Homens portugueses cresceram em média oito centímetros em 70 anos
Estudo mostra que altura média dos homens europeus aumentou 11 centímetros em 110 anos. Em Portugal, os homens cresceram ao longo do século XX, mas ainda são os mais baixos entre os 15 países estudados.
"O aumento na estatura humana é um indicador-chave da saúde média das populações", explica Timothy Hatton, professor de economia na Universidade de Essex, Inglaterra, no artigo em que é o único autor.
O investigador recolheu o máximo de dados possíveis sobre altura média dos homens com cerca de 21 anos, cuja idade de nascimento vai desde 1871 até 1980, em 15 países: Dinamarca, Finlândia, Holanda, Noruega e Suécia (os países do Norte da Europa); Alemanha, Áustria, Bélgica, Grã-Bretanha e Irlanda (os países do Centro); e Espanha, França, Grécia, Itália, Portugal (os países do Sul). Nalguns dos países, como Portugal, o autor refere que só foi possível obter dados a partir de datas mais recentes.
O investigador encontrou esta informação nos registos militares dos recrutas dos países para as datas mais antigas. No caso de décadas mais recentes, os dados foram retirados de estudos avulsos, nos quais havia registos de séries longitudinais sobre as alturas. A investigação centra-se nos homens, já que é mais difícil encontrar dados para as mulheres, embora se saiba que a altura média delas é cerca de dez centímetros menor do que a dos homens.
Assim, durante 110 anos, contados a partir de 1871 e até 1980, a média de alturas dos homens europeus passou dos 167 centímetros em 1971, para 178 centímetros em 1980. Os mais altos são os holandeses, que em 110 anos passaram, em média, de 1,66 para 1,83 metros, ou seja, cresceram 17 centímetros.
Do lado oposto estão os portugueses. Os homens nascidos em 1911 — data em que começa haver informação para Portugal — cresceram, em média, até aos 1,64 metros (nessa época, os holandeses já tinham atingido 1,73 metros de altura média). Já os homens portugueses nascidos em 1980, ou seja, 70 anos depois o início da contagem deste estudo, atingiram 1,72 metros de altura.
Para Timothy Hatton, este disparo nas alturas médias dos homens europeus não é explicado pela genética ou pela selecção natural, que promove a sobrevivência e a reprodução dos indivíduos mais adaptados ao ambiente numa dada população. "Apesar da hereditariedade genética explicar a maioria das diferenças [na altura] entre dois indivíduos, a evolução do genoma total não pode explicar aumentos na altura média tão substanciais em apenas quatro ou cinco gerações", escreve o investigador no artigo. "Se podemos esperar alguma coisa da selecção natural, é que terá sido menos importante no século XX do que em séculos anteriores."
Então, o que terá acontecido? O autor foi estudar vários factores que se podem relacionar com a estatura, como a mortalidade infantil, o tamanho das famílias, o aparecimento dos sistemas nacionais de saúde, o aumento do rendimento per capita, uma melhoria dos sistemas sanitários e da educação sobre a saúde e a alimentação. A associação mais forte que encontrou foi a forte diminuição da mortalidade infantil. Segundo os dados, entre 1871 e 1875 morriam 170 crianças por 1000 nascimentos, número que desceu para 120 entre 1911-1915, 41 em 1951-1955 e, finalmente, 14 em 1976-1980.
"As provas mostram que melhorar o ambiente sanitário, reduzindo as doenças, o que se traduz numa diminuição da mortalidade infantil, é o maior factor no aumento da estatura", explica o investigador.
Segundo o estudo, a alimentação durante os primeiros dois anos de vida é importantíssima para o futuro crescimento das crianças. Um mundo com menos mortes infantis traduz-se também num mundo onde, no geral, as crianças têm menos problemas de saúde, como doenças respiratórias ou diarreia, o que afecta positivamente o crescimento.
O trabalho mostra ainda um desfasamento na forma como se cresceu nos países do Norte e do Centro da Europa em relação aos do Sul. Enquanto nos primeiros, os homens aceleraram o seu crescimento entre as duas guerras mundiais, nos países mediterrânicos deu-se essa aceleração após 1950. Isto deveu-se, conclui o trabalho, a um aumento de riqueza e à adopção de medidas sociais, que nos países do Sul, onde Portugal se inclui, surgiram mais tarde.