Cartas ao director

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Obrigado, Presidente

Frequentemente estou em desacordo consigo. Mundivisões diferentes, certamente. Desta vez, todavia, quando, em coro quase generalizado, vozes dos mais variados quadrantes políticos se levantam contra as suas declarações sobre a necessidade de uma discussão alargada em torno da colonização feita por Portugal e, de maneira muito especial, sobre a escravatura, estou, no essencial, de acordo consigo.

Não quero saber se o contexto em que proferiu as afirmações que proferiu era o mais adequado, nem se o momento para as proferir era o mais oportuno. Nem sequer questiono a forma atabalhoada como tudo possa ter ocorrido. Quais seriam os contextos ideais para a produção de tais afirmações? Dentro de uma sala de aula, no início do ano lectivo? Em acto solene, no 25 de Abril, no Parlamento? De uma forma grave, vestido de luto?

Sei, sim, que discutir a face oculta do passado é importante para o futuro do país. E a escravatura, expressão máxima dessa face oculta, exige, acima de qualquer outro crime do colonialismo, uma discussão profunda. Não para levarmos ao cadafalso os seus beneficiários, em Portugal e nos países por ele colonizados, nem para procedermos a uma justa e impossível reparação material, mas para que convivamos de forma sadia com os cidadãos desses países e nos possamos ver a nós mesmos de forma límpida. E há muitas maneiras de atingir esses objectivos.

Ao abrir a discussão, que muitos dizem estar morta à nascença, mas que, de facto, está a decorrer com intensidade, trazendo o país ao encontro dos tempos actuais, o senhor Presidente prestou um contributo indelével para que todos nós, portugueses, nos vejamos com mais nitidez ao espelho. Assim o compreendam, para já, e num primeiro momento, os professores e as professoras das nossas escolas quando, perante as nossas crianças e jovens, abordarem a História de Portugal.

Luís Pardal, Lisboa

A lei da governação

Em tempos de mudança de governo, recordo a lei da governação, tal como me foi explicada por um antigo secretário de Estado dos Transportes e antigo colega:

"A governação divide-se em três fases, na primeira descobrem-se ou inventam-se os erros da governação anterior, na segunda fase tenta-se, normalmente ingloriamente, resolver problemas e planear soluções, e na terceira fase preparam-se os erros para a governação seguinte descobrir ou reinventar."

Entre os vários corolários desta lei contam-se:

1. Já agora, o que era bom era que os actos de governação fossem transmitidos pela TV (Armando Cortês e Francisco Nicholson na RTP dos anos 70).

2. A boa governação faz-se acordando com os outros candidatos votações recíprocas que só funcionem num sentido e convencendo-os de que a nossa filha é a mais bonita do concurso (António Silva no “presidente da junta”).

3. Se um técnico competente tiver êxito na sua função profissional, pode ser que dê um mau ministro, e se pode ser, certamente que o será (leis de Peter e de Murphy).

Fernando Santos e Silva, Lisboa

Grandes preocupações

Eliminação de um governo de maioria absoluta, decisão e consequências não assumidas por quem decidiu fazê-lo. Seguiu-se um novo governo e muitas decisões sombrias. Podemos começar a fazer a lista: demissão política do diretor executivo do SNS; exoneração política da Mesa da Santa Casa; ideias absurdas do ministro da Defesa, imediatamente contestadas por todos, incluindo aqueles que estão sob a sua tutela; suponho que o serão também pelo ministro da Educação, pelos sindicatos dos professores e pela comunidade académica...

Não escrevo apenas como cidadã que nasceu em ditadura e não deseja morrer em ditadura. Serei pessimista? Não! Apenas recordo a atualidade da canção: “Aprende a nadar, companheiro/ Que a maré se vai levantar.” Desta vez não é porque “a liberdade vai passar por aqui”, porque já cá estava. É porque, com tantas ameaças, é preciso “agarrá-la” e não a deixar fugir!

Luísa Solla, Cruz Quebrada

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