Cientistas organizam “conversa de café" em Lisboa para falar de ciência versus pseudociência

Em protesto contra o seminário que um “guru” da auto-ajuda faz este fim-de-semana em Lisboa, um grupo de cientistas decidiu convidar o público a falar de “ciência a sério” no café mesmo em frente ao hotel onde decorre aquele evento.

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Logotipo da iniciativa deste sábado DR

Um grupo de jovens cientistas organizou esta original tertúlia em protesto contra um seminário que decorre, de sexta-feira a domingo, no Sana Lisboa Hotel, do outro lado da Avenida Fontes Pereira de Melo.

O seminário em causa, que inclui workshops e uma palestra, intitula-se “Criar um novo eu – Quebre o hábito de ser como é” e está a cargo do “neurocientista norte-americano Joe Dispenza […], autor de três livros sobre o cérebro”, como anunciava há dias a organização do evento em comunicado. “Quebrar hábitos enraizados no comportamento e na personalidade, aumentando a resiliência nos tempos de crise, são os desafios que Joe Dispenza lança aos portugueses”, lia-se ainda naquele documento.

Quem é Joe Dispenza? No seu site oficial, apresenta-se como “neurocientista, quiroprático, conferencista e autor”. “Dr. Joe", informa-nos o seu curriculum vitae, "obteve o seu doutoramento em quiropraxia, com louvores, na Life University. A sua formação de pós-graduado abrangeu a neurologia, as neurociências, a função cerebral e a química, a biologia celular, a formação da memória e o envelhecimento e a longevidade”.

“Joe Dispenza é sem dúvida conhecido sobretudo pela sua aparição em What the Bleep do We Know?, um documentário altamente criticado pela comunidade científica por abusar de conceitos da Física Quântica para promover pseudociência”, salienta por seu lado a COMCEPT (Comunidade Céptica Portuguesa) — que apoia o evento na pastelaria Coringa —, num artigo publicado no seu site.

“Aquilo pelo qual Joe Dispenza não é de todo conhecido”, explica ainda este texto, “é por ser um neurocientista, até porque uma simples pesquisa na maior base de dados de artigos científicos da área da saúde não mostra sequer um único artigo com revisão por pares da sua autoria”.

Tudo isto, aliado ao facto de a participação nos três dias do seminário de Joe Dispenza custar 450 euros, como revela uma consulta à Ticketline, indignou alguns jovens neurocientistas de várias instituições de investigação portuguesas, que decidiram por isso organizar o contra-evento — gratuito — com verdadeiros neurocientistas no já referido café.

O grupo criou uma página no Facebook para divulgar o evento e lançou ainda uma carta aberta, intitulada “Alerta sobre ciência versus pseudociência”, que todos podem assinar. Este apelo já recolheu várias centenas de assinaturas, entre as quais as de personalidades das neurociências como Rui Costa, da Fundação Champalimaud, em Lisboa — mas também de outras áreas da ciência, como o físico Carlos Fiolhais, da Universidade de Coimbra, e o bioquímico António Jacinto, da Universidade de Lisboa.

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