Diário de Um Cientista, uma incrível viagem pelo mundo da biodiversidade
Há uma nova série para ler, ouvir (e jogar) no PÚBLICO. Todos os dias, no mês de Agosto, uma história nova e pessoal sobre o mundo vivo que nos rodeia.
Nas páginas deste diário há lobos e cavalos-marinhos, víboras e morcegos, gatos-bravos, sobreiros e objectos de estudo ainda mais surpreendentes, como o ADN dos rios, o microbioma das explorações leiteiras ou o musgo. Não é habitual lermos sobre ciência desta forma, com relatos tão pessoais, escritos por cientistas. Mas é isso que temos preparado. A partir desta quinta-feira, e durante todo o mês de Agosto, nasce o Diário de Um Cientista, uma iniciativa inédita que deu origem a uma série com características muitos especiais.
O Diário de Um Cientista resulta de uma parceria entre a associação científica Biopolis e o PÚBLICO, através do Azul, o site do jornal dedicado aos temas da sustentabilidade, biodiversidade e crise climática.
Juntou cientistas e jornalistas, que trabalharam em conjunto, intensamente, durante várias semanas, para falar de ciência de uma forma diferente.
Neste diário, levamos os leitores aos bastidores da ciência, à origem das ideias, ao caminho percorrido até elas ganharem forma. São 26 textos, um por dia, de segunda a sábado, que, na edição em papel do jornal, têm lugar reservado no P2 de Verão.
Juntam-se-lhes, na edição online, quizzes diários, para testar o que já sabe e o que ficou a saber sobre biodiversidade. E um podcast, para seguir nos quentes dias de Agosto, onde se mostra, nas palavras de Joel Alves, investigador do Biopolis-Cibio e na Universidade de Oxford, “o lado mais humano da investigação”. Este cientista e a jornalista do Azul Aline Flor andaram, nos últimos tempos, a coleccionar histórias.
O Diário tem ilustrações de André Carrilho, e pode ser acompanhado num site especial, em português e inglês, onde ainda encontra sons, vídeos e notas de campo que o vão transportar, muitas vezes, para a floresta, o rio ou o deserto que serviram de cenário ao trabalho dos investigadores.
Cientistas e jornalistas
Nuno Ferrand, director do Biopolis, projecto europeu que une o Cibio, a Universidade de Montpellier e a Porto Business School à academia, ao Estado, ao sector privado e à sociedade civil, vê na parceria com o PÚBLICO mais uma forma de cumprir a missão daquela organização: “Fazer chegar a investigação avançada dos cientistas a um auditório mais amplo e diversificado" e "promover a importância do estudo e da preservação da biodiversidade, um elemento fundamental e indissociável da agenda da sustentabilidade".
A ideia original que Nuno Ferrand, Joel Alves e José Pedro Reis, responsável pela estratégia organizacional do Biopolis, trouxeram para cima da mesa era desafiante. Como construir um projecto inovador que repensasse a forma de comunicar ciência?
Seguiram-se longas e aturadas discussões sobre como poderia funcionar. Manuel Carvalho, jornalista do PÚBLICO, que esteve presente logo nos primeiros passos do projecto, imaginou que esta poderia ser uma série especial do Verão, que cativaria leitores de diferentes idades.
“Este projecto é também ele uma experiência: o que acontece se misturarmos cientistas e jornalistas, a trocarem ideias e trabalharem em conjunto? O resultado é uma forma nova de falar de ciência”, diz José Reis. “Através desta sinergia conseguimos criar algo único, nunca antes feito em Portugal. É um conceito inédito que desafia percepções, derruba barreiras entre disciplinas e instituições e, acima de tudo, conta-nos histórias surpreendentes e interessantes que nos ajudam a compreender melhor o mundo natural à nossa volta.”
David Pontes, director do PÚBLICO, sublinha mais uma faceta do Diário. “Partilhamos a mesma vontade de ultrapassar as barreiras que são colocadas ao conhecimento, e vivemos neste momento uma situação muito mais tensa, que é a do combate à desinformação, por isso, qualquer avanço que seja para juntar estas duas profissões, ou, se quisermos, estas duas devoções — a dos jornalistas e a dos cientistas —, é importante.”
Um concurso, 100 propostas
Em Abril de 2024, o PÚBLICO e o Biopolis lançaram um concurso, aberto a investigadores e alunos do Biopolis-Cibio. Procurávamos 26 histórias relevantes para o grande público. Foram submetidos perto de uma centena de projectos, de cientistas a trabalhar em diferentes países.
As candidaturas deveriam ter como base um artigo publicado numa revista científica indexada, um projecto de investigação financiado ou uma tese de doutoramento. Um júri constituído por seis jornalistas do PÚBLICO (Andrea Cunha Feitas, Andréia Azevedo Soares, Andreia Sanches, Claudia Carvalho Silva, Manuel Carvalho e Teresa Firmino) seleccionou os 26 finalistas.
Seguiu-se uma sessão de formação sobre comunicação em ciência, que juntou jornalistas e investigadores de diferentes áreas no Cibio — Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, em Vila do Conde.
Nas semanas seguintes, entre Maio e Julho, cada cientista trabalhou com o seu editor (várias sessões, presenciais e à distância, muitas conversas por telefone, por mail e por WhatsApp). E os textos foram ganhando forma, com essa preocupação: levar a investigação sobre biodiversidade e os seus bastidores ao grande público.
Todos os editores são jornalistas do Azul ou da Ciência: Aline Flor; Andrea Cunha Freitas; Andréia Azevedo Soares; Claudia Carvalho Silva; Nicolau Ferreira e Teresa Firmino. Todos os autores são investigadores do Biopolis-Cibio que falam de um projecto que os envolveu, ou envolve ainda — e que querem partilhar com todos.
No PÚBLICO, a equipa foi coordenada pela directora adjunta do jornal Andreia Sanches. No Biopolis, a coordenação coube a José Pedro Reis e a Joel Alves. Este último não tem dúvidas: “O Diário de Um Cientista é, acima de tudo, uma celebração da curiosidade que move o processo científico.”
E prossegue: “Quando lemos uma notícia sobre um artigo ou um projecto científico, aprendemos sobre resultados, conclusões e aplicações. No entanto, raramente conhecemos a verdadeira origem das ideias, como os projectos científicos começam, quais são as paixões que movem os cientistas, ou mesmo os percalços ao longo do caminho. Mais do que uma forma inovadora e interessante de comunicar ciência, este projecto quer levar o grande público a uma viagem épica pela natureza, pelas espécies e pela biodiversidade, mas, desta vez, usando os próprios cientistas como guias.”
O resultado pode ser acompanhado no Azul, onde uma equipa especializada produz todos os dias trabalhos de acesso livre, sobre os desafios da biodiversidade, da sustentabilidade e da crise climática, graças ao apoio de um conjunto de parceiros: Biopolis, Fundação Calouste Gulbenkian, Lipor e Electrão.