Rússia detém advogado que defende fundação de Navalny

Prisão acontece um dia depois de uma audiência no caso contra a Fundação Anticorrupção, ao mesmo tempo que o próprio opositor surgiu em tribunal pela primeira vez desde a greve de fome, frágil mas desafiador.

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Ivan Pavlov falou aos jornalistas à saída do tribunal em Moscovo, na quinta-feira SERGEI ILNITSKY/EPA

As forças de segurança russas detiveram Ivan Pavlov, o advogado que está a defender a Fundação Anticorrupção de Alexei Navalny no processo em que o grupo é acusado de extremismo, disse esta sexta-feira um dos seus colegas. A detenção acontece um dia depois de o opositor russo ter aparecido em tribunal, numa videoconferência a partir da prisão, pela primeira vez desde a greve de fome de 24 dias que o deixou com 22 quilos a menos.

“Pavlov foi detido e estão a ser feitas buscas. O FSB [os serviços secretos russos] está a trabalhar”, disse Evgeny Smirnov, advogado da equipa de Pavlov, no Facebook.

O advogado agora detido é especialista em casos de traição e espionagem. Segundo Smirnov, está acusado de ter divulgado informação classificada relacionada com uma investigação que ainda decorre, um crime que pode implicar uma pena de três meses de cadeia.

Sediado em São Petersburgo, Pavlov foi detido num hotel de Moscovo, adianta a agência de notícias oficial TASS, citando uma fonte não identificada.

Pavlov esteve em tribunal na quinta-feira, numa audiência marcada para considerar o pedido da procuradoria de Moscovo para declarar a Fundação Anticorrupção uma organização extremista. A sessão decorreu à porta fechada, com as autoridades a considerarem que o caso envolve informação classificada, mas o advogado falou aos jornalistas no exterior do edifício do tribunal.

No mesmo dia, o mais próximo colaborador de Navalny, Leonid Volkov, confirmou que os seus aliados se preparam não só para suspender o trabalho da Fundação Anticorrupção como para desmantelar a sua rede de gabinetes de campanha – ambos poderão ser declarados “organizações extremistas” em Maio, o que permitirá às autoridades prender todos os funcionários, financiadores e simpatizantes ligados ao seu trabalho e condená-los a penas de até seis anos de prisão, em mais um embate do regime contra a dissidência.

Anteriormente, a Fundação já foi considerada “agente estrangeiro”, uma fórmula denunciada por grupos de direitos humanos como visando sabotar e dificultar o trabalho de organizações da sociedade civil e que permite ao Estado levar a cabo autorias e controlos regulares.

Conhecida pelas suas investigações sobre corrupção e a origem das fortunas de responsáveis próximos do Kremlin, a Fundação publicou em 2017 informações sobre o património do então primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, e mais recentemente divulgou uma investigação sobre a fortuna pessoal do Presidente Putin.

A pedido do procurador, a Fundação Anticorrupção já está impedida de aceder às suas contas, de organizar protestos e de publicar artigos em jornais.

Já Navalny foi ouvido num caso em que é acusado de difamar um veterano da Segunda Guerra Mundial, um processo distinto do que o levou à prisão: o principal opositor do Presidente Vladimir Putin foi detido a 17 de Janeiro e condenado a dois anos e oito meses de prisão por violações na liberdade condicional relativas a uma condenação anterior, que ele diz ter sido politicamente motivada.

A detenção aconteceu assim que pisou território russo, acabado de aterrar em Moscovo, de regresso de Berlim, onde passou meses a ser tratado e a recuperar depois ser envenenado com um agente de nervos da família do novichok, que só é produzido na Rússia.

Pela primeira vez em público depois de entrar em greve de fome para exigir cuidados médicos adequados, um protesto que Navanly terminou na sexta-feira, dia 23 de Abril, quando médicos civis o avisaram que poderia morrer a qualquer momento, Navalny surgiu fisicamente frágil mas com o seu habitual tom desafiador. Defendendo-se das acusações, atacou ainda Putin, chamando-lhe “rei ladrão nu”, e o seu Governo, acusando-o de querer transformar os russos em “escravos”.

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