Ex-Presidente da Bolívia diz ser uma “presa política” vítima da vingança de Morales
Jeanine Áñez está em prisão preventiva há três meses por conspirar para derrubar Evo Morales. Líder da oposição diz que apoia processo contra Añez.
O antigo chefe de Estado boliviano e candidato derrotado nas eleições presidenciais do ano passado, Carlos Mesa, diz que apoiará um processo de inquérito contra a ex-Presidente interina Jeanine Añez, que é acusada de conspiração para derrubar Evo Morales.
Mesa, principal líder da oposição de direita na Bolívia, disse que está disponível para apoiar na Assembleia Nacional a abertura de um processo legal contra Áñez por “violação dos direitos humanos ou por corrupção”, mas não com base na “falsa teoria do ‘golpe de Estado’”.
Áñez assumiu a presidência em Novembro de 2019, dias depois de Morales ter sido afastado por um ultimato das Forças Armadas. O Presidente deposto saiu do país e Añez, que era então uma das vice-presidentes do Senado, assumiu a chefia de Estado a título interino, numa sessão muito atribulada e sem quórum.
Manteve-se no cargo quase um ano, até à tomada de posse de Luis Arce, que venceu as eleições de Outubro pelo Movimento para o Socialismo (MAS) de Morales. Áñez está em prisão preventiva desde Março, e é acusada de sedição, conspiração e terrorismo, pelo seu papel no derrube de Morales e na consolidação do que os militantes do MAS dizem ter sido um “golpe de Estado”.
A ex-Presidente interina rejeita as acusações e diz-se vítima da perseguição do Governo. “O MAS decidiu que o seu troféu da vingança continua detida numa prisão e aqui estou, cumprindo anos e 90 dias como presa política”, afirmou Áñez através de uma carta que divulgou pelo Twitter.
A disponibilidade de Mesa para apoiar uma iniciativa parlamentar contra Áñez é significativa. O líder conservador foi vencido por Morales nas eleições de 2019 e foi a partir das suas denúncias de irregularidades no processo de contagem dos votos – que acabaram por revelar-se infundadas – que se criaram as condições que ditaram o afastamento do ex-Presidente.
Porém, Mesa continua a rejeitar a tese de que Morales tenha sido vítima de um golpe de Estado e insiste nas suas denúncias iniciais de fraude eleitoral. “O senhor Morales quer ser candidato à presidência em 2025 e quer chegar a esse momento sem o estigma do delito que cometeu”, afirmou Mesa numa entrevista ao jornal Los Tiempos. “Não há outra razão, ele está a tratar de minimizar a fraude, a tapar a fraude com a invenção vergonhosa de um suposto golpe de Estado”, acrescentou o ex-Presidente.
Mesa afirma que nunca promoveu qualquer acto que possa ser entendido como um golpe de Estado e que apenas apelou a uma “mobilização pacífica e democrática” nos dias que antecederam o afastamento de Morales do poder. “Terrorismo implica o uso de armas contra a ordem estabelecida”, diz.