Perdida no azul e descoberta no amarelo da Ucrânia

“A minha viagem à Ucrânia foi uma aventura inesquecível, ensinou-me muitíssimo sobre a vida, sobre as pessoas”, escreve a leitora Anna Korchynska.

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ANNA KORCHYNSKA
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Não gosto de mudanças de rotinas ou hábitos, sou alguém que pode viver a vida inteira nas mesmas quatro paredes. Porém, se for para viajar até à Ucrânia, facilmente deixo o que for preciso para trás. Voltar à Ucrânia é como um gole de água fresca.

Vou contar-lhes a viagem. Foi há um ano e meio. Fiz as malas numa hora e o meu pai levou-nos até ao aeroporto. Surpreendentemente, eu não estava triste por ter de ficar um mês longe da minha casa. Estava feliz porque, finalmente, ia ver as pessoas mais especiais da minha vida e ia passar um mês incrível ao lado delas.

O nosso voo era de noite. Chegámos ao aeroporto de Lisboa por volta da meia-noite, fizemos o check-in, entregámos a bagagem e, por volta das duas da manhã, já nos encontrávamos dentro do avião. Passadas quatro horas, estávamos no aeroporto de Varsóvia. Entretanto, saímos do aeroporto e chamámos um Uber para ir ter à estação de camionetas. Tínhamos o bilhete do autocarro que ia no sentido Varsóvia-Lviv. Esta parte da viagem já foi mais cansativa, demorou quase um dia.

Quando chegámos, comecei logo a chorar ao ver a minha prima e a sua cadela, Djena, à nossa espera. Passámos uns dias na casa da minha prima. Depois, dirigimo-nos para Ataky, a pequena aldeia onde moram os meus tios e a minha avó. Saí do carro a correr para os braços da minha avó, que não via há um ano. É em momentos como este que percebemos que o tempo não é nada. O tempo só é bem gasto quando estamos completamente felizes e encontrámos a razão de viver.

Foi o que aconteceu ao entrar naquela casa, naquele quarto, naquele jardim. Tudo parecia ainda tão igual mas já estava tão diferente. Começámos a pensar como ainda há pouco estávamos muito longe dali e, de imediato, quisemos aproveitar o melhor possível cada segundo.

Mas com a guerra é diferente. Agora, o dia são só doze horas; trinta segundos são agora um minuto. Agora, os desconhecidos tornaram-se conhecidos, a noite tornou-se dia. Em poucas palavras: o mundo virou-se do avesso e, em cada batimento do meu coração, desejo o fim rápido de tudo isto. Tenho receio de que nas minhas próximas férias na Ucrânia o “diferente” seja irreconhecível e que já não me aperceba dos traços do “igual”.

A minha viagem à Ucrânia foi uma aventura inesquecível, ensinou-me muitíssimo sobre a vida, sobre as pessoas. E, mesmo que haja imenso que tenha mudado numa má direcção, continuo a aprender sobre o que é justo e injusto, sobre lutar pela independência, sobre a empatia que as pessoas menos conhecidas podem mostrar no momento em que já não temos esperanças. Espero continuar a aprender sobre tudo isso mas, desta vez, num país totalmente independente e livre.

Anna Korchynska

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