Quantas árvores tem a Terra? Três biliões
Última estimativa era de apenas 400.000 milhões. Um estudo que juntou dados no terreno com imagens de satélite mostra que número é oito vezes maior – mas 10.000 milhões de árvores são destruídas todos os anos.
Aquele número de árvores foi obtido graças à combinação de dados recolhidos no terreno, quando se contabilizam directamente as árvores, com as imagens de satélite, num trabalho de investigadores de 15 países. Os resultados são publicados nesta quinta-feira na revista científica Nature. Além dos 3,04 biliões de árvores, os cientistas estimaram ainda que estas árvores são apenas 54% das que existiam inicialmente, antes da civilização humana se estabelecer. Esta diminuição da cobertura vegetal deve-se essencialmente à actividade humana, que já destruiu perto de três biliões de árvores desde então, quase tantas quanto as que existem hoje. Uma voragem que continua a matar, anualmente, 10.000 milhões de árvores, segundo os autores.
“As árvores estão entre os organismos mais proeminentes e importantes na Terra, ainda assim só recentemente é que começámos a compreender a sua extensão”, sublinha Thomas Crowther, da Faculdade de Yale para a Floresta e Estudos Ambientais, EUA, e coordenador do trabalho. “Elas armazenam enormes quantidades de carbono, são essenciais para a reciclagem de nutrientes, para a qualidade da água e do ar”, acrescentou o investigador, citado num comunicado da Universidade de Yale.
Antes, a estimativa que existia do número de árvores na Terra era de apenas 400.000 milhões, cerca de oito vezes menos do que o número actual e baseada em imagens de satélite. Mas depois de se ter feito um estudo mais aprofundado da Amazónia e se ter descoberto que só ali existiam 390.000 milhões de árvores, compreendeu-se que o número global subestimava em muito a realidade.
Agora, os cientistas usaram dados do número de árvores recolhidos em 429.775 locais diferentes, feitos por instituições e equipas em todo o mundo. Com isso, tiveram uma ideia da densidade das árvores em muitos locais, ou seja, o número de árvores que existe por uma determinada unidade de área. A equipa definiu uma “árvore” como uma planta com um tronco de, pelo menos, dez centímetros de diâmetro à altura do peito de uma pessoa.
Com estes valores, os investigadores conseguiram perceber que a região do mundo onde há uma maior densidade de árvores é na floresta boreal, composta por coníferas. No entanto, 43% das árvores da Terra estão espalhadas pelas florestas tropicais, enquanto a região boreal contém 24% e as zonas temperadas têm apenas 22%. Por cada ser humano, existem 422 árvores em todo o mundo. Para Portugal, os autores calcularam a existência de 3126 milhões de árvores, o que equivale a 301 árvores por português.
Além disso, os cientistas mostraram que certas condicionantes como a temperatura e a humidade estão associadas a uma maior densidade de árvores, enquanto outras, como a existência de população humana, têm uma consequência negativa.
Thomas Crowther explica que este trabalho não revoluciona o que se sabe da cobertura vegetal. “Não descobrimos novas árvores nem novas áreas da Terra com floresta”, explica aos jornalistas, numa conferência de imprensa organizada pela Nature. “Encontrámos apenas uma nova métrica que pode ajudar a conceptualizar a extensão florestal do mundo.”
Para o investigador, estes números são importantes para se compreender a pressão humana sobre a floresta. Anualmente, 15.000 milhões de árvores são cortadas e há 5000 milhões de árvores novas. Mas o saldo é claramente negativo, de 10.000 milhões: “É importante sabermos a quantidade de árvores que perdemos para compreender o impacto que tivemos e o tipo de impacto que temos de ter se queremos restaurar a floresta.”
O estudo da cobertura vegetal poderá ajudar a calcular melhor a quantidade de carbono sequestrado pelas árvores, que atrasa o aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera – um fenómeno que provoca o aquecimento global. No entanto, saber só o número de árvores não chega, explica Thomas Crowther. Uma árvore grande consome mais carbono do que muitas árvores pequenas, pelo que será preciso calcular as dimensões das árvores. “Podemos olhar para as relações entre os tamanhos das árvores e a densidade e começar a gerar vários tipos de modelos”, refere, apontando este como um objectivo futuro.
Num comentário ao artigo, Nathalie Pettorelli, cientista da Sociedade Zoológica de Londres, elogia a investigação da equipa internacional por medir um parâmetro importante – a densidade florestal. Mas aponta limitações: “Há muito pouca informação [sobre o número de árvores] recolhida para a bacia do Congo, a China, a Austrália ou a Índia. À medida que mais informação ficar disponível, seria interessante refinar as estimativas.”