Guterres pede uma cimeira de ambição climática “sem disparates” em Setembro
Secretário-Geral das Nações Unidas deixou um aviso em tempo de guerra: “Precisamos de uma revolução das energias renováveis, não de um ressurgimento auto-destrutivo dos combustíveis fósseis”
O Secretário-Geral das Nações Unidas António Guterres disse esta segunda-feira aos produtores de combustíveis fósseis que "não deveriam estar em actividade", a menos que visem de forma credível as emissões líquidas zero e advertiu que o mundo está a caminhar para uma "guerra mais vasta" sobre a Ucrânia.
Num discurso à Assembleia Geral das Nações Unidas de 193 membros, apresentando as suas prioridades para 2023, Guterres apelou também a "um novo momento Bretton Woods" - referindo-se à conferência de 1941 que levou à criação do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial.
Guterres, que tomou posse nas Nações Unidas em 1 de Janeiro de 2017 e está agora no seu segundo e último mandato de cinco anos, há muito que tem vindo a pressionar no sentido de mudanças para favorecer as nações em desenvolvimento nas instituições financeiras globais e a falar sobre o combate às alterações climáticas.
"Tenho uma mensagem especial para os produtores de combustíveis fósseis e os seus facilitadores, que estão a lutar para expandir a produção e gerar lucros monstruosos: se não conseguem desenhar um caminho credível rumo à neutralidade carbónica, com objectivos para 2025 e 2030 que cubram todas as vossas operações, não devem estar neste negócio", disse Guterres.
"O seu produto principal é o nosso problema principal", disse ele. "Precisamos de uma revolução das energias renováveis, não de um ressurgimento auto-destrutivo dos combustíveis fósseis."
Os países estão sob pressão para reduzir as emissões para metade até 2030 e para zero até 2050, o único caminho para manter o aquecimento global a 1,5 graus Celsius. Guterres está a convocar uma cimeira de ambição climática "sem disparates" em Setembro.
Sobre o sistema financeiro global, Guterres apelou a um novo compromisso para elevar as "necessidades dramáticas" e as vozes dos países em desenvolvimento. Disse também que é necessária uma nova arquitectura da dívida que englobe o alívio e a reestruturação da dívida aos países vulneráveis, incluindo os de rendimento médio em necessidade.
Guterres dirigiu-se à Assembleia Geral apenas semanas antes do primeiro aniversário, a 24 de Fevereiro, da invasão russa da Ucrânia, que disse estar "a infligir um sofrimento indescritível ao povo ucraniano, com profundas implicações globais".
"As perspectivas de paz continuam a diminuir". As probabilidades de uma nova escalada e derramamento de sangue continuam a crescer", disse Guterres. “Receio que o mundo não esteja a avançar, sonâmbulo, para uma guerra mais ampla; receio que o esteja a fazer de olhos bem abertos”