Terminou o primeiro ciclo do Vozes de Gaia, o jornal comunitário que vai ter edição impressa

Para assinalar o final do primeiro ciclo de formação em literacia mediática e meios tecnológicos, o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, visitou as instalações do Vozes de Gaia, em Pedroso. O jornal comunitário terá a sua primeira edição impressa publicada em breve, incluída numa edição do PÚBLICO.

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Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, visitou as instalações do Vozes de Gaia, em Pedroso. ADRIANO MIRANDA

Um projecto que “não era propriamente para criar jornalistas”, mas que “faz um pouco de tudo”, abarcando aspectos como as novas tecnologias, a escrita, a “reflexão” e a “organização das ideias” é como Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, descreve o Vozes de Gaia, programa de inovação social que conta com o PÚBLICO e com a Fundação INATEL como parceiros.

Esta quinta-feira, o autarca visitou as instalações onde habita o jornal comunitário composto por cidadãos com mais de 55 anos. Em Pedroso, estiveram também presentes Francisco Caneira Madelino, presidente da Fundação INATEL e David Pontes, director-adjunto em representação do PÚBLICO, naquele que se tornou um exercício jornalístico para os integrantes do jornal.

Dispostos pela sala como numa verdadeira redacção, os cidadãos tiveram oportunidade, depois de ouvirem os discursos dos representantes convidados e da apresentação da página oficial do projecto, de colocar as suas questões, em jeito de conferência de imprensa. As perguntas incidiram na continuidade da iniciativa além da data-limite anunciada, em Outubro de 2022, bem como na sua possível expansão para outros concelhos. Eduardo Vítor Rodrigues explicou que, verificada a adesão por parte do público e o sucesso do programa, seria “uma vontade colectiva” a sua continuação, referindo que a autarquia está apostada na sua divulgação.

Dar voz uma geração que quer ser activa

“Sinto que cheguei tipo tábua-rasa e que saio daqui com dúvidas, com curiosidades e com algumas ferramentas que me possibilitam fazer alguma investigação para as minhas actividades diárias”, afirma Aida Soares ao PÚBLICO quando questionada sobre os conhecimentos adquiridos no Vozes de Gaia. Reformada e com 63 anos, gosta “imenso” de rádio e de fotografia e admite ter descoberto, através da formação, novos recursos para investir nessas áreas, “até para pequenos trabalhos pessoais” que vai criando nos tempos livres.

Revela que o projecto a “agradou imediatamente”, já que as temáticas abordadas são do seu interesse, mas a que “nunca teve acesso”. Refere ter ganho também alguma capacidade para poder “pelo menos investigar se uma informação é absolutamente falsa ou não”, sendo que, agora que obteve algumas ferramentas, sente que “precisava de muitas mais”. A curiosidade desencadeada pelos três meses de contacto com produção jornalística, bem como as relações interpessoais que se começavam a formar no grupo, leva-a a desejar que o período de formação fosse mais longo.

Também Orlando Fernandes, de 72 anos, menciona a “camaradagem” que se foi formando entre participantes e que acaba por ser tão importante como a aprendizagem em si. “É quase como as Academias Sénior, ocupa as pessoas, dá-lhes ferramentas para terem uma vida activa”, refere o antigo chefe de secção de fábrica, actualmente reformado. Envolveu-se porque gosta de aprender e de ocupar os tempos livres, mas “sobretudo porque a informação também faz parte da fotografia que é aquilo que eu gosto mesmo”, afirma. Apesar disso, acredita que o Vozes de Gaia o “está a ajudar bastante”, especialmente no que toca à compreensão e domínio das novas tecnologias e plataformas digitais, de que já era utilizador.

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Os membros do jornal comunitário Vozes de Gaia são cidadãos com mais de 55 anos. ADRIANO MIRANDA

“Nós não queremos ser jornalistas, nós queremos ter conhecimento das notícias e do mundo digital”, começa por dizer Caria de Oliveira. Para o reformado da área da banca, de 61 anos, as redes sociais são algo “fantástico” uma vez que são capazes de “combater o isolamento e a exclusão social”. No entanto, é de notar as dificuldades inerentes a uma geração que “não nasceu com esse tipo de ferramentas”.

Tendo participado activamente através da escrita no jornal comunitário, Caria de Oliveira acredita que “este projecto-piloto pode ser uma referência a nível nacional”. Para além de promover a literacia mediática “e educação para os media, proporciona aos cidadãos sénior a possibilidade de “estarem activos, participarem, partilharem as suas experiências de vida”.

Ao longo dos três meses de módulo, os formadores Mário Barros, ex-jornalista do PÚBLICO, e Sara Costa e Sena, jornalista com um percurso mais relacionado com televisão e vídeo, no Porto Canal e no JN Direto, foram “explicando os bastidores das notícias e das notícias falsas” aos 25 participantes do Vozes de Gaia.

Em Setembro, quando o projecto reiniciar, pretendem “mais do que dobrar este número”, mantendo sempre as medidas de segurança impostas pela pandemia, diz Mário Barros. Apesar de o objectivo ser, a cada trimestre, ter “gente nova” a aprender mais sobre literacia mediática e tecnologias, o formador afirma que há já quem se tenha reinscrito no programa.

Os temas eram propostos em “total liberdade” por cada um dos membros do jornal comunitário, que se dedicaram às suas áreas de interesse dentro do jornalismo online, jornalismo impresso, rádio, fotografia e vídeo. “Nós provocamos as pessoas com algumas ideias, com algumas discussões”, explica Mário Barros, afirmando que a maior parte dos trabalhos já publicados no site da iniciativa são propostas dos participantes porque “só assim é que faz sentido que as pessoas potenciem a sua própria cidadania”.

Em breve, a primeira edição impressa do Vozes de Gaia estará disponível gratuitamente, inserida na edição em papel do PÚBLICO.

Texto editado por Ana Fernandes

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