Benzema processa ministro do Interior francês por difamação

Após o jogador de futebol ter partilhado, em Outubro de 2023, o seu apoio à população de Gaza, Gérald Darmanin acusou-o de estar ligado à Irmandade Muçulmana mas não apresentou provas concretas.

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A defesa do antigo jogador do Real Madrid é categórica: Benzema “nunca teve a menor ligação com a organização da Irmandade Muçulmana" EPA/Enric Fontcuberta
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Karim Benzema, jogador de futebol francês, abriu um processo por difamação contra o ministro do Interior do país, Gérald Darmanin, que o acusou de pertencer à Irmandade Muçulmana, avança a France Presse (AFP). A contestação judicial foi apresentada no Tribunal de Justiça da República, o único tribunal francês que pode processar membros do governo por crimes cometidos durante o exercício das devidas funções. Darmanin ainda não se pronunciou.

A Irmandade Muçulmana é uma organização religiosa e política islâmica defensora da aplicação da sharia (lei islâmica) em todos os aspectos da sociedade. Esta foi proibida não só no Egipto, onde surgiu há cerca de 80 anos, como na Arábia Saudita, onde vive Benzema, hoje jogador do Al-Ittihad. A organização teve influências na criação de muitos grupos islamistas actuais, entre os quais o Hamas — um ramo paramilitar, como era designado, da Irmandade Muçulmana na Palestina.

“Todas as nossas orações pelos habitantes de Gaza, mais uma vez vítimas destes injustos bombardeamentos que não poupam mulheres nem crianças”, escreveu Karim Benzema no X, antigo Twitter, a 15 de Outubro de 2023. As reacções à publicação do jogador muçulmano não tardaram. Entre elas estava a do ministro do interior francês. “Karim Benzema tem ligações notórias, como todos sabemos, com a Irmandade Muçulmana”, afirmou Darmanin no canal CNews.

Mesmo sem apresentar provas concretas, o ministro relembrou o silêncio de Benzema aquando do ataque do Hamas a 7 de Outubro e do esfaqueamento de um professor por um ex-aluno muçulmano, episódio ocorrido em França.

Após as declarações do ministro, também a senadora francesa Valerie Boyer falou sobre o assunto. Na visão da senadora, e se comprovadas as ligações à organização islâmica, o futebolista deveria perder a nacionalidade francesa (o avançado nasceu em Lyon mas tem também a nacionalidade argelina, à semelhança dos pais), bem como a sua Bola de Ouro, que conquistou em 2022 enquanto jogador do Real Madrid.

Entre as 92 páginas da denúncia, consultadas pela agência francesa, o ministro é acusado de “minar” a honra e reputação do jogador que “nunca teve a menor ligação com a organização da Irmandade Muçulmana, nem, ao [seu] conhecimento, com alguém que se declare membro”. À rádio francesa RTL, o advogado de Benzema, Hugues ​Vigier, falou de uma “exploração política” que quer semear a “divisão em França”.

​Vigier já havia esclarecido, em Outubro, que “rezar por uma população civil que vive sob bombas não é propaganda para o Hamas, nem cumplicidade no terrorismo, nem um acto de colaboração. É uma compaixão natural face ao que muitas pessoas qualificam como crimes de guerra, mas que de forma alguma diminui o horror das acções terroristas [do Hamas]”.

Esta não é a primeira vez que o internacional francês se envolve em processos judiciais. Há pouco mais de dois anos, Benzema foi condenado por cumplicidade no caso da chantagem ao antigo colega na selecção nacional, Mathieu Valbuena.

Texto editado por Paulo Narigão Reis

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