Há um novo lar para a Via Láctea, chama-se Laniakea e tem 100.000 galáxias

Laniakea ou “céu incomensurável” tem 520 milhões anos-luz de diâmetro. Uma equipa usou novos utensílios para definir as fronteiras do superaglomerado de galáxias onde a Via Láctea está.

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O superaglomerado com a Via Láctea na periferia CEA/Saclay

“Identificámos finalmente os contornos que definem o superaglomerado de galáxias a que chamamos lar”, disse R. Brent Tully, da Universidade de Havai, em Manoa, nos Estados Unidos, num comunicado de imprensa do Observatório Nacional de Astronomia de Rádio (ONAR), EUA. “Isto não anda longe de quando se descobre que a nossa cidade afinal faz parte de um país maior que tem fronteiras com outras nações”, ilustrou o cientista, líder deste trabalho que contou com investigadores de instituições de França e de Israel.

Usando o telescópio Green Bank, do ONAR, que fica na Virgínia Ocidental, e outros telescópios, a equipa conseguiu medir as fronteiras do superaglomerado. “Um dos grandes avanços da cosmologia tem sido a descoberta de como a matéria e a luz se organizam a escalas maiores do que as galáxias”, explicou Elmo Tempel, astrónomo do Observatório de Tartu, na Estónia, que escreveu também na Nature um artigo sobre esta descoberta.

A Via Láctea, onde num dos seus braços se situa o sistema solar, está ligada a outras galáxias por “filamentos” gravíticos. Vistos de fora, estes "filamentos" formam uma rede interligada de galáxias, que separam regiões maiores do espaço que estão vazias.

A equipa de R. Brent Tully mediu a posição de 8000 galáxias próximas da Via Láctea e, tendo em conta o movimento de expansão do Universo, distinguiu o grupo de galáxias que está a aproximar-se da Via Láctea, do outro grupo que se está a afastar. Depois, através de um algoritmo que tinha por base a matéria das galáxias da região próxima da Universo, os investigadores conseguiram definir as fronteiras da Laniakea.

Este superaglomerado estende-se ao longo de 520 milhões de anos-luz e tem 100.000 galáxias. Ao todo, estas galáxias contêm 100.000 biliões (milhão de milhão) de estrelas. A Via Láctea está na sua periferia. No centro do superaglomerado, existe uma grande esfera gravítica que atrai as galáxias. As galáxias que já não são influenciadas por este movimento farão parte de outros superaglomerados, que polvilham o Universo.

“Parece que as medições das velocidades [de afastamento] das galáxias são essenciais para identificar as fronteiras dos superaglomerados”, escreveu Elmo Tempel. Segundo o astrónomo, conhecer a morfologia da região do Universo perto da Terra irá ajudar a determinar com precisão certos parâmetros como a densidade da energia escura – uma energia que deverá constituir 90% do Universo e que se pensa ser responsável pela sua expansão.

Mas Elmo Tempel defende que o mapeamento não pode acabar aqui: “O Universo tem de ser mapeado a uma escala maior que esta para compreendermos completamente os processos que influenciaram a formação das estruturas cósmicas no nosso Universo local.”

Laniakea divide-se em duas palavras havaianas: lani, que significa “céu”, e akea, que quer dizer “espaçoso” ou “incomensurável”. Nawa’a Napolean, um investigador de linguística da Universidade do Havai, ajudou a chegar a esta palavra. É uma homenagem à cultura dos povos daquelas ilhas do Pacífico, explica o comunicado: “O nome honra os navegadores da Polinésia que usavam o conhecimento dos céus para navegar no imenso Oceano Pacífico.”

Este nome ajuda-nos então a olhar o céu nocturno e a transcender a Via Láctea, a nossa “cidade”, como referiu R. Brent Tully. Apesar de não vermos os seus contornos, Laniakea não serve uma abstracção, é antes a confirmação de que existem estruturas maiores e mais complexas do que as galáxias, com princípio, meio e fim. Ainda não se sabe como se formaram, porque é que chegaram a esta forma, também nesse sentido o Universo continua a parecer incomensurável. Mas a Terra tem agora a sua morada mais completa.

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