Apesar das dúvidas que pairam sobre a investigação, Marcellus foi executado esta noite

Homem de 55 anos foi condenado por um homicídio cometido em 2003. Nem a contaminação da arma do crime e os apelos pela sua inocência reverteram a pena. Marcellus Williams foi executado esta noite.

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Marcellus Williams foi considerado culpado, em 2003, de ter assassinado Felicia "Lisha" Gayle, uma antiga repórter que foi esfaqueada até à morte em casa Ð Missouri Department of Corrections/Handout via REUTERS
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Um homem do estado norte-americano do Missouri foi executado esta terça-feira por um homicídio cometido há 21 anos, apesar de o gabinete do procurador responsável pela sua condenação ter expressado dúvidas sobre a integridade do caso. A própria família da vítima disse que Marcellus Williams devia ser poupado, mas o homem de 55 anos acabou mesmo por ser executado esta terça-feira, de acordo com o Departamento de Correcções do Missouri.

O Supremo Tribunal dos Estados Unidos, a última instância que poderia ter impedido a execução, recusou-se a intervir no caso horas antes de Marcellus Williams ter sido condenado à morte por injecção letal pouco depois das 18h locais (meia-noite em Lisboa) numa prisão em Bonne Terre. A sua morte ocorreu um dia depois de o actual governador do Missouri, Mike Parson, e de o tribunal superior do estado terem rejeitado as suas últimas tentativas para evitar a execução.

Marcellus Williams foi considerado culpado, em 2003, de ter assassinado Felicia "Lisha" Gayle, uma antiga repórter que foi esfaqueada até à morte em casa. O homem sempre defendeu a sua inocência. O procurador Wesleu Bell, cujo gabinete em Louis County tratou da acusação original, tinha tentado bloquear a execução devido a questões sobre o julgamento original. Bell afirmou, numa declaração escrita após a execução, que "se houver sequer uma sombra de dúvida sobre a inocência, a pena de morte nunca deve ser uma opção".

Tricia Rojo Bushnell, uma advogada do Projecto Inocência que ajudou a representar Williams, escreveu numa declaração que "a execução de uma pessoa inocente é a manifestação mais extrema da obsessão do Missouri pela 'finalidade' em detrimento da verdade, da justiça e da humanidade, a qualquer custo".

Nos documentos do tribunal, Bell questionou a fiabilidade das duas principais testemunhas do julgamento, concluiu que os procuradores excluíram indevidamente os jurados negros com base na raça e observou que os novos testes não encontraram vestígios de ADN de Williams na arma do crime. Testes posteriores revelaram a presença na faca do ADN de um procurador e de um investigador que trabalharam no caso e manusearam a arma sem luvas.

A contaminação da faca levou o Ministério Público e os advogados de Williams a chegarem a um acordo, em Agosto, que previa que ele se declarasse inocente e fosse condenado a prisão perpétua. Mas o Supremo Tribunal do estado bloqueou o acordo a pedido do actual procurador-geral do Missouri, Andrew Bailey. Um juiz estadual confirmou a condenação no início deste mês, considerando que a falta de provas sobre a faca não era suficiente para estabelecer a sua inocência.

O Supremo Tribunal do Missouri confirmou essa decisão na segunda-feira. O governador Parson, um republicano, também recusou o pedido de clemência de Williams na segunda-feira. "Esperamos que isto dê um fim a um caso que se arrastou durante décadas, revitimizando a família de Gayle vezes sem conta", disse Parson numa declaração após a execução: " Nenhum jurado ou juiz jamais considerou credível a alegação de inocência de Williams. "

Só que, no pedido de clemência apresentado por Marcellus Williams ao Supremo Tribunal, os seus advogados referiram que a própria família de Gayle considerava que ele não devia ser executado, dadas as dúvidas sobre a sua culpabilidade, e que tinham aprovado o acordo de confissão de prisão perpétua feito em Agosto.

Laurence Komp e Laine Cardarella, do Gabinete do Defensor Público Federal do Distrito Ocidental do Missouri, que também representaram Williams, afirmaram, numa declaração escrita, que estavam perplexos quanto ao facto de a "discriminação racial admitida" no julgamento de Williams não ter sido abordada. Os seus defensores públicos disseram que Williams adoptou o nome Khaliifah ibn Rayford Daniels depois de se converter ao Islão. O departamento de correcções divulgou a sua declaração final escrita à mão, na qual dizia: "Louvado seja Alá em todas as situações."