Alemanha: em congresso, os Verdes concordam com extensão do nuclear até Abril de 2023

Partido abdica de tema que está no coração da sua ideologia num curto espaço de tempo. Tão curto que há quem diga que o confronto entre duas correntes dos Verdes “foi apenas adiado”.

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Robert Habeck no congresso dos Verdes, em Bona SASCHA STEINBACH/EPA

A mudança vinha a ser vista como praticamente inevitável e finalmente, esta sexta-feira, os Verdes alemães aprovaram formalmente a proposta do ministro da Economia, e um dos chefes do partido, Robert Habeck, para que duas centrais nucleares continuem a operar – mas só até Abril de 2023, e a terceira central mantém o fim da operação para a data prevista.

Ainda assim, uma ala do partido levou ao congresso, que decorre até domingo em Bona, uma moção para rejeitar a extensão do prazo das duas centrais proposta por Habeck. A moção foi rejeitada.

A Alemanha teve de alterar radicalmente algumas ideias que foram a base da sua política depois da invasão da Ucrânia pela Rússia – da ideia de que não é necessário ter um exército moderno ao conceito de que comércio com países pouco livres ajudaria à sua democratização. Nos Verdes, as alterações passaram pelo apoio que têm dado ao envio de armas à Ucrânia e, agora, com o apoio ao prolongamento da vida útil das centrais nucleares.

É extraordinário porque a luta contra a energia nuclear foi central na criação do partido e um dos seus temas mais fortes durante décadas. Nos retratos feitos pela imprensa da agora ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, quando era candidata nas eleições de Setembro passado, era referido que Baerbock cresceu a ir a manifestações pelo fim do nuclear com os pais. Ainda no final de Agosto, Baerbock dizia que não seria uma pequena extensão do prazo que iria resolver os problemas da falta de gás.

A mudança de posição parece ter sido mais pacífica do que outras no partido: em 1999, quando o então ministro dos Negócios Estrangeiros Joschka Fischer levou a congresso a participação da Alemanha na guerra do Kosovo, esta foi aprovada – mas o descontentamento de parte do partido ficou bem expresso por uma militante que atirou uma bola de tinta vermelha contra Fischer.

Apesar de estarem a cortar com tabus (o envio de armas para um cenário de guerra e uma extensão do nuclear) os Verdes estão com bons valores nas sondagens (21%, quando nas eleições de Setembro tiveram 14,8%) e os seus ministros – Habeck e Baerbock – estão consistentemente à cabeça dos políticos mais populares do país.

Mas há quem veja no congresso um adiamento das questões-chave, como Constanze von Bullion no Süddeutsche Zeitung, para quem “o confronto foi apenas adiado”.

Porque apesar de ser uma grande mudança para os Verdes, outros vêem a continuação das duas centrais até à Primavera como insuficiente. O Partido Liberal Democrata (FDP), que como os Verdes fazem parte da chamada “coligação semáforo” do Governo liderado pelo Partido Social Democrata (SPD), tem feito pressão para que a terceira central não seja desligada e para que as três continuem a operar além de 2023. É improvável que esta pressão desapareça.

Os liberais também tiveram de fazer a sua própria reviravolta, com o ministro das Finanças Christian Lindner a apoiar investimento nas forças armadas e num programa de 200 mil milhões de euros para consumidores privados e empresas conseguirem fazer face ao aumento do preço do gás, prometendo, no entanto, que estes investimentos vão ter de ser compensados com cortes no orçamento do próximo ano, uma promessa que causa algum cepticismo. O partido está em queda nas sondagens (6% na mais recente, uma diferença enorme para os 11,5% que obtiveram nas eleições) e no fim-de-semana passado ficaram mesmo de fora do parlamento regional da Baixa Saxónia (não chegando aos 5% necessários), uma derrota amarga.

Na Alemanha o medo da falta de gás, necessário para aquecer casas no Inverno e para alguma indústria, não podendo nestes casos ser substituído facilmente por outra fonte, levou a uma poupança extraordinária e os reservatórios estão praticamente cheios. “De acordo com uma avaliação de dados de Setembro/Outubro, os cidadãos alemães estão a poupar entre 20 a 30% de gás. Consistentemente, semana após semana”, escreveu Lion Hirth, perito em mercados de energia, da Hertie School of Government de Berlim, no Twitter. “Isto está para lá do que alguma vez imaginaria.”

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