Programa Haja Luz nas Escolas inicia Ano Internacional da Luz em Portugal
Lançamento português da iniciativa internacional das Nações Unidas foi em Lisboa, na escola Passos Manuel, com um espectáculo de luzes que quer agora chegar a escolas de todo o país.
A demonstração, segunda-feira à tarde, fez parte do espectáculo de luz “Física Viva” da Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro, integrado na apresentação do programa Haja Luz nas Escolas. E serviu para o lançamento simbólico do Ano Internacional da Luz (AIL) em Portugal, uma iniciativa internacional das Nações Unidas, para promover o conhecimento sobre o papel da luz na sociedade.
"A vossa escola vai receber a luz, quero que a luz chegue a todas as escolas do país", disse o físico Carlos Fiolhais aos alunos da escola Passos Manuel e a outras pessoas que compunham a plateia, no início da sua conferência também intitulada Haja Luz nas Escolas, que precedeu o espectáculo. Professor na Universidade de Coimbra e divulgador de ciência, Carlos Fiolhais é o coordenador da comissão nacional do AIL.
"Devemos tudo à luz. A nossa proximidade do Sol é a única razão para termos vida aqui", disse Carlos Fiolhais, referindo-se à fotossíntese, que permite às plantas e a muitos outros organismos aproveitarem a luz do Sol para se alimentarem. “A luz informa-nos sobre o mundo”, atirou ainda o físico, referindo-se à visão, um dos sentidos mais importantes, que usa parte da radiação solar que chega à Terra para interpretar a informação que está à nossa volta e nos dá acesso à realidade. Por isso, “a luz interessa a toda gente”, resumiu.
Depois, o físico atirou-se à história da ciência. O ano de 2015 é importante por várias efemérides relacionadas com a luz, daí ter sido escolhido para a iniciativa. Há 100 anos nascia a teoria da relatividade geral pela mão de Albert Einstein. Dez anos antes, Einstein já tinha elaborado a teoria da relatividade restrita e explicado o efeito fotoeléctrico.
Mas Carlos Fiolhais iniciou a viagem muito mais atrás, até uma altura na história em que a luz vinha do mundo muçulmano. E trouxe para o auditório a memória de Ibn al-Haytham, um astrónomo e matemático árabe que nasceu em 965 em Bassorá, hoje Sul do Iraque, e que por volta de 1015 iniciou o lançamento dos sete volumes do seu famoso Tratado de Óptica.
"Escreveu o primeiro livro sobre a luz", referiu Carlos Fiolhais, que foi andando pela história e referindo outros nomes da ciência importantes para a compreensão da natureza da luz: Galileu Galilei, Isaac Newton, William Herschel, James Clerk Maxwell, Heinrich Hertz, Wilhelm Röntgen e, finalmente, Albert Einstein. “Foi ele que disse que nada pode ser mais rápido do que a luz”, lembrou.
De seguida, veio o espectáculo de luzes, onde se ficou a perceber que a tecnologia dos lasers estava em todas as casas, como nos leitores para ler os CD. O espectáculo terminou com uma luta de jedis, inspirada no filme da Guerra das Estrelas, onde uma bobina de Tesla — um aparelho que produz um elevado campo electromagnético no ar à sua volta — serviu para acender duas lâmpadas de cozinha. E que funcionaram como sabres de luz, sempre que se aproximavam da bobina. “Jihadistas no espaço”, ouve-se um aluno a dizer. Uma festa.
Festa, palestras, eclipse
O espectáculo faz parte de um pacote de iniciativas para as escolas, que conta com exposições, palestras, workshops para professores. “Queremos acender o cérebro nas escolas e acender o cérebro ligado à luz”, disse ainda Carlos Fiolhais, explicando que as escolas podem inscrever-se nas iniciativas que considerarem mais apropriadas, sem terem de pagar. A comissão recebeu até agora, no total, cerca de 100.000 euros do Ministério da Educação e Ciência, da Fundação Calouste Gulbenkian e da Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica — Ciência Viva.
O programa Haja Luz nas Escolas é dos mais importantes entre as iniciativas portuguesas do AIL, cuja abertura oficial internacional ocorreu em Paris a 19 e 20 de Janeiro. Como outras iniciativas das Nações Unidas, o objectivo é agregar actividades surgidas a nível nacional. Por isso, quem tiver uma ideia que esteja ligada ao tema da luz, em qualquer área, seja na ciência, na tecnologia, na arte, pode inscrever-se no site português www.ail2015.org. Aí pode também consultar-se o calendário de actividades no país.
"Não queremos que seja um acontecimento dirigista", resume Teresa Peña, presidente da Sociedade Portuguesa de Física, que falou do Ano Internacional da Luz, chamando a atenção para os "muitos problemas que estão no horizonte de hoje" relacionados com as tecnologias da luz. A falta de luz eléctrica em muitas partes de África, que impede as crianças de estudar à noite, é apenas um desses problemas.
Por cá, Carlos Fiolhais lembra que Portugal pode aproveitar mais a luz solar para energia eléctrica ou, por outro lado, melhorar o uso da luz para evitar o excesso de luminosidade nas cidades que impedem a observação do céu nocturno. Em Julho, na Reserva Dark Sky Alqueva, no Alentejo — onde há condições para ver o céu nocturno sem interferência de luz eléctrica —, haverá o Dark Sky @ Party Alqueva, uma festa integrada no AIL.
O ano vai contar também com palestras e exposições. A 27 de Novembro “grandes nomes internacionais” da ciência estarão na Fundação Calouste Gulbenkian para um dia de conferências organizado por Carlos Fiolhais e Teresa Peña. Já em Março, a Gradiva vai editar o livro Uma Biografia da Luz — A História do Fotão Cansado, do físico José Tito Mendonça. Mas muito antes, já na sexta-feira, pode observar-se um eclipse solar parcial em Portugal, quando a Lua passar à frente do Sol. Uma oportunidade rara de ver a luz, graças às sombras.