Asteróide apanhado a desintegrar-se

Corpo rochoso está a comportar-se como um cometa, largando bocados e deixando atrás de si uma nuvem de poeiras.

Ilustração científica que mostra como o asteróide P/2013 R3 estará a desintegrar-se
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Ilustração científica que mostra como o asteróide P/2013 R3 estará a desintegrar-se NASA/ESA/D. Jewitt/ A. Feild
Série de imagens do asteróide captadas pelo telescópio Hubble
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Série de imagens do asteróide captadas pelo telescópio Hubble NASA/ESA/D. Jewitt

“Ver esta rocha a despedaçar-se mesmo debaixo dos nossos olhos é espectacular”, diz David Jewitt, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, num comunicado desta instituição. Os resultados foram divulgados esta quinta-feira na edição online na revista Astrophysical Journal Letters, num artigo científico também assinado por Jessica Agarwal, do Instituto Max Planck na Alemanha.

Os cientistas repararam neste asteróide, um dos muitos que andam na cintura de asteróides entre Marte e Júpiter, em Setembro de 2013 – quando dois telescópios norte-americanos, um no Arizona e outro no Havai, dedicados ao rastreio destas rochas, detectaram um objecto que tinha um aspecto difuso invulgar. Era o asteróide P/2013 R3, como veio a ser chamado.

Em seguida, outro telescópio no Havai, W. M. Keck, no cimo de um vulcão extinto, o Mauna Kea, vigiou-lhe os movimentos pelo espaço. Esta vigilância mais apurada permitiu perceber que, afinal, o corpo rochoso era constituído não por uma, mas três rochas, envoltas numa enorme nuvem de poeiras quase do diâmetro da Terra (que ultrapassa os 12.000 quilómetros).

A partir destas observações, os cientistas perceberam que o asteróide era digno de um olhar telescópico ainda mais aguçado. “O Keck mostrou-nos que valia a pena o Hubble olhar para este asteróide”, refere David Jewitt, que, diga-se de passagem, foi um dos descobridores de objectos rochosos e gelados para lá de Plutão em 1993, o que mudou a nossa visão do sistema solar e levou à despromoção de Plutão para planeta-anão.

Estando no espaço, sem a interferência da atmosfera terrestre nas observações astronómicas, o telescópio Hubble revelou por sua vez que, em vez de três pedaços, o asteróide já era constituído por dez fragmentos. E cada um deles libertava uma nuvem de poeiras, um pouco como as caudas dos cometas que muitos tanto gostam de apreciar no céu. É, portanto, um asteróide que se comporta um pouco como um cometa. Os seus quatro fragmentos rochosos de maiores dimensões têm mais de 360 metros de diâmetro.

O asteróide começou a partir-se no início do ano passado e as imagens mais recentes, ainda segundo o comunicado da Universidade da Califórnia, mostram que continua a partir-se em mais pedaços. O ritmo a que os fragmentos se afastam uns dos outros é lento: menos de 1800 metros por hora, o que é inferior ao ritmo normal da caminhada humana.

Estes dois aspectos – mais fragmentos a formarem-se e o ritmo lento a que se afastam – permitem concluir que o asteróide não está a desintegrar-se devido a uma colisão com outro asteróide. A desintegração poderá dever-se a um efeito muito subtil da luz do Sol, que aumenta ligeiramente a rotação do asteróide sobre si próprio. Por fim, a força centrífuga acaba por levar a melhor e o asteróide vai largando bocados. Aliás, os cientistas pensam que a maioria dos asteróides pequenos, cuja estrutura interna deverá ser composta por um aglomerado de bocados, se desfaz desta maneira.  

Uma coisa é previsível: muitos dos restos do P/2013 R3, estimados em mais de 200.000 toneladas, serão atraídos pelo Sol e farão aí um mergulho final. Uma pequena parte, no entanto, poderá originar as estrelas cadentes que às vezes vemos no céu, quando estes pedaços de rocha ardem ao entrar na atmosfera terrestre. Quem sabe se algum pedaço sobreviverá até cá abaixo e, caso alguém o apanhe, então terá nas mãos um meteorito vindo de um asteróide que revelou algo mais sobre o sistema solar.

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