Atirador que matou dez pessoas nos EUA defendia teses de supremacia branca
Terrorista de 18 anos escreveu um manifesto no qual professa a teoria que alega, sem qualquer fundamento, que a população branca nos países ocidentais está a ser deliberadamente substituída por imigrantes de outras raças.
O atirador acusado de matar dez pessoas e ferir outras três no sábado, num supermercado da cidade de Buffalo, no estado de Nova Iorque, terá deixado um manifesto racista e anti-imigração, em que defende a ideologia de supremacia branca conhecida como teoria da substituição.
As autoridades identificaram o homem como Payton S. Gendron, de 18 anos, de Conklin, uma pequena cidade na zona rural no sul do estado. O atirador conduziu mais de 300 quilómetros para levar a cabo o seu ataque, que transmitiu ao vivo na plataforma Twitch até ser cortado ao fim de alguns minutos.
Gendron foi detido sem direito a fiança sob a acusação de homicídio em primeiro grau e vai ser presente a um juiz na terça-feira de manhã. Na audiência preliminar, declarou-se inocente. Por este crime pode ser condenado a prisão perpétua, uma vez que não há pena de morte no estado de Nova Iorque.
Os homicídios estão a ser considerados como tendo “motivação racial”, disse a procuradoria do estado de Nova Iorque. O FBI classificou o tiroteio “como um crime de ódio e um caso de extremismo violento com motivações raciais”.
O atirador terá escolhido como alvo o Tops Friendly Market, um supermercado a cerca de cinco quilómetros do centro de Buffalo, por estar localizado num bairro habitado predominantemente por membros da comunidade negra. Das 13 vítimas, dez mortos e três feridos, 11 eram negras.
Segundo um responsável pela investigação, citado pelo jornal Buffalo News, a arma semiautomática que Gendron usou no ataque tinha “a palavra N” [de nigger], escrita a tinta branca no cano da espingarda, assim como o número 14. O mesmo responsável explicou que o número se refere a uma declaração de 14 palavras que é popular entre os supremacistas brancos norte-americanos: “We must secure the existence of our people and a future for white people” (“Temos de assegurar a existência do nosso povo e um futuro para os brancos”). A frase é atribuída ao falecido David Lane, um activista de um grupo terrorista e supremacista branco conhecido como The Order (A Ordem), activo na década de 1980.
Os investigadores estão a analisar um documento que suspeitam ter sido escrito pelo atirador, no qual descreve as motivações para o atentado de sábado, directamente ligadas à ideologia de supremacia branca. O manifesto de 180 páginas foi carregado no Google Drive e detalha a radicalização do jovem de 18 anos em fóruns da internet, bem como os seus planos para atacar um bairro predominantemente negro.
No documento, o autor autodenomina-se como supremacista branco, fascista e anti-semita e professa a teoria da conspiração de extrema-direita que defende, sem qualquer fundamento, que a população branca nos países ocidentais está a ser deliberadamente substituída por imigrantes de outras raças.
O autor do manifesto cita mesmo Brenton Tarrant, o atirador que matou 51 pessoas em duas mesquitas na Nova Zelândia em Março de 2019, como a inspiração principal para o ataque. Mencionado é também Dylann Roof, que matou nove pessoas num ataque a uma igreja negra em Charleston, na Carolina do Sul, em 2015, e que foi condenado à pena de morte por um tribunal federal.
Segundo as autoridades, Gendron entrou às 14h30 (hora local) de sábado no estacionamento do supermercado. Depois de sair do seu veículo, “fortemente armado”, disparou imediatamente sobre quatro pessoas que estavam nas proximidades. Após o primeiro tiroteio, o jovem entrou no supermercado, onde um segurança, um polícia reformado de Buffalo, respondeu ao fogo, atingindo a armadura corporal do atirador. Gendron matou o guarda e continuou a disparar sobre clientes e funcionários do estabelecimento até se render às autoridades.
Numa conferência de imprensa no sábado à noite, a governadora do estado de Nova Iorque, Kathy Hochul – que nasceu em Buffalo – denunciou o ataque como um “acto de barbárie” e uma “execução de seres humanos inocentes”, alertando para o perigo do “terrorismo de supremacia branca”.
Por sua vez, o Presidente dos EUA, Joe Biden, expressou a sua solidariedade para com as famílias das vítimas, afirmando que “um crime de ódio racialmente motivado é abominável para o próprio tecido desta nação”.
“Qualquer acto de terrorismo doméstico, incluindo um acto perpetrado em nome de uma repugnante ideologia nacionalista branca, é contrário a tudo o que defendemos na América”, disse Biden. “O ódio não deve ter porto seguro.”
As 10 pessoas mortas em Buffalo representam o maior número de mortes num tiroteio em massa nos Estados Unidos em 2022, de acordo com o Gun Violence Archive. Antes, o maior número de mortos este ano, seis, resultara de um tiroteio no centro de Sacramento, na Califórnia, a 3 de Abril.