Esquerda diz que plano de emergência vai acabar com SNS. PAN, IL e Chega esperavam mais
O plano de emergência para a saúde anunciado esta quarta-feira foi recebido pela oposição com várias críticas.
Um PowerPoint sem novidades, um documento que se "fazia numa noite" e o fim do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Expressões usadas pelos partidos da oposição para caracterizar o programa de emergência para a saúde apresentado na manhã desta quarta-feira pelo primeiro-ministro. Já os partidos que integram o Governo, PSD e CDS, elogiaram as propostas anunciadas pelo executivo de Luís Montenegro e lamentaram os "preconceitos ideológicos" lançados pela oposição acerca da resposta complementar dos sectores social e privado prevista no programa de emergência.
Uma das primeiras reacções chegou do PS. A partir da Assembleia da República, a líder parlamentar da bancada socialista, Alexandra Leitão, afirmou que o programa de emergência traduz uma "clara linha de privatização" e que os objectivos e intenções são "pouco densificados e nada concretizados". E sobre a integração dos sectores social e privado no SNS, foi peremptória: "Temo que signifique descapitalizar o SNS."
Na estrada, em campanha para as eleições europeias, também Pedro Nuno Santos fez questão de desvalorizar o "PowerPoint" que "não inspira grande esperança", nem traz "nada de extraordinário". "Foi até uma grande desilusão", declarou o líder socialista.
Por sua vez, o PCP acredita que este programa permitirá um desvio de recursos para os grupos privados, em vez de garantir o reforço da capacidade de resposta dos serviços públicos ou a valorização de carreiras. A líder parlamentar do PCP, Paula Santos, assinalou não haver "uma única [medida] para valorizar os profissionais de saúde, nas suas carreiras, nas remunerações, na garantia de condições de trabalho".
A deputada comunista acusou o Governo de "escancarar" as portas do SNS aos grupos privados e ao sector privado. Também João Oliveira, cabeça de lista da CDU às europeias, considerou que o Governo "desprezou" completamente a necessidade de reforçar a capacidade de resposta do SNS.
A líder do Bloco de Esquerda (BE) Mariana Mortágua defendeu que o Governo pôs em curso não um plano de emergência, mas "um plano de transformação do SNS que vai acabar com o SNS como nós o conhecemos", ao transferir o serviço público para o sector privado. A coordenadora do Bloco de Esquerda defendeu que o caminho escolhido pelo executivo “é errado” e que “o que o SNS precisa é de mais médicos e mais condições”.
Inês de Sousa Real, do PAN, também se mostrou desiludida. "Esperava mais. Não podemos cuidar da saúde com paliativos", disse a líder do partido. A deputada também sentiu a ausência de medidas para a valorização de carreiras dos médicos e enfermeiros.
À direita, o deputado da Iniciativa Liberal (IL) Mário Amorim Lopes também criticou falta de "medidas estruturais". Já André Ventura, líder do Chega, considerou que o documento é "vago". "O Governo disse que precisava de 60 dias para o apresentar, eu fazia isto numa noite”, disse.
PSD e CDS afastam "estigmas" e "preconceitos"
Pelo PSD, a reacção ouvida foi a do ex-bastonário da Ordem dos Médicos. O deputado Miguel Guimarães considerou que o plano é "extenso" e que "vai melhorar" os cuidados de saúde, sobretudo "em termos de acesso para os mais idosos e em relação à segurança e tranquilidade para as grávidas quando estão para ter os seus bebés".
Miguel Guimarães defendeu que "várias medidas" visam combater "as desigualdades sociais" e garantiu que o Governo não terá "qualquer estigma em utilizar os sectores social e privado" sempre que a capacidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) estiver "esgotada" para que os utentes "não fiquem à espera durante meses para terem uma consulta ou serem operados".
Já o deputado do CDS-PP João Almeida considerou que "é muito importante que este plano seja virado para o doente e não para a ideologia", sacudindo assim as críticas dos partidos da esquerda parlamentar, que falam na "privatização" do SNS, como acusou Mariana Mortágua. "A preocupação central é com as pessoas e não com questões político-partidárias", respondeu João Almeida.