Alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos assume funções já com críticas
Volker Türk ocupa a partir de agora o cargo que nos últimos anos foi de Michelle Bachelet. As maiores organizações de defesa dos direitos humanos do mundo pediram-lhe que “seja ousado”.
Embora tenha sido uma nomeação que já se esperava que o secretário-geral da ONU, António Guterres, fizesse, várias vozes se levantaram para considerar Volker Türk, o novo alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, pouco hábil para o cargo. O antigo primeiro-ministro português e o advogado austríaco, de 57 anos, são bastante próximos.
Num artigo de opinião publicado na revista Foreign Policy, o ex-director da organização não governamental Human Rights Watch Kenneth Roth considerou que ONU “deu a um diplomata sem chama o trabalho errado”. Para Roth, Volker Türk “não tem temperamento para ser o líder dos Direitos Humanos das Nações Unidas” e a sua escolha “corre o risco de se tornar a mais decepcionante do secretário-geral da ONU, António Guterres”.
Também o director executivo da ONG Serviço Internacional para os Direitos Humanos, Phil Lynch, considerou que a escolha do novo Aato-comissário foi “uma oportunidade perdida” para a ONU. Já a investigadora de Relações Internacionais da Universidade de Sussex no Reino Unido Anne Brendan explicou à Lusa que o facto de Türk ser muito próximo de Guterres cria a ideia de que pode ser controlado ou mesmo tornar-se “uma marioneta”.
Türk, que ocupa o cargo deixado vago por Michelle Bachetet, tem, no entanto, uma longa experiência nas Nações Unidas. O austríaco, que se tornou secretário-geral adjunto da ONU para os Assuntos Políticos em Janeiro de 2022, passou a maior parte da sua carreira nos quadros das Nações Unidas, em particular no Alto Comissariado para Refugiados, onde trabalhou em estreita colaboração com Guterres (2005-2015), quando este dirigiu o organismo agora tutelado por Filippo Grandi.
Entre 2019 e 2021, Türk assumiu as funções de secretário-geral adjunto para Coordenação Estratégica no Gabinete Executivo da ONU e antes já tinha sido alto-comissário adjunto para a Protecção dos Refugiados na Agência da ONU para os Refugiados, em Genebra. Nos quatro anos anteriores, tinha desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento do Pacto Global sobre Refugiados.
Doutorado em Direito Internacional pela Universidade de Viena e mestre em Direito pela Universidade de Linz, na Áustria, Türk assume o posto numa altura em que a área dos direitos humanos enfrenta problemas graves e sérios desafios, desde as proibições impostas às mulheres no Afeganistão até aos crimes de guerra na Ucrânia, passando pelas denúncias de genocídio da minoria muçulmana uigur na China ou o racismo policial nos Estados Unidos.
As maiores organizações de defesa dos direitos humanos do mundo, a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch (HRW), pediram-lhe directamente para que “seja ousado” e “enfrente os países mais poderosos”.
“A sua voz em defesa das vítimas de violações de direitos em todo o mundo deve ser alta e clara: essas vítimas estão a contar com ele para enfrentar os agressores, mesmo que sejam Estados poderosos”, sublinhou a Amnistia, em comunicado.
Por sua vez, a HRW defendeu que “o que os milhões de pessoas cujos direitos são violados diariamente precisam é de um advogado que esteja ao seu lado e enfrente governos abusivos, grandes ou pequenos, sem medos e sem hesitações”.