Carcaça de baleia que estava para explodir no Canadá vai afinal para museu
Durante dias uma pequena povoação observou atentamente à espera que o corpo de uma baleia-azul que deu à costa explodisse. Mas a carcaça é valiosa pelo contributo que pode dar à ciência para se conhecer melhor uma espécie em risco de extinção.
Normalmente, as baleias morrem em mar alto e acabam por se afundar. No fundo do mar, as suas carcaças tornam-se em alimento e forma-se um ecossistema dinâmico num habitat (o fundo do mar) que é, normalmente, escasso em nutrientes.
Mas não é assim tão raro as carcaças mortas dos cetáceos serem arrastadas para a costa e, sendo tão grandes, ficarem presas nas praias. Foi o que aconteceu na povoação de Trout River, na ilha de Newfoundland, no oceano Atlântico, que faz parte da província canadiana de Newfoundland e Labrador.
O corpo da baleia que surpreendeu a comunidade de Trout River tem 170.000 quilos, de acordo com a National Geographic, e mede 25 metros de comprimento, diz a BBC News. Devido à actividade bacteriana dentro da carcaça, associada à putrefacção, houve a produção de substâncias que fizeram inchar a baleia, como o amoníaco, o sulfureto de hidrogénio e gases de metano.
O inchaço fez com que se temesse, ou esperasse, consoante o observador, que a baleia rebentasse. Nas redes sociais, apareceram vídeos onde se via o rebentamento de outras carcaças de baleias que deram à costa no passado. No entanto, os rebentamentos aconteceram ou porque explodiram com a baleia, ou porque tentaram dissecar o seu corpo.
“A pele da baleia e a sua gordura são rijas”, explicou Andrew David, biólogo autor do blogue Southern Fried Science, num artigo de pergunta-resposta da revista National Geographic. “As massivas pregas na região da garganta que se vêem inchadas em todas as fotografias estão desenhadas para se encherem de água salgada e forçarem a água a sair pelas barbas da baleia [de modo a filtrarem a comida]. Esta estrutura pode aguentar muita pressão.”
Os maiores animais
No entanto, a atenção gerada pelo fenómeno foi tão grande que fez com que pessoas fossem visitar o objecto. Até se criou um site – Has the whale exploded yet? – que reúne informação sobre o assunto. Mas a entrada que inicia o site, de uma mensagem no Twitter do jornalista Don Bradshaw, mostra uma fotografia de 2 de Maio em que a carcaça da baleia parece minguada. “Quem espera que a #explodingwhale [um hashtag para baleia] rebente vai ficar desapontado. Está a ficar sem gás”, escreveu o jornalista.
O que estará a acontecer é que o metano está a ser naturalmente libertado. Apesar do mais provável ser que a baleia não expluda, aconselha-se que as pessoas se afastem da baleia e não subam para cima dela.
A pequena comunidade de 600 pessoas não sabia o que fazer com o corpo enorme da baleia. Mas quinta-feira passada, um comunicado do Museu Real do Ontário anunciava que os seus funcionários iriam buscar esta carcaça e o corpo de outra baleia-azul que foi dar à costa em Rocky Harbour, também na ilha de Newfoundland, para ficar com os ossos.
A Balaenoptera musculus, o nome em latim para a baleia-azul, é o maior animal que se pensa que alguma vez existiu na Terra. A espécie está ameaçada. Segundo o comunicado, a população de baleias-azul do Noroeste do Atlântico conta com menos de 250 indivíduos adultos.
Estas duas carcaças que foram dar à costa morreram em Abril de 2014 com outras sete, por terem ficados presas no gelo a sudoeste de Newfoundland. “Esta perda, que representa até 5% desta espécie em risco de extinção, é extremamente infeliz”, disse Mark D. Engstrom, director do museu, no comunicado. No entanto, acrescenta, “esta é uma oportunidade importante para compreender mais estes animais magníficos e tem um valor incalculável para a ciência e a educação do Canadá agora e no futuro.”