Impacto da produção científica: Portugal na cauda da Europa

Segundo os mais recentes dados, o impacto dos artigos produzidos em Portugal e publicados em revistas internacionais continua a ser muito insuficiente. Mas o relatório não menciona nem compara o dinheiro gasto por cientista no país, que é cerca de metade do da média europeia.

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Os últimos dados revelam que o nível da ciência portuguesa está longe da média europeia Clara Carvalho Tomás

O impacto científico é medido pelo número de vezes que cada artigo que descreve resultados científicos produzidos em Portugal é citado por outros artigos científicos. Trata-se de um indicador usado em todo o mundo para avaliar a qualidade científica de uma dada pesquisa. No entanto, este relatório não menciona nem compara o investimento de cada português por investigador em Portugal e nos outros países, um factor decisivo para se poder avaliar a produtividade dos cientistas. Na realidade, em 2012, por habitante português, gastou-se apenas 262,8 euros em ciência. A média europeia é de 461 euros por habitante.

A análise considerou 22 áreas científicas e comparou o impacto de Portugal com o da União Europeia dos 15 e com o da União Europeia dos 27. E embora o impacto científico de Portugal tenha globalmente aumentado de forma clara desde os anos 1990, os gráficos agora apresentados indicam que nos últimos anos ele tem vindo a descer, a estabilizar ou a crescer apenas ligeiramente em 10 das 22 áreas consideradas.

Talvez mais preocupante ainda é que no último período considerado – 2008-2012 –, Portugal aparece não só globalmente, mas também separadamente em 15 das 22 áreas científicas, com um impacto científico situado entre os três mais baixos valores dos países da Europa dos 15 (UE15). Esse impacto é igualmente inferior à média se se considerar a Europa dos 27 (UE27), que já é inferior à média da UE15.

Mais precisamente: entre 2008 e 2012, o impacto por artigo científico de Portugal ocupa o último lugar da UE15 nas áreas da Medicina Clínica, Geociências, Microbiologia, Farmacologia e Toxicologia e Psicologia/Psiquiatria; o penúltimo nas áreas de Biologia e Bioquímica, Química, Ciências da Computação, Ecologia/Ambiente, Ciência dos Materiais, Matemática, Biologia Molecular e Genética, e Ciências Sociais; e o antepenúltimo nas áreas de Economia e Gestão e Ciências Zoológicas e Botânicas. Diga-se todavia que, apesar de tudo, o impacto da produção científica nacional continuou numa curva ascendente, em relação aos quinquénios considerados anteriormente, em todas estas áreas excepto a da Microbiologia.

Há por outro lado sete áreas onde o país se situou, entre 2008 e 2012, acima da média da UE15 (e por conseguinte, da UE27): Ciências Agrícolas (10º entre 15), Engenharia (9º), Imunologia (5º), Neurociências e Comportamento (8º), Física (7º), Ciências do Espaço (2º) e área Multidisciplinar (7º). Contudo, o impacto científico das Neurociências, considerada uma área de excelência, diminuiu – e as Ciências do Espaço, apesar de ocuparem um mais do que louvável segundo lugar no quinquénio considerado, viram o seu impacto diminuir.

Uma excepção: a Imunologia, onde o impacto da produção científica portuguesa não só continuou a aumentar em relação aos períodos anteriores, mas foi também, como já referido, o quinto maior da UE15 no período 2008-2012.

Os resultados desta análise permitem concluir que a convergência de Portugal com o resto da Europa, em termos de produção científica de qualidade, ainda está largamente por acontecer. Resta ainda saber que influência irão ter nos próximos anos os recentes cortes de financiamento do sistema científico português.

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