É um pseudo-escorpião único e vive numa gruta do Algarve

A bióloga Ana Sofia Reboleira encontrou um aracnídeo tão raro que não tem parentes próximos em quase todo o Hemisfério Norte. Vive perto de Portimão.

Foto
O "Lusoblothrus aenigmaticus" tem cerca de meio centímetro de comprimento Ana Sofia Reboleira

A carapaça e as pinças são avermelhadas, o abdómen esbranquiçado. Não tem olhos, já que se adaptou ao ambiente sem luz das grutas, e não chega a ter meio centímetro de comprimento. Eis o "Lusoblothrus aenigmaticus", um pseudo-escorpião de um género e uma espécie novos para a ciência, descoberto por uma bióloga portuguesa numa gruta perto de Portimão.

Pseudo-escorpião? Sim, e esse é um grupo de aracnídeos: por exemplo, ao contrário dos escorpiões, que têm o aguilhão no fim do corpo, com o qual inoculam o veneno, os pseudo-escorpiões são desprovidos dessa estrutura. Inoculam o seu veneno nas presas com as pinças.

E este que acaba de ser descrito na revista científica Zootaxa, como noticiou a agência Lusa, tem várias particularidades. Ana Sofia Reboleira, que o descobriu em 2009, durante o trabalho de doutoramento na Universidade de Aveiro, entretanto concluído, encontrou um único exemplar – uma fêmea. Mais: é um animal sem familiares próximos em quase todo o Hemisfério Norte.

“Os parentes mais próximos estão noutros continentes. Está deslocado geograficamente”, realça a bióloga. “A sua ocorrência nesta zona é bastante enigmática”, refere ainda Ana Sofia Reboleira, explicando assim por que parte do nome científico do pseudo-escorpião remete para a palavra latina “enigma”.

Por estas razões, a bióloga considera que o Lusoblothrus aenigmaticus é uma relíquia biológica, quase um fóssil vivo. “Pertence a um grupo de fauna antiga que habitava este território e que, fruto das alterações climáticas, encontrou refúgio ao longo do tempo no meio subterrâneo e sobreviveu até aos nossos dias.”

Há quanto tempo os seus antepassados migraram da superfície para o interior da terra, acumulando uma série de adaptações a essas condições de vida, não se sabe dizer com precisão – apenas que foi “há muitos milhares de anos.”

Na sua lista de descobertas, Ana Sofia Reboleira conta já com 11 animais que representam novos géneros e espécies para a ciência, incluindo aquele que acaba de ser apresentado ao mundo. Vários encontram-se igualmente em grutas algarvias, o que mostra a sua relevância na Península Ibérica como refúgio de animais considerados relíquias.

Sugerir correcção
Comentar