Sintra quer criar um plano para proteger o vale da Adraga em que junta toda a gente

A Câmara Municipal de Sintra está a pedir o contributo de todos no desenvolvimento de um plano para gestão e restauro ecológico do vale da Adraga, que tem um elevado risco de incêndio.

Foto
O Vale da Adraga tem cerca de 70 hectares DR
Ouça este artigo
00:00
04:10

O vale da Adraga, no concelho de Sintra, tem um elevado risco de incêndio. A pensar nesse risco, a Câmara Municipal de Sintra está a desenvolver um plano em que se pretende proteger, de forma sustentável, esse vale – o Plano Estratégico para a Gestão e Restauro Ecológico do Vale da Adraga. Ao longo desse trabalho, a autarquia pretende que população, proprietários, associações e outras entidades possam dar o seu contributo. Este sábado, às 10h, vai decorrer uma sessão pública sobre este tema na Associação dos Bombeiros Voluntários de Almoçageme, na freguesia de Colares.

Um dos grandes motivos para a elaboração do plano foi o elevado risco de incêndio florestal identificado pela Agência Integrada de Fogos Rurais (AGIF). “É um vale encaixado e com ventos favoráveis à entrada de fogo na serra”, diz Sofia Novais, chefe de divisão do Gabinete Técnico Florestal da Câmara Municipal de Sintra (CMS), que está a desenvolver o plano neste vale com cerca de 70 hectares, situado no Parque Natural Sintra-Cascais.

A gestão deste território é um desafio ao nível da gestão e conservação. A propriedade do vale é maioritariamente privada e bastante fragmentada, estando em “mau estado de conservação e abandono”, indica a CMS, referindo que são cerca de 200 os proprietários. Torna-se assim necessário que seja criado um modelo de gestão desta zona que inclua esses proprietários, a população mais próxima, associações e outras entidades.

É nesse sentido que está a ser criado o Plano Estratégico para a Gestão e Restauro Ecológico do Vale da Adraga. Entre as tarefas a desenvolver para o plano está a caracterização e mapeamento da ecologia do vale, que vão ser apresentados na sessão pública deste sábado.

Sobre essa avaliação, Sofia Novais refere que já se verificou que o vale tem “bastantes valores naturais”, havendo “zonas que foram mais humanizadas, pelo menos até por volta dos anos 80”. Essas terras estão mais próximas da localidade de Almoçageme, na freguesia de Colares, e são as que precisam mais de conservação e restauro ecológico no vale, que está qualificado na categoria de espaços naturais no Plano Director Municipal (PDM) de Sintra.

A partir dessa avaliação, na sessão pública, vai tentar criar-se uma estratégia de gestão de ecossistemas com contributos de várias partes, tendo como intermediário o município de Sintra. “A ideia é conseguir fazer a gestão deste bem comum que é a natureza”, considera Sofia Novais. Em Maio, irá decorrer um workshop participativo com agentes económicos da região.

Muitas invasoras e biomassa

Espera-se, assim, que seja criado um plano que tenha o contributo de todos. “Como objectivo-chave, queremos fazer a gestão activa do território para a conservação, para o restauro ecológico dos ecossistemas e a diminuição do risco de incêndios”, nota ainda Sofia Novais, que indica que o município tem “algumas ideias”, como sistemas de compensação e de troca de serviços, mas que quer que sejam decididas por todos.

Sobre se há financiamento associado ao desenvolvimento deste plano, a CMS refere que “não há qualquer financiamento envolvido, mas, sim, moradores e proprietários nesta área”. Questionado sobre este plano, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) refere apenas que “tem conhecimento de que o trabalho está a ser desenvolvido. No entanto, ainda não foi chamado a pronunciar-se”.

Helga Soares, coordenadora regional para Lisboa e Vale do Tejo e Alentejo da AGIF, considera que “este é um plano para proteger, de forma sustentável”, o vale da Adraga. “De ano para ano, tem-se vindo a ver que é uma área que tem problemas com a quantidade de biomassa e de [espécies] invasoras, que a determinam como uma zona com risco de incêndio”, indica. Por isso, vê este plano como uma forma de envolver proprietários e entidades na região, para que se possa diminuir a matéria orgânica acumulada, que leva a uma maior quantidade de biomassa, e o controlo de espécies invasoras, para que, assim, se diminua o risco de incêndio.

“A ideia é que haja uma acção ao longo do tempo para que o risco vá sendo controlado e se vá protegendo o vale e as pessoas que o usam”, diz Helga Soares. A responsável da AGIF, que não está a participar na elaboração do plano, considera que todas as áreas com risco de incêndio deveriam ter um plano deste género, com uma dinâmica local. Sofia Novais assinala que este é um projecto-piloto e que poderá servir como exemplo de outros no território de Sintra.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários