Cartas ao director

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O discurso do “país de tanga” revisitado

Confesso que acabar de ouvir o actual ministro das Finanças, Miranda Sarmento, afirmar que o tão falado excedente orçamental – que herdou do anterior detentor do cargo, Fernando Medina – é afinal um défice me deixou perplexo e preocupado. De imediato me recordei do famoso discurso do país de tanga”, de 2002, em que Durão Barroso culpou com dureza o anterior executivo socialista pelo estado calamitoso das finanças públicas.

Parece ser um método rebuscado e recorrente que os governos de direita, useiros e vezeiros”, costumam utilizar em tais ocasiões, para prepararem uma defesa consistente que lhes permita apresentar sem recuos um rol de argumentos defensivos sólidos, que justifiquem cabalmente o incumprimento das promessas eleitorais. (…)

O timing escolhido nesta altura, em que começam a ser ouvidos os sindicatos e ordens representativos das várias classes profissionais, como forças de segurança e agentes da Educação e da Saúde, comprova tais suspeitas. A PSP e a GNR não saíram satisfeitas da primeira ronda de negociações com a tutela, e deixam facilmente adivinhar que a mesma insatisfação vai invadir também os professores, que são quem se segue. A tão desejada paz nas escolas e a segurança associada a eventos públicos de maior dimensão correm o risco de ficar seriamente comprometidas. Em vez disso, tudo parece indicar que as greves e as manifestações vão voltar às ruas.

Emanuel de Sousa e Castro, Mirandela

Novas eleições à vista?

O actual Governo tomou posse há 30 dias. Ainda antes de ser constituído e dada a fragilidade manifesta resultante dos resultados eleitorais de 10 de Março, toda a gente apostava num governo de gente experiente, com experiência política e capacidade de negociar entendimentos com a oposição, principalmente o PS, tendo em conta o “não é não” de Montenegro ao Chega. Devo confessar que a escolha de Hugo Soares para líder parlamentar me deixou com a pulga atrás da orelha, dado o seu perfil conflituoso e incapaz de consensos, manifestado em funções idênticas anteriores.

Aqui chegados, e tendo em conta tudo aquilo a que temos assistido nos últimos tempos, a conclusão só pode ser uma: o Governo desistiu de governar em minoria e aposta todas as fichas em provocar uma crise política que leve a novas eleições que lhe garantam uma maioria, tal como fez Cavaco no passado. A não ser assim, existe alguma explicação racional para a hostilidade evidente e manifestada diariamente de todas as maneiras e feitios para com tudo o que cheira a PS, o único partido a que o PSD poderia recorrer para conseguir governar?

J. Sequeira, Lisboa

O manifesto dos 50

Cinquenta personalidades (no sentido de “Pessoa conhecida devido às suas funções, à sua influência, etc.”), maioritariamente políticos, assinaram um manifesto a exigir uma reforma do sistema da justiça. Quando li o título, pensei que estavam em causa as prescrições dos possíveis crimes imputáveis ao BES e a Ricardo Salgado e a inenarrável incapacidade do tal sistema em julgar um tal José Sócrates.

Afinal não. A sua indignação é relativa às intervenções do Ministério Público contra agentes políticos. Até poderão ter alguma razão, mas o que eu e a generalidade dos portugueses preferiríamos é que políticos e demais personalidades se indignassem efectivamente quanto à incapacidade de o sistema julgar os seus (maus) pares, e menos com condicionar a investigação. Questão de prioridades…

No pano de fundo parece estar a necessidade de branquear António Costa a tempo da sua ida para Bruxelas. O armário do IKEA por cá fica…

Carlos Sampaio, Esposende

Palavra honrada

Enquanto Fernando Medina defende o excedente orçamental e contas certas, o Governo da nova AD diz que as contas do Governo PS guardam a velha fórmula das finanças falidas. E as promessas feitas pela AD em campanha eleitoral? Vem aí mais austeridade? Em quem devemos confiar? Os polícias e os professores voltam a sair às ruas em protesto? Terá a AD ganhado as eleições legislativas devido às imensas promessas feitas por Luís Montenegro? Cada vez menos a palavra honrada tem valor. (…)

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

PÚBLICO Errou

O Ípsilon escreveu ontem que Pedra e Sombra é o primeiro livro de Burhan Sönmez publicado em Portugal. No entanto, a Dom Quixote já tinha editado Istambul, Istambul, em 2019. Aos leitores e aos visados, o nosso pedido de desculpas.

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