André Villas-Boas: “O FC Porto encontra-se numa situação-limite. Em 2028, já não é para mim”

Candidato às eleições portistas teme que clube fique “totalmente refém” de pessoas ligadas a Pinto da Costa, caso presidente fique mais quatro anos. “Momento de mudança é agora”, apela aos sócios.

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Villas-Boas: "Os últimos anos têm levado o FC Porto à ruína financeira" Miguel Dantas
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A 27 de Abril de 2024 joga-se o futuro do FC Porto, uma oportunidade que, na opinião de André Villas-Boas, pode ser a última para evitar que o clube fique "totalmente refém" de interesses ligados a Pinto da Costa, dirigente que comanda os "dragões" há quase 42 anos. Numa grande entrevista ao PÚBLICO e Rádio Renascença, a primeira desde que é candidato à presidência portista, o ex-treinador debate todos os temas vitais para o futuro próximo do clube.

Disse que está na altura de uma mudança, depois de quatro décadas de presidência de Pinto da Costa. A sua candidatura é baseada na necessidade de mudança ou no facto de acreditar que pode fazer melhor?
Acima de tudo representa o meu amor pelo FC Porto, um amor singular, único e uma altura de mudança. O FC Porto vem de uma liderança com mais de 40 anos de Jorge Nuno Pinto da Costa, encontra-se agora numa altura de se reformatar relativamente ao futuro. O paradigma do futebol moderno está a mudar, as exigências são outras e é preciso transportar o FC Porto para a modernidade. O objectivo é rodear-me dos melhores e conseguir imprimir esta mudança.

Em 2020, data das últimas eleições, Pinto da Costa nomeou-o como um potencial sucessor na presidência do FC Porto. Alguma vez pensou que ia concorrer contra o presidente mais titulado da história do futebol?
Dificilmente pensaria que o presidente se pudesse recandidatar em 2024. Naturalmente é livre de o fazer e eleva este desafio e o sentido de responsabilidade e exigência. A verdade é que os últimos anos têm levado o FC Porto à ruína financeira e a uma perda de competitividade desportiva. No meu entendimento, sempre pensei que não se recandidatasse. Decidi avançar com esta candidatura mesmo que ele fosse meu adversário – acho que o FC Porto precisa de encontrar um novo rumo. Vai elevar, sem dúvida, o sentido de responsabilidade e exigência, o legado que me deixa e tudo isso contará como peso premente e de pressão para fazer mais e melhor. Se isso é o nível de ser o mais titulado de sempre é difícil, mas penso estar à altura do desafio.

Pinto da Costa disse que a vossa relação mudou porque o André mudou. Concorda com isso?
A única coisa que mudei foi relativamente à minha opinião de [que] enquanto o presidente for vivo deveria continuar no FC Porto. É a única mudança, o meu amor pelo clube é o mesmo e sinto-me capacitado para ser indigitado como presidente e devolver a glória aos sócios e ao FC Porto – desportiva, mas também garantir a sustentabilidade futura. A única coisa que mudou foi essa opinião relativamente a 2024, fruto do momento urgente que o FC Porto vive: cada vez mais dá a entender que o clube está refém dos interesses de outras pessoas. As decisões financeiras e desportivas são cada vez mais postas em causa, não só por esses interesses alheios, mas também por falta de planeamento e visão a curto, médio e longo prazo. Acho que o momento de mudança é agora. Os sócios têm acumulado muita frustração relativamente ao que têm sentido por parte da administração do FC Porto, por verem este crescimento de interesses e negócios paralelos relacionados com o clube, o sentido de pertença dos sócios tem desaparecido. O momento é agora.

Foi treinador numa época de sonho para o clube, somou quatro títulos - um deles celebrado em pleno Estádio da Luz –, mas considera que Pinto da Costa quer apagar essa época da memória do universo portista. Porquê?
Eu compreendo que esta candidatura se tornou de tal forma forte que traz algum desconforto. Tenho registado, nos últimos dois anos, uma série de ataques pessoais e profissionais contra mim por parte do presidente Pinto da Costa. Acho que ele nunca teve noção que esta candidatura se pudesse tornar tão forte: não só pelo portismo que represento, pelas pessoas de que me quero rodear e por vir para o FC Porto desprendido de qualquer interesse. Ponho em pausa uma carreira que considero muito boa – apesar de outros não o considerarem como tal –, por amor ao FC Porto e por sentir que é altura de mudança. Tenho registado muitos eventos curiosos, relativamente ao “apagar” dessa história de 2011, ou a uma tentativa de denegrir a pessoa que liderava essa equipa. Não queria perder muito mais tempo com isso. Acho que é normal, em qualquer candidatura que se vê de repente ameaçada por outro candidato, que se sinta desconfortável relativamente a ter um adversário tão forte. Sente-se cada vez mais nas palavras e postura do senhor presidente, esse incómodo é evidente.

Os resultados eleitorais de Pinto da Costa estão em trajectória descendente: em 2016, foi eleito com 79% dos votos, registando-se mais de 20% de votos nulos. Em 2020, desceu para 68% e José Fernando Rio, principal concorrente nessas eleições, teve mais de 26% de votação. Esta “queda” de Pinto da Costa deu-lhe mais força para se candidatar agora? Acredita que estes quase 30% de votos de protesto vão migrar para a sua candidatura?
Não posso negar que analisámos esses números, mas não estão na base da decisão de avançar com a minha candidatura. Tenho 15 anos de treinador profissional, naveguei neste mundo [do futebol] em vários países e culturas. Tenho visão de futuro para o futebol, ideias muito vincadas relativamente à parte desportiva, de performance e scouting. É mais pela capacidade que tenho em imprimir essa mudança no futuro do FC Porto que me candidato, não tanto por ver e relacionar esses números com uma queda de um anterior líder. Esses números, acima de tudo, revelam um crescente descontentamento. É presente, evidente, e vem em linha com uma frustração acumulada dos sócios face à gestão do presidente. Isso é evidente e inegável, está aí traduzido em números.

O FC Porto, nos últimos 24 anos, ganhou por duas vezes a Liga Europa, uma Liga dos Campeões, uma Taça Intercontinental, fez mais de 2,9 mil milhões de euros em receitas. Desde 2015, foram 1,3 mil milhões. Tem, neste momento, 500 milhões de euros de passivo e 310 milhões de dívida financeira. Parece surreal que, enquanto podíamos ter crescido para nos tornarmos no melhor clube nacional e uma potência do futebol europeu, acabámos por nos enterrar em dívidas fruto de más decisões desportivas e financeiras que nos levam a esta situação de descalabro. Parece-me que se passa um enriquecimento absoluto de pessoas paralelas ao seu universo, um enriquecimento também de pessoas vinculadas à administração. Se não me engano, nos últimos 15 anos, há quase 27 milhões de euros pagos à administração em remunerações.

Caso não vença as eleições, que cenário traça para o FC Porto nos últimos quatro anos?
No outro dia disse que é muito fácil desmentir Jorge Nuno Pinto da Costa. O presidente já disse que não avançaria, que jamais apontaria uma linha de sucessão directa, jamais consideraria o FC Porto uma monarquia e jamais passaria o testemunho. Tenho muito respeito pelo senhor presidente, mas penso que não está em condições neste momento de presidir a mais quatro anos. O que se avizinha no FC Porto pós-2024 é uma linha de sucessão directa para um dos seus vice-presidentes, pessoas essas que vão ser apresentadas a dez dias das eleições e ficaremos a conhecer essa linha de sucessão directa que parece estar presente.

O que me parece evidente é que, dentro das pessoas que já o rodeiam, das quais João Rafael Koehler, está ligado a um fundo chamado Quadrantis que, neste momento, está intimamente relacionado com a antecipação de receitas do FC Porto e com o factoring, com condições e juros que ninguém sabe quais é que são. É muito provável que nas colaterais dadas a esse fundo estejam direitos comerciais e passes de jogadores. Não é impossível que, se incumprir em determinadas coisas, a Quadrantis se torne dona do FC Porto.

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André Villas-Boas conquistou quatro título enquanto treinador numa única época ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

Mas continuará no papel da oposição se perder as eleições? Vai ter uma voz activa?
Penso que não. O FC Porto encontra-se numa situação limite, não queria estar a fugir às minhas responsabilidades, mas, em 2028, já não é para mim. Apresento-me agora com esta visão de futuro, rodeei-me das pessoas certas e que podem já não estar [disponíveis] para mim em 2028. O FC Porto, como o conhecemos, já não será o mesmo.

Dentro do associativismo, os clubes têm um grande desafio pela frente. Têm uma vantagem competitiva, pela cultura, valores e história, mas estão muito vinculados a determinadas receitas específicas: direitos televisivos, receitas da UEFA e receitas comerciais. O futebol está em premente mudança e é necessário para o FC Porto arranjar novas parcerias comerciais, crescer enquanto marca, como clube de associados igual ao legado desportivo que tem. Isso não está a acontecer. O FC Porto, caso não sejamos eleitos, de 2024 a 2028, será totalmente refém das decisões de pessoas relacionadas com o entorno de Pinto da Costa.

O contrato de Sérgio Conceição termina no final da temporada, é um treinador com sucesso conhecido. O plano é tentar a renovação?
Esse é o campo mais sensível. Não me quero alargar muito, estamos em plena época desportiva e estou muito confiante fruto dos resultados que a equipa tem tido após a mudança de estrutura táctica. O rendimento e a qualidade de futebol evoluíram bastante. [Acredito] Que o FC Porto ainda possa ambicionar ao título – apesar de ser o desafio mais difícil, é possível matematicamente –, mas também a qualificação para a Liga dos Campeões através [pelo menos] do segundo lugar. Acredito que possamos levantar também a Taça de Portugal. Para mim é muito sensível mexer com a época desportiva do FC Porto e estender-me em declarações relativamente ao treinador ainda mais sensível é.

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Candidato diz que FC Porto pode ficar "refém" de teia de interesses ligada a Pinto da Costa ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

Há um ano perguntei à administração por que é que o treinador tricampeão não tinha renovado após a eliminação contra o Inter de Milão. Para mim, que fui treinador, é precisamente nesses momentos que a administração tem de estar perto do seu treinador. Num momento de tristeza e injusto, era o timing perfeito para que isso acontecesse. Acho que um homem com a dignidade de Sérgio Conceição não se meterá no acto eleitoral, pelo que eu só posso retribuir dessa forma, sentando-me com ele quando esta administração tomar posse.

Acha possível que Sérgio Conceição só queira continuar com Pinto da Costa?
Tem que lhe perguntar, não me pode perguntar a mim. Só o próprio poderá responder.

Numa situação em que o treinador não queira continuar, enquanto antigo treinador, tem algum perfil pensado para o FC Porto?
Não tenho, a minha prioridade é sentar-me com o treinador e perceber os seus desejos para o futuro. Como o próprio disse que não tocará nesse tema até ao fim da época, será a nossa prioridade quando lá chegarmos.

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Villas-Boas tem reunido muito apoio de sócios do FC Porto ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

Imagino que identifique mais-valias em si próprio para poder nomear uma sucessão para Sérgio Conceição, na medida em que esteve na mesma posição, também com o sucesso que é conhecido. Acredita que essa será uma mais-valia que traz para cima da mesa enquanto presidente?
Eu trago mais-valias enquanto presidente relacionadas com a parte desportiva, parece-me evidente. Esse é o meu passado, relacionado com o futebol, o meu crescimento de treinador adjunto, observador a treinador principal. Portanto, as minhas mais-valias estão aí. Penso que isso é uma vantagem competitiva, digamos assim, porque cresci no seio do futebol, sei que dinâmicas é que o futebol está a ter e a que é preciso responder com urgência, seja do ponto de vista estrutural, desportivo, formação, como do scouting. As minhas mais-valias podem e devem ser usadas para melhor rendimento da parte desportiva, porque no fundo a parte desportiva é o coração do futebol do Porto e é isso que precisa de ser melhorado.

Ter um treinador como presidente pode trazer algum conflito?
Não, penso que não. Julgo que já fiz a transição para mais para a gestão e a observação a partir do topo. Agora, tenho essas valências desportivas que acho que podem trazer um benefício, sem dúvida.

A ideia é ter um director desportivo?

Sim, a ideia é ter um director desportivo, ter um director de scouting novo também e depois vamos avaliar todo o resto das estruturas. Acrescentaria também a criação de um gabinete de performance e um director de performance. Portanto, na minha óptica, há uma parte que falta muito, a da continuidade da performance, da evolução do jogador de futebol como um todo, que neste momento falta a alguns clubes, outros já começam a fazer a transição.

Vai avançar com algum nome para estas posições, director desportivo, director de scouting, ainda durante a campanha?
Director desportivo seguramente, director de scouting potencialmente, director de performance estão escolhidos, mas penso que não irei anunciar.

Francisco Conceição está numa grande forma, por aquilo que vimos esta temporada. Foi agora chamado à selecção, já está em estágio. Se for eleito, será uma prioridade garantir o passe de Francisco Conceição junto do Ajax? São dez milhões de euros para a recompra do jogador.
Sim, eu acho que as cláusulas obrigatórias de compra já foram atingidas. Posso estar enganado. Se não foram, parece-me que estará para breve. Pelo meu entendimento do que será o seu contrato, segundo a informação que vou recolhendo, dá-me a entender que a opção obrigatória de compra já estará activada.

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SIS atribuiu segurança a André Villas-Boas após agressões a zelador e vandalismo a casa ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

É um jogador para manter, que encaixa no perfil do Futebol Clube do Porto?
Eu acho que qualquer jogador que sai da formação do FC Porto tem um sentido de pertença único relativamente ao clube. E o Francisco representa precisamente isso. Um amor único e singular ao clube, isso vê-se na forma como se expressa em campo, na forma como celebrou recentemente o golo contra o Vizela, e isso é uma vantagem.

Acha que a detenção de Fernando Madureira e outros adeptos associados à violência na assembleia geral na Operação Pretoriano traz serenidade às eleições do FC Porto, ou, por outro lado, serviu para aumentar a instabilidade e contestação?
É uma pergunta um pouco injusta porque os actos têm que ser provados. Prefiro voltar à assembleia geral em si e ao que aconteceu a 13 de Novembro. O que aconteceu foi muito grave. Grave em todos os sentidos, na sua organização, ou na falta dela, na indiferença de todos os órgãos sociais relativamente ao que se estava a passar, na falta de explicações aos sócios relativamente ao que aconteceu, na inacção por parte do conselho fiscal e disciplinar após os acontecimentos e o que me parece que está a acontecer agora é uma corrida atrás do tempo tendo em conta o acto eleitoral. Vemos um conselho fiscal e disciplinar a chamar pessoas que prestaram testemunho na Operação Pretoriano, quando todas as imagens que nós observamos foram claras e evidentes relativamente a alguns indivíduos e à acção que estavam a tomar.

Há várias histórias de muita gente relativamente à assembleia geral de 13 de Novembro. Há muita gente que viu muita coisa. Muitas entradas de não-sócios dentro de uma assembleia geral. Passagens de pulseiras de mão em mão de pessoas não autorizadas. Tudo isto leva o bom-nome do FC Porto para um território onde não devia estar. Não acho que tenha sido devidamente combatido, nem pela administração, direcção ou órgãos sociais do FC Porto. Causa-me algum desconforto, se bem que naturalmente é possível, que pessoas ligadas ao vice-presidente da mesa da assembleia geral estejam a defender pessoas que agrediram sócios de dia 13. Legalmente é possível, são os seus advogados, mas custa.

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André Villas-Boas concorre contra Pinto da Costa à presidência do FC Porto ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

O André disse ser necessário repensar o protocolo que o clube tem com as claques. No seu entendimento, as claques passariam a ter acesso aos bilhetes nas mesmas condições do que um sócio normal, tanto na acessibilidade como no preço?
Desde que sejam sócios, não vejo razão nenhuma para que não o seja. A questão aqui prende-se mais, sobretudo relativamente aos grupos organizados de adeptos, com os não sócios. Algumas das pessoas que frequentam os grupos organizados de adeptos, tanto o Colectivo 95 como os Super Dragões, não são sócios [do clube] e encontram-se às vezes em posições privilegiadas de acesso a bilhetes. Tudo isso é para reformatar, reorganizar. Os grupos organizados de adeptos não podem ter mais privilégios do que os sócios do FC Porto. E os não sócios dos grupos organizados de adeptos não podem ter mais privilégios que as pessoas que são do público em geral que querem ter acesso a bilhetes. Portanto, todos estes protocolos são para reformatar. A parte da bilhética é onde tem existido um número elevado de queixas, seja por parte dos associados, seja por parte das casas do FC Porto, que se encontraram estranguladas ano após ano relativamente à bilhética. Eu posso dizê-lo aqui, a administração do FC Porto pode desmentir com mais um comunicado, basta que vocês perguntem às casas do clube ou associados que encontram facilmente a verdade.

Num cenário em que Super Dragões e Colectivo 95 não mostrem abertura para negociar os protocolos, está preparado para cortar relações como aconteceu com o Sporting de Frederico Varandas, por exemplo?
Acho que estamos a entrar um pouco no campo da utopia e de cenários que vão acontecer que podem não acontecer. Todos os adeptos do FC Porto vivem o clube de uma forma única e singular e querem estar presentes. Não vamos aqui entrar em birra. Tem de haver clareza, comunicação, frontalidade e uma equidade no acesso a direitos, que é o que está a faltar.

Os muros de sua casa foram pintados mais do que uma vez e o zelador do seu condomínio foi agredido. Desde que se candidatou à presidência do clube, mudou alguma rotina por questões de segurança?
Foi-me atribuída segurança e protecção pessoal, por parte do Ministério Público e do SIS [Serviço de Informações de Segurança]. São as realidades com as quais eu levo o meu dia-a-dia. Quero, como toda a gente, a minha família protegida. Sinto-me protegido e acompanhado. Tenho também segurança privada que faz a protecção da minha casa dentro do seu perímetro, como deve ser. Nesse dia, infelizmente, antes de eu tomar essas decisões, estava o meu zelador nocturno e acabaram por acontecer esses episódios tristes. Estão sob investigação, fazem parte do passado. Reformatámos a nossa vida pessoal relativamente a estas questões, não voltaram a acontecer e seguimos o nosso rumo. Não é isso que nos vai afectar.

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Eleições marcadas para 27 de Abril ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

O André criticou recentemente a falta de segurança no museu, algo que permitiu o roubo das faixas das duas claques do FC Porto. Teme que esta insegurança se alargue às eleições de 27 de Abril. Acredita que existirá uma tentativa de condicionar votos ou adulterar os resultados eleitorais?
Está a falar de um crime. Chamei a atenção para a segurança porque a operacionalização do acto eleitoral é muito importante e, no dia 28 [de Abril], há um Porto-Sporting. Se estivermos a prever um acto eleitoral que possa ir entre as 20 mil e as 30 mil pessoas de movimento antes de um jogo, isto é quase como se houvesse um Porto-Vizela antes de um Porto-Sporting. É muita gente a operar, logisticamente e operacionalmente. Confio que o FC Porto tenha criado um grupo interno e confio na integridade, na ética e na transparência dessas pessoas para organizar o acto eleitoral.

Para nós, nesta fase, estamos em contacto com o presidente da assembleia geral, Lourenço Pinto, através principalmente do nosso candidato a presidente da assembleia geral, António Tavares. Depois, a partir do momento da oficialização da candidatura, a partir de 27 de Março, já entraremos num campo onde precisamos de resposta a muitas perguntas. Precisamos de estar em contacto directo com as equipas do FC Porto, porque queremos também estar com as pessoas que vamos levar como delegados das mesas, fiscalizadores, escrutinadores do acto eleitoral.

Precisamos de saber como é que se processam a selagem das portas, a credenciação, a operacionalização, a contagem das urnas e todas as questões relacionadas com as quotas, as bases de dados e a protecção da base de dados também. É muito importante que haja protecção total da base de dados. Nós vimos recentemente no caso da eleição para os órgãos sociais do Gil Vicente, por parte do Hugo Vieira, alguma frustração relativamente à não actualização da base de dados, particularmente relativamente a pessoas que já tinham falecido e que ainda estavam no universo votante. Tudo isto é muito sensível, pelo que a protecção da base de dados e do acto eleitoral em si tem de ser muito bem escrutinada.

Uma das bandeiras da sua campanha é a defesa das casas do FC Porto – alegadamente colocadas em segundo plano face às claques no momento da distribuição dos bilhetes. O André tem-se reunido com sócios nos últimos dias. As casas têm mostrado abertura para o receber? Tem encontrado algum entrave?
Quando projectámos este calendário foi no sentido de visitas às localidades e não às casas do FC Porto. Porque, como pode facilmente perceber, eu recebo muita informação privada por parte de vários associados e muitas casas. Infelizmente, o que se passa actualmente no FC Porto é o medo da coacção, da agressão. Há medo de represálias de liberdade de opinião. Estipulámos, em primeiro lugar, visitas informais às casas, onde eu apareci de surpresa nas casas. E deparei-me com pessoas a tomar café. Muito poucas pessoas, mas, evidentemente, num sinal simbólico muito forte.

Gradualmente, e felizmente, fruto de pessoas com coragem que decidiram abrir as portas – caso da casa do FC Porto de Ponte da Barca e a de Lausanne, sendo as primeiras – as outras perderam o medo. E, ao perder o medo, decidiram abrir as portas também às outras candidaturas, como num bom acto democrático deve ser. Portanto, o que nós projectávamos ser visitas às localidades, marcando auditórios, salas de reuniões ou salas de hotel para estar em contacto com os sócios do Futebol Clube do Porto que apoiam esta candidatura, ou outros que queiram conhecer esta candidatura, passámos finalmente a ser recebidos pelas casas. E temos agora um número sem fim de pedidos relativamente à nossa visita, o que é muito bom.

O André disse que acredita que o título ainda é possível e no acesso à Liga dos Campeões, mas existe sempre a possibilidade de o FC Porto falhar esta qualificação por via de não alcançar o segundo lugar. Tem um plano traçado para essa eventualidade?
Isso é um caso que nos pode acontecer. Aí não há muito mais a fazer a não ser olhar para os activos que restam e ver que valor é que eles têm no mercado, sendo que nós também estamos em contacto com a banca internacional. O José Pedro [director financeiro] poderá aqui ter uma palavra a dizer para que possamos reformatar a dívida a longo prazo e ter alguma margem de manobra de forma a garantir equipas desportivas competitivas. Sabemos que, numa mudança de uma direcção de 40 anos para outra nova, a pressão sobre nós é intensa e iminente. Além de que o Futebol Clube do Porto não foi campeão o ano passado, poderá não ser campeão este ano e tem que encontrar rapidamente com o título de campeão nacional.

Daí que minha aposta sobre a direcção desportiva e a transição da direcção desportiva tem que ser o mais suave possível, vou utilizar todas as minhas valências no campo desportivo para apoiar a equipa principal no rumo a esse campeonato 2024-25. Criar uma equipa competitiva que nos permita ser campeões. Agora, o Futebol Clube do Porto acaba de alienar 30% do seu “coração”, ou seja, 30% das suas receitas comerciais. Ou seja, uma venda de parte de um seu activo. O resto dos seus activos estão no seu estádio e também está no seu plantel. Teremos que equacionar risco e também viabilidade competitiva. Isso são tudo questões que vamos analisar quando chegarmos. Vamos ser inflexíveis é com a gestão rigorosa e cuidada, com a disciplina financeira, a disciplina orçamental, o controlo de custos. Vamos parar com o sangramento que tem sido a actual gestão financeira do FC Porto. Nós, nos últimos 12 anos, adicionamos ao nosso passivo 250 milhões de euros. Ou seja, que gestão é esta que, em 12 anos, adiciona 250 milhões de euros ao seu passivo e torna o Futebol Clube do Porto totalmente dependente dos seus credores?

Tem havido uma descida de qualidade no futebol português em comparação com os outros campeonatos europeus – basta olhar para a equipa do FC Porto de 2011 que o André comandou. É possível inverter esta tendência sem ir no caminho do endividamento? Isso exige um entendimento com os outros clubes?
Diferentes tempos. Em primeiro lugar, uma ressalva: a equipa que eu tomei conta em 2010-11 era a equipa de 2009-10, praticamente com os mesmos jogadores que ficaram em terceiro lugar no campeonato e sem o Bruno Alves e o Raúl Meireles. Por essas alturas havia a third-party ownership, ou seja, os fundos e pessoas podiam ser donas de passes dos jogadores. Era uma altura em que o FC Porto sobretudo baseava a construção dos seus plantéis no scouting e menos na sua formação. A third-party ownership terminou no futebol, por imposição, e as equipas voltaram-se cada vez mais para a formação, na construção dos plantéis.

Portanto, o futuro do FC Porto passa naturalmente por formar mais e melhor. O FC Porto não é campeão nos juniores há cinco anos, não é campeão nos juvenis há mais de 14 anos. Ganhou, sim senhor, uma Youth League. Poderá estar a caminho de ganhar outra, é um bom sinal para o futuro, mas precisamos de mais e melhor. Precisamos da sustentabilidade financeira do FC Porto também na nossa formação.

Esta é uma altura decisiva e estruturante para o futebol português. Acho que o futebol português não pode subsistir com 18 equipas. Evidentemente, agora que vem a Liga Centralização, ainda que a chave de repartição esteja por definir, muitos dos clubes, naturalmente os mais pequenos, irão opor-se a esta ideia. A discussão da reformatação dos quadros competitivos portugueses tem de voltar a estar em cima da mesa, assim como o possível crescimento da Liga Portuguesa associado a outras dinâmicas comerciais que tragam mais valor para a mesma. Ou seja, estamos a ver uma tendência para os direitos televisivos trazerem menos valor do que anteriormente.

Só para clarificar: estamos a falar de uma redução do número de equipas e de, quiçá, um modelo diferente até de apuramento de campeão, como na Liga Belga. Isto é uma possibilidade?
Penso que esse modelo não, mas uma redução das equipas acho importante, até pela qualidade do espectáculo, para termos estádios mais cheios e para produzirmos mais valor comercial. São tudo temas que eu gostaria de compreender ainda as dinâmicas, de me sentar com o resto dos clubes que fazem parte da Liga e ver onde nos situamos relativamente a este tema, sendo que a última proposta de dinâmica de mudança de quadros competitivos vem da parte do Sporting de Braga, que tentou lançar essa discussão. Para mim, causa-me alguma tristeza e surpresa que não sejam os três grandes os impulsionadores destas conversas.

Em que pé está a relação do André com os presidentes dos restantes clubes, como António Salvador, Frederico Varandas e Rui Costa?
Neste momento, nenhuma. Cruzamo-nos, reconhecemo-nos, enquanto pessoas ligadas ao desporto, mas não tenho relação com nenhum deles, nem pessoal, nem profissional. Profissional eventualmente um dia, enquanto presidente da direcção [do FC Porto].

Mas não veria um entrave no entendimento e em sentarem-se para conversar?
Penso que não.

Superliga Europeia: qual é a sua posição, acompanha a posição que tem sido do clube e de Pinto da Costa?
Tudo isto é muito sensível agora. Acho que, nesta fase, há quase um testar de águas futuras relativamente às novas competições europeias. Vamos ver como caminham, como se reorganizam. Todos nós, portugueses e europeus, estamos intimamente e emocionalmente ligados à Liga dos Campeões, à Taça dos Campeões Europeus, à Taça das Taças, à Taça UEFA, que têm um sentido histórico e de valores incalculáveis. É aí que queremos estar, o ser campeão do nosso país, o conceito de mérito, de entrada em competições europeias.

O que me parece que está neste momento a causar bastante frisson? É o facto de Portugal ter perdido o seu coeficiente no ranking da UEFA, fruto do coeficiente de pontos atribuídos à Liga Conferência há dois ou três anos. Portugal apanhou-se a dormir, no fundo, as equipas holandesas e belgas foram crescendo em termos de coeficiente de país por causa da Liga Conferência. Portugal acabou ultrapassado e poderemos ter uma Liga dos Campeões sem a presença dos três grandes. E, agora de repente, há um novo acordar e um novo alerta. Felizmente, isso foi tudo reenquadrado relativamente ao coeficiente, mas se há algo que ameaça a qualidade de uma futura Liga dos Campeões é precisamente esse coeficiente desses países. Esperemos que não venha a acontecer, mas não é possível que um clube como o FC Porto não esteja na nova Liga dos Campeões. Está no Mundial de Clubes. Por demérito, potencialmente pode não estar na Liga dos Campeões no próximo ano, mas estará um clube como o Brest, Girona e são estas coisas que começam a custar aos clubes, relativamente ao novo formato desse coeficiente dos países.

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Futebol feminino e futsal, já disse que são objectivos. Tem algum prazo para que isso aconteça?
Temos dois caminhos para a implementação dos mesmos. Um, o que nos atrai mais, é a construção progressiva. Faltam os escalões de sub-17, sub-19 e a equipa sénior. As sub-17 imediatamente, para haver continuação das sub-15, essa implementação parece-me necessária imediatamente e reforço da mesma. Na nossa óptica, se este for o caminho escolhido, potencialmente poderemos não criar o escalão de sub-19 e criar o escalão sénior imediatamente e entrar com ele na 3.ª Divisão Nacional. No próximo ano será o último desse escalão, no ano seguinte haverá a 4.ª Divisão feminina.

Este é o caminho da construção progressiva, à medida que também teríamos a construção progressiva da nossa academia e criaríamos mais infra-estruturas para recebermos o maior número de escalões. Há também a alternativa de parcerias, um pouco à imagem do que foi feito no voleibol, com compras de licenças. É preciso equacionar custos da mesma, saber se é possível. Não tem o mesmo valor simbólico e histórico, no entanto é outro dos caminhos. É preciso equacionar custos da mesma, saber se é possível. Não tem o mesmo valor simbólico e histórico, no entanto é outro dos caminhos.

No futsal é um pouco diferente. A Federação Portuguesa de Futebol, no escalão sub-11 e sub-13, permite que os miúdos joguem ao mesmo tempo as duas modalidades. Isso já não acontece nos sub-15. A nossa ideia é nos sub-11 e sub-13 fazerem essas modalidades, ou seja, um crescimento dos plantéis que possa permitir depois também jogar no futsal ao mesmo tempo, daí a tal construção progressiva. Há o caminho da compra de licença, há muitos clubes interessados em ser parceria com o FC Porto e voltamos ao mesmo: que custo, implicações, que sentimento para os adeptos do FC Porto. O que fizemos foi chamar uns conjuntos de adeptos e deram-nos a entender que o futebol feminino devia ser sim ou sim, o que nos parece lógico e obrigatório. O futsal também, enquanto modalidade apaixonante. Tivemos muitos indicadores para a implementação do voleibol masculino, atletismo e o regresso do ciclismo. Não podemos chegar a todas. No FC Porto, na situação em que se encontra, as modalidades representam um custo, normalmente financiado pelas sociedades desportivas. O atletismo não é difícil de montar.

E o ciclismo?
Dificilmente.

É um activo tóxico nesta altura?
Sim. E não é um campo onde acho que o FC Porto deve entrar. Daí que através da fundação eu tenha levantado esse desafio: o regresso do espírito do desporto amador. Em cada sócio, um atleta do FC Porto. Através da fundação, o FC Porto comparticiparia participações ou despesas em determinadas viagens e inscrições, seja elas quais forem as modalidades – triatlo, hipismo, remo. Isto seria uma forma de alargar as modalidades do FC Porto, evidentemente dentro do espírito amador, mas envolvendo de uma forma significativa os sócios emocionalmente.

A construção da academia do FC Porto é um dos temas que dividem as listas. Tem acordo para a compra de um terreno em Vila Nova de Gaia, no Olival, mas Pinto da Costa diz que o complexo será na Maia e que não há abertura para discussões. Admite estar de mãos presas neste dossier?
Admito, sim, e admiti desde sempre. Potencialmente, poderemos estar de frente com contratos que desconhecemos nesta fase se irão permitir rescisões ou não. Temos de avaliar os dois cenários. Há dois anos, quando comecei a pensar no que seria o futuro do FC Porto, e enquanto não se discutia a Maia, o nosso primeiro propósito foi saber onde. Enquanto se especulava que o FC Porto podia ir para a Maia, após a saída de Matosinhos e dos problemas em 2016 que isso trouxe, e a rescisão dos contratos em Matosinhos, para nós fazia sentido o sentido de unidade. Ou seja, a formação não pode estar distante da equipa profissional. Actualmente, as academias são cidades desportivas, onde estão a equipa profissional e a formação.

Dentro desse conceito, o que é que há ao lado do Olival? Não havia nada. Em apenas duas chamadas chegámos a dois terrenos. Fizemos a proposta por um e assinámos o contrato-promessa de compra e venda que permite a instalação de cinco relvados. Inicialmente, pensámos que nesta academia estaria a formação do FC Porto. No entanto, acontece que a equipa principal também necessita de uma modernização das suas estruturas. Já passaram 20 anos do actual Centro de Treinos e Formação Desportiva do Olival e a equipa do FC Porto precisa de estruturas mais modernas. Invertemos o processo e invertemos por uma razão muito simples: quando a equipa principal está a treinar, a taxa de ocupação dos outros espaços é quase nula. A equipa principal tem três relvados, ocupa um, há dois por ocupar e há um sintético por cima, como vocês bem conhecem, também desocupado e potencialmente poderá estar a equipa B a treinar no mini-estádio.

Para nós, do ponto de vista lógico, colocamos a formação no centro de treinos do Olival e dessa forma podemos trazer uma infra-estrutura moderna para a equipa principal, que está necessitada, e para as equipas profissionais. Este terreno, dado o seu tamanho, permite a construção de um pavilhão para as equipas profissionais das modalidades e isso traz mais flexibilidade em termos de infra-estruturas para as modalidades. Para nós, é um conceito belíssimo que queremos explorar.

Agora, com que situação é que nos poderemos deparar contratualmente? A hasta pública terá lugar antes das eleições. O FC Porto comunicou ontem [segunda-feira], desmentindo o seu administrador financeiro, que afinal é o comprador dos terrenos na hasta pública, que se estimam num valor de 3,3 milhões de euros. Tanto quanto entendo, 20% têm de ser debitados à cabeça. Em primeiro lugar, quero saudar a capacidade financeira repentina do FC Porto para se comprometer dessa forma. Depois, ao mesmo tempo, deu-se a surpresa de um comunicado vir desmentir o próprio administrador financeiro. Isto é um caso evidente da linha comunicacional do FC Porto vir desmentir-se a si própria. Dá ideia que já ninguém sabe quem é que manda…

O André partilha das dúvidas levantadas pelo vereador da oposição da CM da Maia?
Não sei, não entro nesse campo. A única coisa que sei é que o detentor da parte privada é precisamente uma empresa ligada à construtora Barbosa Borges, porque os documentos públicos assim o indicam. Agora, essa informação terá de responder o próprio. O que me parece evidente e cada vez mais frequente é que, quando ouvimos falar em negócios, estão sempre metidos Pedro Pinho e João Rafael Koehler. Porque é que nos futuros negócios do FC Porto estão sempre metidos, se calhar injustamente, Pedro Pinho? Mas por que é que está metido, através da Quadrantis, João Rafael Koehler?

É precisamente disto que os sócios do FC Porto se fartaram. O FC Porto continua a ser um quintal com uma galinha de ovos de ouro, que cada vez produz menos, mas que para os próprios produz bastante. O FC Porto pode somar, em comissões para as empresas de Pedro Pinho, um número elevado de milhões de euros. E, potencialmente, para fundos relacionados com João Rafael Koehler, um número elevado em juros e comissões. Não tenho nada contra o fundo Quadrantis, é um fundo como outro qualquer, mas tenho um problema com a promiscuidade, os interesses e a proximidade relativamente à outra candidatura.

Eu, apesar de ser candidato à presidência do FC Porto, sou também sócio do FC Porto. Daí que, enquanto sócio e accionista, tenha pedido explicações sobre estes negócios cada vez mais promíscuos e de interesses de outras pessoas, onde me parece cada vez mais evidente que algumas pessoas, de certa forma, se estão a aproveitar da debilidade do presidente e da sua incapacidade, digamos assim, actualmente.

A sua lista acusou a SAD de cosmética contabilística no mais recente Relatório e Contas, notando-se alguma desconfiança face às políticas adotadas. Receia que a situação seja ainda mais negativa do que se imagina?
Se assim for, os sócios saberão primeiro. Agora, eu serei implacável contra qualquer pessoa que tenha lesado o FC Porto.

E confirma que avançará com uma auditoria às contas?
Neste momento vamos chamar-lhe uma análise profunda às contas. O que temos em programa eleitoral é uma auditoria forense às transferências na equipa B e uma auditoria forense à bilhética do FC Porto.

O FC Porto não tem mostrado capacidade de renovar com jogadores em fim de contrato, algo que levou à perda de milhões. Qual é a sua estratégia para mudar isto?
Planeamento e visão, a curto, médio e longo prazo, o que nunca houve. O FC Porto acaba por ficar refém por não planear a tempo. É difícil, sei que é difícil, pode acontecer connosco da mesma forma, agora não pode é acontecer permanentemente e no FC Porto acontece permanentemente. E por causa disso, só em sete jogadores – Mbemba, Uribe, Herrera, Marcano, entre tantos outros –, tivemos perdas de 50 e tal milhões de euros, que foi o valor do passe dos jogadores quando os comprámos.

Tem alguma expectativa em relação ao novo Governo em matéria de Desporto, de fiscalidade?
É um tema que gostava de desenvolver. Acho que, acima de tudo, o que não ouvimos falar nestas legislativas foi de Desporto. A única crítica que posso fazer é à ausência e à indiferença de conversas relativamente ao Desporto por parte de todos os partidos. Acho que o futebol tem de ser defendido de outra forma, e isso também custa, que os Governos não olhem para a indústria de outra forma.

Fechamos regressando às eleições e à presidência do FC Porto. Defende alguma limitação de mandatos?
Vindos de uma direcção que esteve 40 e tal anos na presidência, eu prefiro que sejam os sócios a lançar essa limitação. Para mim faz todo o sentido, dou-lhe a minha opinião. Faz sentido também que o presidente do FC Porto não seja remunerado também, assim dizem os estatutos relativamente à direcção, evidentemente são remunerados na sociedade desportiva. São temas e tópicos quentes que acho que devem ser debatidos em sede de Assembleia-Geral com os sócios, sempre com os sócios a aprovarem o que seriam as decisões tão estruturantes relativamente aos estatutos do clube.

Está desiludido pela falta de um debate com os outros candidatos, em particular com o actual presidente?
Não, porque as candidaturas ainda não se oficializaram. A partir do momento em que se oficializem, da minha parte tenho total abertura. Se vão ser quentinhos, provavelmente [risos].

Acredita que vão acontecer?
Não sei. Tinha de haver aceitação por parte dos três [candidatos]. Acho que há aqui duas candidaturas muito fortes e há uma que repete a candidatura de 2020, mas que parece estar muito aliada à candidatura de Jorge Nuno Pinto da Costa. Portanto, se for um contra dois, se calhar não contem comigo. Se for um contra um contra um, podem contar comigo.

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