Imersão, o festival de arte queer que quer sair da “bolha”

Começou com residências artísticas, agora vai ser uma mostra de arte queer que se pode visitar a 20 e 21 de Outubro em Lisboa. Noah Zagalo e S4RA são alguns dos artistas que podes descobrir.

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Mural Um corpo é um território de sossego, resultado de uma das residências Imersão Rodrigo Tiago
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É activismo gráfico, é intervenção urbana, é videoarte, é música, são artes performativas. É também o resultado da mentoria de artistas LGBTQI+ a artistas LGBTQI+. É assim que se define a primeira edição do festival Imersão, uma mostra feita com o que o sangue novo tem a dizer e que acontece no fim-de-semana de 20 e 21 de Outubro, no Teatro Ibérico, em Lisboa.

No fundo, é um festival da comunidade LGBTQI+, que tenta “rebentar a bolha” e chegar a público de fora, resume Ary Zara, director artístico do Queer Art Lab, plataforma por detrás de Imersão. “Quando chegamos todos da mesma bolha, toda a gente pensa a mesma coisa, faz a mesma coisa, é mais difícil isso ir mudando.”

“Dá para viver dentro da bolha? Dar, dá, mas penso que a verdadeira discussão e mudança só acontecem quando nos disponibilizamos a sair de um lugar de conforto e perceber como é que o nosso trabalho impacta as pessoas que são diferentes de nós e, mesmo as que são parecidas, mostrar o que nos une”, resume.

E para que não haja dúvidas: Imersão é o nome dado ao projecto anual do Queer Art Lab, composto por dois momentos. O primeiro, que já aconteceu, foram as residências artísticas que serviram para “capacitar e dar suporte a artistas emergentes da comunidade LGBTQI+”. O segundo será o festival, onde o resultado dessas residências será revelado ao público.

Filipe Sambado, Marco da Silva Ferreira, Rod, Tamara Alves e Tiago Leão foram os mentores das residências artísticas das áreas em que se foca o festival — activismo gráfico, intervenção urbana, videoarte, música e artes performativas. “Queríamos que fossem pessoas da comunidade LGBTQIA+, para nós seria mais confortável começar dessa forma”, explica Ary Zara. Outro dos requisitos era serem pessoas “que já estão inseridas nos respectivos meios e que, através da mentoria, pudessem puxar os artistas emergentes para o mercado de trabalho”, criar-lhes oportunidades.

Ideias, vontade e um “cartão de visita” para mostrar no fim

Os artistas emergentes que participaram nestas iniciativas de formação também foram escolhidos pelo Queer Art Lab, em conjunto com os mentores — “sem preocupação com a formação académica” dos potenciais escolhidos, mas com “a motivação de participarem com ideias que queriam desenvolver”. Para além da ajuda dos mentores, os artistas contaram com “uma ajuda de custo”, para garantir que podiam frequentar os laboratórios criativos, “tendo em conta a precariedade associada à nossa comunidade.”

As residências duraram quatro semanas – “um tempo relativamente curto para se criar”, admite o director artístico do Queer Art Lab. Contudo, é tempo suficiente para que os artistas pudessem sair com “um cartão de visita para mostrar a programadores, galerias e produtores”.

“Se nós pensarmos, por exemplo, em activismo gráfico, as pessoas que frequentaram o laboratório têm independência para trazer o seu activismo para a rua, através das ferramentas que aprenderam”, exemplifica Ary Zara. “A mesma coisa com artes performativas. Em pouco tempo, consegues criar uma peça de 30 minutos, consegues apresenta-la a outras residências, continuar a trabalhá-la, de forma a fazê-la crescer e ela poder ser programada.”

O feedback tem sido positivo – ainda que Ary Zara admita ter “um viés”. “As pessoas têm encontrado nas residências um espaço onde podem explorar de forma segura novas ideias e abordagens.” Em 2024, o Imersão deverá repetir-se, com novos mentores: “Estamos a conseguir o olhar de novas instituições e espaços que não nos conheciam antes e a conseguir criar novas parcerias”, revela.

A pele como mote

Os trabalhos seguiram todos a mesma “linha condutora”: 360º de pele. “A nossa ideia era explorar um pouco experiências individuais numa óptica circular. Ou seja, de que forma é que nós, pessoas queer, nos relacionamos com a sociedade, como a experienciamos. O que é que trazemos de fora para dentro e o que é que empurramos de dentro para o exterior? Acaba sempre por tocar na identidade da pessoa que cria”, exemplifica o director artístico.

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O mural, resultado de uma das residências artísticas Rodrigo Tiago

Vai ser possível conhecer as respostas a esta pergunta ao longo dos dois dias de festival. O primeiro, 20 de Outubro, está marcado por duas performances — AL13NS ANTL3RS de Aurora, às 21h, e Monstera de Izabel Nejur, às 21h45 — seguidas de dois concertos – Diego Bragà actua às 22h40 e Diana XL às 23h15.

O segundo e último dia arranca com a performance Pra não caber no mundo de Andrei Bessa, às 21h, seguida da performance Casca, de David J. Amado, às 21h50. Encerra com o concerto de Marianne 3.0, às 22h30.

Nos dois dias, pelas 18h, está marcada uma visita guiada ao mural Um corpo é um território de sossego, na rua Gualdim Pais. E, ao longo do festival, vão estar expostas em permanência as videoinstalações Rio de Metal de Francisca Antunes, Rave de S4RA e Cisterbus de Rebeca Letras, assim como duas exposições: Um corpo é um território de sossego (Bruna Borges, No Soy To Baby, Noah Zagalo, Time for the Oniric) e Quantas mais pessoas trans terás de matar? (Agah, Carolina Elis, Félix Rodrigues, Mariana Caldeira).

O bilhete diário custa dez euros e o passe para os dois dias, 16 euros. Para os profissionais da cultura, é mais barato: o bilhete diário passa a 8 euros.

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