser a partir do Messenger para desenhar o mapa do número de crateras de impacto do planeta, descobrindo que muitas tinham sofrido alterações com o tempo. As medições da maior cratera de Mercúrio mostraram mesmo que algumas partes da base da cratera se encontram a um nível mais elevado do que o cume, sugerindo que as forças no interior do planeta empurraram a superfície depois da colisão inicial. Os investigadores também identificaram uma zona de planície próxima do pólo norte de Mercúrio que terá resultado da evolução do planeta.
As medições do campo de gravidade de Mercúrio obtidas com a sonda Messenger confirmaram ainda, tal como se suspeitava, a presença de um grande núcleo de ferro parcialmente líquido e que constitui cerca de 85% do raio, com o manto exterior – fino como uma casca de laranja mas surpreendentemente denso – a compor os restantes 15%.
O tamanho de Mercúrio e as forças gravíticas entre os planetas do Sistema Solar levaram gerações de cientistas a concluir que a quantidade de ferro presente no planeta tinha que ser muito maior do que a que existe nos outros planetas do interior do Sistema Solar - Vénus, Terra e Marte.
Já em Setembro, os resultados da Messenger revelavam a presença de potássio e enxofre na superfície do planeta e que, segundo as várias teorias existentes até altura, deveriam ter sido volatilizados.
Por outro lado, os cientistas descobriram também nessa altura uma camada de lava solidificada que cobre seis por cento da área do planeta, o equivalente a três quintos dos Estados Unidos, e tem uma espessura de mais de um quilómetro. A lava brotou de rachas na superfície em grandes quantidades, num fenómeno de vulcanismo que durou pouco tempo e aconteceu entre 3,5 e quatro mil milhões de anos atrás. Esta lava seria tão quente que derretia a superfície, provocando sulcos.
As surpresas não ficam por aqui, revelava-se ainda uma paisagem nunca vista, formada por muitos buracos sem bordas salientes, que ocorrem em zonas de substratos brilhantes no meio de crateras de impacto de meteoritos Observações que, na altura, faziam prever que Mercúrio estivesse geologicamente activo. Os novos dados publicados agora confirmam que estaremos perante um planeta dinâmico.