Cerimónia de homenagem às vítimas do tiroteio de Buffalo torna-se grito contra o racismo
De acordo com um manifesto do atirador, divulgada na Internet, o autor do ataque escolheu conscientemente aquele bairro da cidade porque é habitado maioritariamente por população negra.
A missa celebrada este domingo em Buffalo, estado de Nova Iorque, em homenagem aos dez mortos do tiroteio de sábado com motivações racistas, tornou-se num grito contra a supremacia branca e um apelo à justiça. Das 13 vítimas, dez mortos e três feridos, 11 eram negras.
Perante os principais representantes políticos do estado norte-americano, o bispo Darius Pridgen pediu que fossem empenhados todos os recursos necessários para que se faça justiça contra o alegado agressor do massacre, um jovem branco de 18 anos que foi detido sem direito a fiança sob a acusação de homicídio em primeiro grau.
“O que aconteceu foi terrorismo doméstico, pura e simplesmente”, salientou a procuradora-geral do Estado de Nova Iorque, Letitia James, que juntamente com a governadora Kathy Hochul e outros representantes políticos, participaram na cerimónia religiosa presidida pelo bispo Pridgen.
Letitia James insistiu que se tratou de “um ato de ódio e que deve ser processado como tal”, alegando que o agressor, identificado como Payton S. Gendron, residente em Conklin, uma cidade a 320 quilómetros a sudeste de Buffalo, “se alimentava todos os dias” de um discurso de ódio através das redes sociais.
No sábado, após o tiroteio, o agente especial do FBI Steven Belanger informou que o seu gabinete estava a investigar o massacre “como um crime de ódio e um caso de extremismo violento” com motivações raciais.
A governadora de Nova Iorque, Kathy Hochul, descreveu o que aconteceu num dos supermercados da Buffalo como “um ato de racismo e de supremacia branca” contra a comunidade e sublinhou que devem ser tomadas medidas para evitar mais massacres deste tipo.
De acordo com um manifesto divulgado na Internet, cuja autoria é atribuída a Gendron e ao qual vários oradores se referiram durante a cerimónia religiosa de hoje, o jovem escolheu conscientemente aquele bairro da cidade porque é habitado maioritariamente por população negra.
“Não foi um ato aleatório de violência. Já vimos o suficiente disto. Vemos o que acontece quando há demasiadas armas nas nossas ruas e as pessoas ficam zangadas”, lamentou a governadora.
No parque de estacionamento do supermercado onde ocorreu o tiroteio em que dez pessoas morreram e outras três ficaram feridas, uma multidão reuniu-se durante várias horas, prestando homenagem às vítimas e rezando.
Um “crime de ódio” nos Estados Unidos refere-se a um ato dirigido contra uma pessoa devido a elementos da sua identidade, tais como raça, religião, nacionalidade, orientação sexual ou deficiência, estando previstas penas mais duras para estes casos.
Os tiroteios e mortes em locais públicos são quase diários nos Estados Unidos e o crime com armas de fogo está a aumentar em grandes cidades como Nova Iorque, Chicago, Miami e São Francisco, especialmente desde a pandemia de 2020.
Paytin S. Gendron, que vai ser levado perante um juiz, na terça-feira de manhã, pode ser condenado a prisão perpétua, uma vez que não há pena de morte no estado de Nova Iorque.