Uma crónica assustadora

Tem graça que, uma tão evidente manifestação pública de falta de caridade e de compaixão, seja feita para me acusar … de falta de caridade e de compaixão!!!

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Só agora li, no PÚBLICO, O livro que não é sobre ‘família’, da Maria João Marques (M.J.M.), sobre a colectânea Identidade e Família, de que sou um dos 22 autores. A crónica seria excelente se, em vez de editada a 10 de Abril, o tivesse sido no 1.º desse mês, que é o dia das mentiras.

Com efeito, a propósito da crónica que, a 19/8/2017 publiquei no Observador, a M.J.M. acusou-me de ter faltado à verdade. Tendo-lhe pedido que me dissesse quais as alegadas inverdades, tive o silêncio por única resposta. Ficou assim claro quem tinha mentido.

A M.J.M., mesmo sem ler os 22 textos, refere-se à obra nos seguintes termos: “Sonsice, desonestidade, falsidade, tudo em nome da maldade e da misoginia”. Mas, esta descrição diz respeito à dita publicação, ou à sua crónica, à qual, salvo a misoginia, assenta que nem uma luva?

Para a M.J.M., “no meio dos autores há pessoas não assustadoras como o jesuíta Vasco Pinto de Magalhães (…), Manuela Eanes e Guilherme d’Oliveira Martins.” Supõe-se que, para a cronista, os restantes 19 somos, pelo contrário, pessoas assustadoras.

A cronista não esconde a sua indignação por, nesta obra, só terem participado seis mulheres. Mas estas, como aliás os homens, não colaboraram por razão do seu sexo, que é questão menor, mas pelos “seus assinaláveis perfis de vida pessoal e familiar, religiosa, académica, científica e social”, que costumam faltar a quem, para se afirmar, precisa de recorrer a quotas.

A M.J.M. critica o Professor Paulo Otero, por ter dito “que se devia valorizar o papel das mulheres como donas de casa”. Mas, não deve?! Não tive melhor sorte porque, logo no primeiro parágrafo, a M.J.M. escreve: “Gonçalo Portocarrero de Almada, padre que se especializou em escrever coisas tresloucadas, odientas, onde o mais saliente é a falta de caridade e de compaixão por, bem, quase toda a gente.”

Este insulto, vindo de quem vem, é um elogio. Mas, se alguém perguntar que “coisas tresloucadas”, ou “odientas”, ou sem caridade, ou sem compaixão, escrevi – os meus artigos estão todos acessíveis no site do Observador – a M.J.M. terá, mais uma vez, que se remeter ao silêncio, que é o refúgio dos cobardes e dos mentirosos.

Tem graça que, uma tão evidente manifestação pública de falta de caridade e de compaixão, seja feita, precisamente, para me acusar … de falta de caridade e de compaixão!!! Mas, se o que escrevo são coisas “odientas”, como classificar este seu artigo, que não dignifica o PÚBLICO, nem os seus leitores?! Decididamente, a coerência não é o seu forte.

Tenho ainda um agradecimento a fazer, um favor a pedir e umas desculpas a apresentar.

Partilhei, anos a fio, a mesma página de opinião do jornal oficial do Patriarcado de Lisboa com o Dr. Guilherme d’Oliveira Martins – por quem tenho muito apreço, até por termos familiares comuns – mas estou grato por não fazer parte, com ele, dos autores que a M.J.M. considera “pessoas não assustadoras”. Porque, pertencendo ao grupo dos que, pelo contrário, somos pessoas assustadoras, estou com o cardeal D. Manuel Clemente, Prémio Pessoa, e D. Nuno Brás, presidente da Comissão Episcopal da Cultura, que apresentaram obras minhas; o Professor Paulo Otero, que prefaciou um meu estudo histórico-jurídico; o dr. Pedro Vaz Patto, juiz desembargador, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, co-autor comigo de um ensaio sobre o matrimónio; etc. Melhor companhia, impossível!

Tenho ainda um favor a pedir à M.J.M.: que tenha a caridade de me ignorar, ou, se souber e quiser, de rezar por este seu inimigo, que o não é dela.

Por uma questão de educação, feitio e vocação, não posso, nem devo, responder à M.J.M. nos termos da sua citada crónica, que é também um ataque à inteligência, à decência, à lógica e à gramática. Mas rezo pela sua conversão ao Deus que é amor (1Jo 4,8.16), ou, pelo menos, à verdade que nos faz livres (Jo 8, 32).

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