Assassínios, explosões, raptos: as operações secretas de Israel contra os seus inimigos

Da captura do nazi Adolf Eichmann às explosões de pagers e walkie-talkies no Líbano, Israel e a sua agência de espionagem, a Mossad, têm um longo historial de operações sofisticadas.

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Funeral do cientista nuclear iraniano Mohsen Fakhrizadeh, assassinado em 2020 em Teerão Massoud Nozari/WANA (West Asia News Agency) via REUTERS
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A explosão de centenas de pagers e walkie-talkies que matou, ao todo, 26 pessoas e fez perto de 3500 feridos esta terça e quarta-feira é o último exemplo de uma série de operações no estrangeiro atribuídas a Israel e à sua agência de espionagem, a Mossad, e que, tal como no passado, não foi reivindicada pelo Governo israelita.

A explosão dos pagers terá sido causada pela implantação de micro explosivos nos dispositivos, através de uma operação de infiltração na cadeia de produção dos dispositivos, numa fábrica na Hungria, meses antes de serem entregues, no Líbano ao Hezbollah, que tinha encomendado cerca de 30 mil dispositivos.

Em Agosto deste ano, a Mossad realizou um ataque com explosivos ao quarto de uma residência oficial do Governo iraniano onde estava hospedado Ismail Haniyeh, líder político do Hamas que visitava Teerão para a tomada de posse do novo Presidente iraniano Masoud Pezeshkian, eleito depois da morte, num acidente de aviação, do seu antecessor, Ebrahim Raisi.

Antes, em Novembro de 2020, o importante cientista nuclear iraniano Mohsen Fakhrizadeh foi morto em Teerão enquanto conduzia pela cidade por uma metralhadora controlada à distância. Fakhrizadeh era considerado pela Agência Internacional de Energia Atómica da ONU como sendo favorável a dar uma “dimensão militar” ao programa nuclear do Irão.

O caso mais conhecido de operações israelitas além-fronteiras aconteceu na década de 1970. Depois do massacre de 17 pessoas, incluindo 10 atletas e treinadores israelitas por militantes da organização palestiniana Setembro Negro nos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique, a Mossad respondeu com a chamada operação Ira de Deus, assassinando não só membros do Setembro Negro como também da Organização de Libertação da Palestina (OLP) que estariam alegadamente ligados à coordenação do sequestro e assassinato da comitiva israelita.

A mais complexa destas acções secretas israelitas ocorreu no mesmo país das explosões desta semana: o Líbano. A operação, conhecida como Primavera da Juventude - uma sub-operação da referida Ira de Deus - envolveu, em 1973, o desembarque de forças especiais do exército israelita na capital libanesa, Beirute, em coordenação com os agentes da Mossad já infiltrados no país. As forças atacaram então alvos ligados à OLP na cidade, matando três chefes da organização palestiniana que viviam nesse país.

Outro dos alvos nesta campanha israelita, o representante da OLP em França, Mahmoud Hamshari, foi assassinado depois dos agentes da Mossad terem entrado no quarto onde vivia, em Roma, e colocado uma bomba no telefone, detonada depois de se identificar numa chamada a um agente que fingia ser um jornalista italiano.

Recuando mais no tempo, a Mossad lançou em 1962 a Operação Damocles, que tinha como alvo cientistas alemães que trabalharam nos programas do regime nazi de desenvolvimento mísseis V1 e V2 durante a Segunda Guerra Mundial e que foram recrutados pelo Egipto, à altura liderado por Gamal Abdel Nasser, que anunciara o desenvolvimento de mísseis que poderiam atingir Israel.

No âmbito da operação, Otto Skorzeny, antigo oficial nazi das SS que trabalhou como assessor militar de Nasser, terá colaborado com a Mossad para assassinar Heinz Krug, um dos cientistas que estava a trabalhar para o líder egípcio.

Por fim, uma das operações mais mediáticas ocorreu em 1960, quando o então antigo oficial das SS Adolf Eichmann, um dos principais organizadores do Holocausto, foi capturado na Argentina, onde estava exilado, e enviado para Israel. O general das SS seria depois julgado e condenado à morte por 15 acusações de crimes contra a humanidade, contra judeus e outras minorias mortas no Holocausto.

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